terça-feira, 20 de maio de 2014

Envelhecimento e a Revolução da Logevidade no Canadá

Estamos vivendo mais tempo e mais saudáveis? Foi a pergunta do palestrante, Yongjie Yon, pesquisador canadense, que chegou ao Rio de Janeiro para uma visita técnica ao ILC-BR. Yongjie Yon falou sobre o processo de envelhecimento no Canadá - mais antigo e mais lento do que o do Brasil -, apresentando o trabalho “O Canadá está preparado para a Revolução da Logevidade?”, no seminário de 16 de maio, promovido pelo ILC-BR e pelo Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE) sobre os desafios da sociedade canadense diante da revolução da longevidade.
 
Expert em envelhecimento, o psicólogo Yongjie Yon cursa doutorado na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Em seu mestrado em Gerontologia, no Canadá, a pesquisa sobre abuso do idoso consolidou sua trajetória no campo do envelhecimento e o levou a publicar nos principais periódicos acadêmicos sobre temas relacionados a discriminação por idade, maus-tratos, relações intergeracionais e migração de idosos. A experiência profissional de Yongjie Yon nos setores público e privado sobre questões sociais e econômicas dos idosos no Canadá e no exterior vem se configurando como uma luta pelo avanço dos direitos dos idosos.
 
O seminário teve mediação de Alexandre Kalache, médico e gerontólogo, presidente do ILC-BR, e debate com Louise Plouffe - coordenadora de pesquisa do ILC-BR, e Márcia Tavares - pesquisadora da COPPE/UFRJ na temática do envelhecimento ativo.


A partir da esquerda: Alexandre Kalache, Yongjie Yon, Louise Plouffe e Marcia Tavares.
 
Destaques do envelhecimento no Canadá
 
Yongjie Yon estabeleceu paralelos entre os dados demográficos dos dois países, mostrando que, “enquanto em 2011 a quantidade de idosos no Brasil correspondia à metade da população idosa no Canadá, em quarenta anos a situação muda: no ano de 2051, o Brasil terá mais idosos do que o Canadá”.
 
Importante relevo da apresentação de Yongjie indicou a divisão de responsabilidades entre os diferentes níveis de governo, do municipal ao federal, ancorada em um sistema público-privado, baseado em programas de seguridade de caráter universal e em planos de pensões de abrangência geral, com exceção do estado de Quebec onde há um plano específico. No âmbito do sistema privado, há opções de aposentadoria relacionada ao trabalho e iniciativas particulares. As organizações não governamentais provêm serviços para a terceira idade e se engajam na defesa dos direitos dos idosos e em iniciativas educacionais.
 
Para o pesquisador Yongjie Yon , “a grande preocupação do governo canadense é assegurar que os idosos desfrutem de qualidade de vida à medida que envelhecem e fornecer suporte à renda através de uma combinação de programas de governo e incentivos para a poupança privada.” Assim, o sistema de aposentadoria do Canadá é projetado para cumprir dois objetivos diferentes, inter-relacionados: reduzir a incidência de baixa renda na velhice e permitir que os idosos mantenham um adequado padrão de vida na velhice.
 
Também realçado por Yongjie Yon o empenho do governo canadense em proporcionar bem estar por meio de estímulos a iniciativas como o financiamento de projetos voltados às comunidades, que permitam que os idosos participem ativamente da vida comunitária. “O orçamento nessa área é de 92 milhões de Reais por ano”, informou Yongjie.
 
O apoio ao voluntariado se constitui como elemento indispensável à população idosa, no que tange à atividade voluntária do idoso, assim como das outras gerações. Em muitos casos, o voluntário idoso se torna mentor dos demais. A relevância do voluntariado também aparece na prática de reembolso das despesas que o voluntário tenha feito de seu próprio bolso e de combate ao preconceito por idade.
 
Yongjie Yon salientou que o “Canadá está fortemente comprometido com a iniciativa ‘Comunidades Amigas do Idoso’, desenvolvida em 400 comunidades, de oito estados, incluindo áreas rurais e remotas”. Do mesmo modo, o governo canadense investe em projetos de “moradia acessível”, para mais de 200 mil idosos de renda baixa e média.
 
