terça-feira, 19 de agosto de 2014

Identificação da demência na rede primária: necessidade de uma Cultura do Cuidado

O número de pessoas com demência está cada vez mais aumentando no mundo, especialmente nos países em desenvolvimento, onde o envelhecimento populacional está acelerado.  Segundo a Dra. Cleusa Ferri, professora afiliada na Universidade Federal de São Paulo e pesquisadora epidemiologista no hospital Alemão Oswaldo Cruz de São Paulo, “estimamos que existam hoje no Brasil  mais de 1 milhão de pessoas com demência e projetamos que para 2050 existirão mais de 5 milhões”.   Palestrante no Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE) no dia 15 de agosto, a Dra. Ferri centrou-se na questão da identificação da demência na rede de atendimento primário. 

A demência é a principal causa de incapacidade e de dependência na população idosa. Embora ainda não haja cura, a detecção precoce permite o início de cuidados que ajudam a preservar a capacidade funcional e a qualidade de vida, tanto para a pessoa com demência quanto para  o cuidador familiar.  No entanto, “em países ricos apenas ¼ a ½ dos casos são reconhecidos na rede primária. Em países pobres – como no Brasil – a situação é ainda mais séria”.   Entre os principais motivos, a Dra. Ferri destacou o estigma da demência, as falsas crenças de que a perda de memória é normal na velhice e que nada pode ser feito. Além disso, os profissionais da saúde não estão preparados para a identificação e os cuidados iniciais.

Para melhorar a identificação da demência e a intervenção na rede primária, a Dra. Ferri descreveu um programa de pesquisa que será iniciado em breve, com parceiros, incluindo o Dr. Jerson Laks, consultor do CEPE e coordenador do Centro para Pessoas com Doença de Alzheimer e outros transtornos mentais na velhice na UFRJ. A pesquisa tem componentes epidemiológicos e experimentais de treinamento dos profissionais e dos cuidadores.  Os pesquisadores contam com a colaboração da rede primária, tanto no Rio quanto em São Paulo para realizar esta pesquisa importante e ambiciosa.

Elaboração: Louise Plouffe
Edição: Silvia Costa

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Cuidados paliativos - uma cultura de cuidado ao fim da vida


Conhecimento técnico e competência humanitária se fundem como elementos essenciais para a percepção do “limite da vida”, dizem as autoras. O conceito de cuidados paliativos – evolução e base etimológica, surgimento e trajetória da prática, pertinência e extensão da aplicação-, integra artigo de Claudia Burlá e Ligia Py publicado na revista Cadernos de Saúde Pública (Cad. Saúde Pública vol.30 no.6 Rio de Janeiro June 2014).

A discussão perpassa o exercício das profissões da Saúde baseadas em alta biotecnologia, quando a suavização da angústia e da dor evoca toda a humanidade contida em cada um que se confronta com o fim da vida. O alívio do sofrimento provém de uma prática integrada por saberes, ética e sensibilidade, por que: “um olhar apressado não captura a dimensão do Cuidado Paliativo”.
 
Em época de grande valorização das tecnologias e seus aparatos, o que pode ser realmente revolucionário é a intervenção interdisciplinar no atendimento a pessoas que estão morrendo. O artigo afirma que “a morte é parte do processo natural da biografia e não um inimigo a ser enfrentado”.
 
Em consonância com uma cultura do cuidado  indicativa de práticas constituídas por "conforto e presença solidária enquanto a pessoa estiver viva", as reflexões do artigo se coadunam com as políticas do envelhecimento ativo, na perspectiva do cuidado ao longo do curso de vida, especialmente, ao considerar os cuidados paliativos como um processo contínuo, multidimensional - incluindo aspectos psicossociais e espirituais, relacionado também a quem cuida e à escuta da pessoa em sua última etapa de vida.

domingo, 17 de agosto de 2014

Aula inaugural na Universidade de Campinas

O Programa de Pós-Graduação em Gerontologia ajudou a lotar o auditório da Aula Inaugural da Pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade de Campinas (Unicamp), realizada no dia 13 de agosto. Cerca de 200 pessoas, entre alunos e professores, assistiram à aula de Alexandre Kalache, médico e gerontólogo, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil.

Convidado pela coordenadora do Programa de Gerontologia, Dra. Anita Liberalesso Neri, que o apresentou juntamente com a Coordenadora da Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Dra. Rosana Onocko Campos , Kalache falou sobre envelhecimento e longevidade.

Segundo Anita Neri, a motivação para o convite foi, entre outras, a abordagem “científica, politica e existencial-humanista” com que Kalache discorre sobre o tema. Além disso, prosseguiu a Profa. Anita Neri, haveria estudantes de um curso de mestrado e doutorado em gerontologia; interesse de varias outras áreas da medicina pelo tema; a importância de vê-lo tratado por um expert e líder mundial no campo do envelhecimento; e, especialmente, o carisma e a generosidade do conferencista.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Tomar café e falar da morte

A rejeição à ideia da morte tem seu contrário: pessoas se juntam para falar da morte. O encontro acontece em um café de Londres, promovido pelo Death Cafe, uma organização sem fins lucrativos que diz ter a missão de “aumentar a consciência da morte a fim de ajudar as pessoas a viverem melhor”.
Em reportagem da jornalista brasileira radicada em Londres, Beatriz Portugal, o motor para falar sobre a morte é a diversidade de temas relacionados à finitude. Fala-se de tudo, desde o declínio do corpo, passando por vida após a morte, até providências a serem tomadas, como testamentos e opção por sepultamento ou cremação, diz a matéria intitulada “Esse café é de morte”, publicada no número de agosto da revista Piauí.
 
Os participantes do Café da Morte são pessoas que querem abordar o assunto, não estão de luto, nem doentes ou obcecadas pela morte. Comem petiscos enquanto conversam, sem roteiro ou protocolo. Segundo a matéria, o organizador coloca como única regra o respeito às opiniões e crenças e que o encontro não é uma sessão de terapia. Em geral são cerca de 30 participantes de meia-idade que formam um “movimento” aberto a quem desejar aderir.
 
Se para alguns o assunto “morte” é tabu, para outros é estímulo para encontros, trocas de ideias e liberdade de escolha.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Fórum Finitude em Questão sobre a Bela Velhice

Vidas chegam ao fim, em qualquer idade, por diversas causas. O fato de se chegar à velhice associa essa etapa da vida à finitude e à perspectiva considerada distante por muitos de nós – com exceção dos estudiosos do tema.
 
A quarta edição do Fórum Finitude em Questão, com o título "Finitude, Bela Velhice, os Projetos da Medicina Antiaging", foi realizado no dia 13 de agosto, para discutir a velhice como expansão da expectativa de vida - uma bela velhice, caso seja olhada por esse prisma.
 
O Fórum foi realizado de 10h às 12h, no auditório do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento – CEPE, aberto ao público. As condutoras do debate foram Mirian Goldenberg, antropóloga, professora da UFRJ, colunista do jornal Folha de São Paulo (primeira à esquerda); Fernanda Rougemont, doutoranda em sociologia  e antropologia na UFRJ (à direita) e Thelma Rezende, diretora do CEPE (no centro).
 
Após exposição de Fernanda Rougemont sobre sua pesquisa centrada em Medicina Antiaging, Mirian destacou vários pontos da proposta “Bela Velhice”, transformada em livro. Entre suas recomendações para uma velhice bela, Mirian enfatiza a extrema necessidade de que se tenha um projeto de vida. Outras indicações foram ter tempo para si e mais foco em si mesmo; planejar quem vai prestar o cuidado quando necessário; o grande valor da amizade nessa fase; simplificar a vida de forma geral e a vida doméstica em particular; reorganizar os relacionamentos para evitar tudo que seja prejudicial e humor com muito riso.
 
Por fim, pontuou a preocupação que temos em classificar as pessoas pela idade, como se percebe em falas como “você não parece a idade que tem”, “aos sessenta anos tenho cabeça de 20”, entre outros comentários dos participantes da pesquisa que gerou o livro A Bela Velhice. E ressaltou a expressão da língua inglesa, ageless, que não carrega a preocupação com a idade e nos torna inclassificáveis quanto à idade.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Fórum Mundial de Demografia e Envelhecimento (WDA-Forum) mostra como desenvolver uma cultura do cuidado para demências

"Viver com demência é como escalar uma subida íngreme até o topo. No entanto, a adoção de uma estratégia para lidar com a demência com sucesso pode fazer a viagem menos árdua". Para ajudar a aliviar a viagem para o crescente número de suíços mais velhos - e seus cuidadores - que vivem com demência, 16 especialistas do Fórum Mundial de Demografia e Envelhecimento (WDA Forum – World Demographic & Ageing Forum) publicaram suas recomendações sobre a melhor forma de implementar o projeto “Estratégia Nacional para a Dementia 2014-2017” (WDA Forum St Gallen.  Switzerland and its National Dementia Strategy 2014-2017). Os especialistas definiram como objetivos da Estratégia: combater o caráter estigmatizante da demência, promover a solidariedade social e mobilizar uma rede de atendimento multidisciplinar coordenada.
 