Ao finalizar, Yongjie Yon deixou como mensagem que “o idoso de hoje é diferente do idoso de amanhã, em uma sociedade em processo de envelhecimento que ultrapassa o aumento da quantidade de idosos, uma sociedade que também oferece oportunidades”.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) elege novos diretores

A consolidação da Gerontologia como campo de práticas e pesquisa cresce com o aumento da população idosa e com as contribuições de profissionais tenazes e dedicados como Maria Angélica Santos Sanchez, parceira fundamental do ILC-BR em iniciativas em prol do envelhecimento ativo e da cultura do cuidado.
 
Eleita “Presidente Departamento de Gerontologia” da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) para o biênio 2014-16, Angélica tem agora a oportunidade de estender a todo o Brasil a força das ações que já desenvolvia no estado do Rio de Janeiro como presidente do departamento de gerontologia dessa seccional.


A nova diretoria executiva da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) foi eleita na Assembleia Geral Ordinária (AGO) e anunciada em 1º de maio, durante o Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia (CBGG), em Belém do Pará.
 
Na foto, a atual presidente, Nezilour Lobato Rodrigues - do Pará, e o presidente eleito, João Bastos Freire Neto - do Ceará.
 
 
Composição da nova diretoria, para exercício a partir de 1º de julho:

Presidente: João Bastos Freire Neto (CE)
Vice-Presidente: Maria Alice de Vilhena Toledo (DF)
Secretário-Geral: Verônica Hagemeyer (RJ)
Tesoureiro: Raquel Pessoa de Carvalho (CE)
Diretor Científico: Toshio Chiba (SP)
Diretor de Defesa Profissional e Ética: Nezilour Lobato Rodrigues (PA)
Conselho Consultivo: Jacira do Nascimento Serra (MA); Rubens Fraga Junior (PR)
Presidente Departamento de Gerontologia: Maria Angélica Santos Sanchez (RJ)
Secretária Adjunta: Tulia Fernanda Meira Garcia (CE)
Conselho Consultivo: Naira de Fátima Dutra Lemos (SP)
 
Os novos diretores definiram como bases de sua atuação: capacitação, educação continuada, aperfeiçoamento e fortalecimento da especialidade no Brasil.

Visão bíblica e teológica sobre a finitude

Se o processo de morrer é matéria da Teologia ou da Medicina – não era o objetivo do debate no Fórum “Finitude em Questão”, realizado pelo Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe) em parceria com a PUC-Rio. Ao abrir o evento, a diretora do Cepe, médica e pesquisadora Thelma Rezende afirmou que a série de seminários sobre a finitude “tem o propósito de promover a reflexão sobre a existência e o sentido da vida”. Thelma destacou a importante parceria deste Fórum com a PUC-Rio, na pessoa do filósofo, professor Edgar Lyra, que foi o convidado do primeiro seminário da série.
 
Os convidados da edição de 12 de maio, segundo seminário da série, foram o Padre Leonardo Agostini Fernandes, diretor do Departamento de Teologia da PUC-Rio e professor de Sagradas Escrituras; e o teólogo César Augusto Kuzma, professor de Teologia Sistemático-Pastoral, também do Departamento de Teologia da PUC-Rio.
 
A apresentação do Padre Leonardo teve como ponto de partida o imaginário que relaciona a morte à escuridão, a figuras monstruosas, a aspectos temíveis, ao mesmo tempo em que mostra uma luz ao final do caminho. Quanto à fé, expressou que “pensar que não se sabe se há vida após a morte, já implica a crença de que pode haver algo”. Assim, conclui que “a morte é um mistério que permite pensar além dela”.
 
Para o teólogo César Kuzma, os significados da morte estão associados ao rompimento, caminho sem volta, a questionamentos. Enquanto que “a dimensão da fé permite ‘ver’ a ressurreição”. César Kuzma leu o texto de sua autoria, “Morte e ressurreição – o limite humano na grandiosidade de Deus”, um testemunho de sua fé e referências teológicas. Assim como havia feito o Padre Leonardo, César Kuzma contou sua experiência diante da morte de sua mãe, por ele presenciada.
 
Os dois convidados falaram sobre possíveis atitudes dos profissionais de saúde quando confrontados com a finitude. César Kuzma vê o amor como elemento central, independente da crença religiosa. Padre Leonardo acredita no amor como expressão – e não como sentimento, que seria fugaz – e como comportamento, por manifestar-se nas ações.

Geriatria e Gerontologia para uma nova geração de idosos

Se os desafios do envelhecimento estão colocados e a sociedade deve se preparar para enfrentá-los, uma instituição científica vislumbra uma nova geração de pessoas idosas, plenas de especificidades inerentes ao seu tempo. Uma geração diversa, caracterizada ao mesmo tempo pelo envelhecimento ativo e por uma parcela de idosos dependentes. Esse foi o espírito do Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia promovido pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) de 29 de abril a 4 de maio, em Belém do Pará, com cerca de 3.000 participantes de todo o país.
 
Informações diárias sobre o Congresso foram disponibilizadas no perfil institucional do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) no Facebook e também no Twitter.

O ILC-BR participou do Congresso com apresentações de seu presidente, médico e gerontólogo Alexandre Kalache; de sua coordenadora de pesquisa, a pesquisadora canadense Louise Plouffe; e de sua coordenadora de projetos, a pesquisadora e gerontóloga Ina Voelcker.
 
Na solenidade de abertura, Alexandre Kalache entregou, em nome da Bradesco Seguros, o “Prêmio Pesquisa em Longevidade Bradesco Seguros” à presidente da SBGG Nezilour Lobato Rodrigues, como reconhecimento do conjunto das contribuições da SBGG à pesquisa e ao avanço do conhecimento. Ao receber o Prêmio, a Presidente da SBGG destacou que a nova geração de idosos, tema do congresso, “não é uma questão apenas da SBGG, mas de toda a sociedade”. E citou Kalache, dizendo que “a cultura do cuidado é uma resposta à Revolução da Longevidade”. Nezilour Lobato Rodrigues é geriatra, participante ativa dos rumos da SBGG em seu estado natal - o Pará - e no país.
 
Olhares sobre as políticas
 
A Mesa Redonda “Envelhecimento e Políticas Públicas internacionais e nacionais” teve participação do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), com apresentações de seu presidente, Alexandre Kalache (Novas tendências, novas perspectivas) e da coordenadora de projetos Ina Voelcker - com o trabalho “Envelhecimento e desenvolvimento no nível internacional”, elaborado a partir de artigo publicado neste blog, intitulado “A relações de envelhecimento e desenvolvimento, por Ina Voelcker”. Também nessa mesa, a psicóloga e gerontóloga Laura Mello Machado, expôs o “Avanço nas políticas públicas e o fortalecimento dos Conselhos Municipais na defesa dos Direitos dos Idosos”. Gerontólogos parceiros de lutas pelos direitos das pessoas idosas, companheiros em muitas conferências e eventos, Laura Machado e Alexandre Kalache festejaram o encontro na mesma mesa. O Coordenador do debate foi Marco Polo Dias Freitas, médico do Hospital da Universidade de Brasília e preceptor do Programa de Residência Médica em Geriatria.
Laura Machado e Alexandre Kalache após participação em Mesa Redonda
 
Enfoque “Amigo do Idoso” no mundo
 
No dia 2 de maio, a iniciativa “Cidades amigas do idoso” tomou conta do Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, ao ser analisada nos aspectos global, nacional (no Canadá) e específico relativo a algumas unidades brasileiras onde a iniciativa foi implantada.
 
Um simpósio sobre a iniciativa reuniu profissionais do ILC-BR, organização de referência no enfoque “amigo do idoso” por agregar os três experts responsáveis por sua concepção e disseminação: o presidente do ILC-BR, médico e gerontólogo Alexandre Kalache; a pesquisadora canadense, coordenadora de pesquisa do ILC-BR, Louise Plouffe; e a pesquisadora e coordenadora de projetos, Ina Voelcker. O enfoque “amigo do idoso” foi desenvolvido quando trabalhavam na Organização Mundial da Saúde (OMS) e publicado no “Guia Global das Cidades Amigas do Idoso”, em 2007.
 