Entretanto, o sucesso da estratégia requer recursos suficientes e consistentes, além do alcance de equilíbrio entre as intervenções e as iniciativas dos diversos envolvidos - setor privado, governo, indivíduos e comunidades. Como integrar todos no desenvolvimento de uma cultura de cuidado que suporte a estratégia de governo? O Fórum Mundial de Demografia e Envelhecimento sugere, por exemplo, que os empregadores ofereçam "férias demência" para ajudar os funcionários que são cuidadores, que as pessoas doem horas de serviço voluntário através de "bancos de horas" e que as comunidades apóiem iniciativas locais intergeracionais "amigáveis à demência".
 
Elaboração Louise Plouffe
Tradução e edição Silvia Costa

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Os Conselhos de Participação Social nos representam!

O fortalecimento dos Conselhos Municipais dos Direitos dos Idosos vai beneficiar a todos os brasileiros, por que até os jovens já estão em processo de envelhecimento.
 
 
O Guia resulta de uma iniciativa conjunta de Prattein Consultoria em Desenvolvimento Social e Interage Consultoria em Gerontologia, viabilizada pelo Banco Santander, para orientar os municípios apoiados pelo seu Programa Parceiro do Idoso. A publicação se baseia em iniciativa voltada a outro grupo populacional: “Conhecer para Transformar – Guia para Diagnóstico e Formulação da Política Municipal de Proteção Integral das Crianças e Adolescentes”.
 
Para Laura Machado, psicóloga e gerontóloga, da Interage, “Este guia, portanto, é uma ferramenta para a implementação de políticas públicas para os idosos visando a garantia de seus Direitos previstos no Estatuto do Idoso e consequentemente para a melhoria da qualidade de vida dos idosos, além de ser um instrumento importante para o fortalecimento dos Conselhos Municipais dos Direitos dos Idosos.”

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Começa a série de eventos “Cinema no Cepe”

O título do filme “Antes de partir” indica um movimento de ir embora. Para onde? No caso do filme, partir para a morte. Com direção de Rob Reiner, o filme norteamericano (no original The Bucket List), produzido em 2007, é estrelado pelos atores Jack Nicholson e Morgan Freeman.

A série Cinema no Cepe é uma iniciativa do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento, vinculado ao Instituto Vital Brazil, com curadoria da psicóloga Dulcineia Monteiro – analista Junguiana, membro do Conselho Consultivo de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Gerontologia e autora de diversos livros, entre eles, Espiritualidade e Finitude - Aspectos Psicológicos.

Foto: Thelma Rezende, diretora do Cepe (à esquerda), com Dulcineia Monteiro.

Obra de abertura da série, o filme Antes de partir foi exibido no dia 4 de agosto, às 18h, seguido de discussão pela curadora e pelo público participante. Os quatro encontros da série ocorrerão sempre na primeira segunda-feira do mês.

Segundo Dulcineia, a história dos dois personagens após receberem a notícia de que têm pouco tempo de vida retrata nossa “dificuldade de lidar com a finitude e a morte”. A trajetória de cada personagem até aquele momento carregava as marcas do estilo de vida definido por eles e pelas circunstâncias. “Um deles, Carter (personagem de Morgan Freeman), teve seus planos modificados na juventude pela gravidez inesperada da namorada, levando-o a tornar-se um homem com família, sem possibilidade de estudos de nível superior e dedicado ao trabalho”. O outro, Edward (interpretado por Jack Nicholson), vivenciou casamentos rápidos, não se relacionou com a filha, progrediu nos negócios e enriqueceu.

Diante da notícia da morte próxima, para Dulcineia, os dois ressignificam suas vidas, assim transmitindo ao público expectador uma mensagem sobre os aspectos positivos da vida, que também devem estar presentes na velhice. “A alegria e a amizade são elementos altamente recomendados pelo filme”, pontuou Thelma Rezende, diretora do Cepe.

No filme, o período de doença e prognóstico se passa no ambiente hospitalar, sempre um espaço fechado e monocolor. Quando os dois personagens saem para a “vida”, as cenas são abertas, cheias de paisagens, muitas pessoas e cores. Os personagens se abrem para a vida.