Intitulado “Comunidades amigas do idoso: origem, expansão global e aplicação ao contexto brasileiro”, o simpósio teve apresentação de Alexandre Kalache sobre “A iniciativa Cidades Amigas do Idoso da OMS” - sua origem e conceito, além das principais características amigáveis ao idoso, identificadas através de uma pesquisa qualitativa sob orientação do Vancouver Protocol. Kalache é considerado o "pai da iniciativa da OMS", já implantada em mais de mil localidades no mundo.
 
O relato de Louise Plouffe, “Como a iniciativa se expandiu pelo mundo e como ela foi implementada no Canadá”, revelou o trajeto do enfoque “amigo do idoso” e, principalmente, sua forte expansão em seu país, as grandes linhas de desenvolvimento de comunidades amigas do idoso, os fatores de sucesso e exemplos práticos. Louise é considerada a "mãe da iniciativa da OMS".
 
“A aplicação da iniciativa amiga do idoso ao contexto brasileiro”, tema de Ina Voelcker, teve uma análise das iniciativas brasileiras que utilizaram os conceitos básicos da iniciativa da OMS. Foi apresentado um modelo desenvolvido pelos profissionais do ILC-BR para ampliar o protagonismo do idoso no desenvolvimento de políticas públicas amigas do idoso no Brasil. O instrumento da pesquisa qualitativa usado mundialmente, o Protocolo de Vancouver, foi adaptado este ano para o contexto brasileiro, assumido como “Protocolo do Rio”. Ina é tida como "filha da iniciativa da OMS".
 
Simpósio do presidente
 

Um momento de destaque no Congresso, o Simpósio do Presidente foi conduzido por Nezilour Lobato Rodrigues, presidente da SBGG, que os introduziu como “dois ícones na área do envelhecimento populacional”. O tema “Uma Cultura do Cuidado face à Revolução da Longevidade”, foi debatido por Alexandre Kalache e Ligia Py, psicóloga, gerontóloga, doutora em Psicologia atuante como Professora Colaboradora em instituições de ensino e de pesquisa em saúde e membro de conselhos sobre Cuidados Paliativos e Terminalidade da Vida.
 
 
Parceiro do ILC-BR fala no Congresso
 
No primeiro dia do Congresso, Helio Furtado, pesquisador da Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (SESQV), parceiro do ILC-BR em vários projetos, falou sobre a importância do exercício físico em todas as fases da vida como fator determinante do envelhecimento ativo. Em sua exposição apresentou os projetos da SESQV, que incluem a Academia da Terceira Idade, instalada em espaços públicos para uso gratuito pela população idosa, com orientação profissional. Segundo Furtado, outro projeto de destaque, o QualiVida, “foi iniciado em 1998 e conta com 100 núcleos no município do Rio de Janeiro”.
 
Recomendação de currículo mínimo voltado a cursos para cuidadores
 
A proposta de regulamentar a profissão de cuidador é antiga e se reforça em tempos de demandas crescentes de cuidado. O papel cada vez mais fundamental do cuidador de idosos é reflexo dos modos de vida, de uma nova família e estrutura social. Sua atividade pode melhorar a qualidade do cotidiano da pessoa idosa e tranquilizar familiares. No Congresso, a SBGG reuniu estudiosos do assunto, para elaborar uma proposta de currículo mínimo para cursos de cuidadores.
 
As condutoras do debate, as gerontólogas e pesquisadoras Yeda Aparecida de Oliveira Duarte, Marilia Berzins e Maria Angélica Sanchez, lideram o grupo que vem discutindo a questão e considera “chegado o momento de pensar em normatizações para o desempenho da função, tendo a formação como aspecto central”.
 
Estudos anteriores fundamentam a discussão que visa sugerir um currículo mínimo no âmbito da SBGG para orientação das iniciativas de formação de cuidadores de idosos. Segundo Angélica Sanchez, “um currículo mínimo é uma referência”. O debate também se baseia nas oficinas realizadas no 8° Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia (GERP.13) em setembro de 2013 e no VII Congresso de Geriatria e Gerontologia do Rio de Janeiro (GeriatRio) em outubro de 2013. Do consenso obtido nas duas oficinas foram extraídos os itens a serem discutidos no Congresso da SBGG e recomendados como currículo mínimo em termos de carga horária e programa.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

As relações de envelhecimento e desenvolvimento, por Ina Voelcker

Os acontecimentos mais recentes na área de políticas públicas internacionais para o envelhecimento populacional formam um panorama do desenvolvimento socioeconômico objeto de estudo da jovem alemã Ina Voelcker, pesquisadora e coordenadora de projetos do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR).

Quando veio para o ILC-BR, a gerontóloga Ina Voelcker já havia integrado a equipe de elaboração do Guia Global das Cidades Amigas do Idoso, da Organização Mundial da Saúde, disponível globalmente desde 2007. Foi pesquisadora da HelpAge International, organização onde participou da produção do relatório global "Envelhecimento no Século XXI: Celebração e Desafio", publicado pela UNFPA e pela HelpAge, em outubro de 2012. Ainda na HelpAge, fez parte do grupo que preparou o Global AgeWatch Index. Ina tem mestrado em Políticas Públicas e Envelhecimento pelo King’s College London.

O ponto de partida de seu trabalho é o Plano Internacional de Madri e sua revisão periodica, que enfatizam a necessidade de se realizar uma convenção internacional dos direitos humanos da pessoa idosa. Outro ponto ressaltado é a mais recente discussão sobre a nova agenda de desenvolvimento que substituirá os Objetivos do Milênio.

Envelhecimento e desenvolvimento no nível internacional
De Ina Voelcker

Quando elaborei este trabalho pensei bastante se ainda é interessante para pessoas que trabalham na área do envelhecimento populacional ouvir falar sobre a maior referência internacional, o Plano Internacional de Madri e o que aconteceu no nível internacional nos anos seguintes. Acho que a maioria das pessoas já sabe disso e talvez o que seja menos conhecido é o que está sendo discutido desde 2012, ano da segunda revisão do Plano de Madri. Por isso gostaria de dar mais destaque a duas agendas importantíssimas na área de políticas públicas do envelhecimento: a agenda dos direitos humanos e a agenda pós-2015.

Para entender os acontecimentos mais recentes é importante saber que aconteceu, em 2002, a 2a Assembleia Mundial do Envelhecimento em Madri, que gerou um novo plano de ação, o Plano Internacional de Madri. Esse é o atual documento de referência. m 2002, a 2a Assembleia Mundial do Envelhecimento em Madri, que gerou um novo plano de ação, o Plano Internacional de Madri. Esse é o atual documento de referência. O Plano Internacional de Madri foi criado como um documento abrangente, baseado em direitos, e relevante para políticas, que marca um ponto de virada na forma como o mundo aborda o desafio do envelhecimento populacional com o objetivo de "construir uma sociedade para todas as idades". Ele foi adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas e tem três orientações prioritárias: pessoas idosas e desenvolvimento, promoção da saúde e bem-estar na velhice, e criação de ambientes propícios e favoráveis.

O Plano é avaliado periodicamente, a cada 5 anos. A segunda avaliação foi conduzida em 2012. Os governos prepararam relatórios de progresso para a segunda avaliação na Assembleia das Nações Unidas. Ao mesmo tempo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e a HelpAge International se juntaram para conduzir uma avaliação paralela. O objetivo era saber o que aconteceu em termos de políticas públicas para pessoas idosas a partir de 2002. A pesquisa foi constituída por dois passos: o levantamento das ações governamentais desde 2002 e uma pesquisa qualitativa com pessoas idosas. Os resultados destas pesquisas foram publicadas no relatório da HelpAge e UNFPA que foi lançado em 2012.

Vozes das pessoas idosas

Ciente de que nenhuma revisão de políticas pode ser considerada exaustiva sem incluir a opinião das pessoas que mais sentem as mudanças das políticas na vida cotidiana, neste caso as pessoas idosas, a HelpAge embarcou nesta pesquisa em 2011. A HelpAge é uma organização não governamental internacional que atua com mais de cem organizações da sociedade civil em 72 países.

Com a contribuição de muitas destas organizações da sociedade civil, a HelpAge, e apoio do Fundo de População das Nações Unidas, coletou as vozes de mais de mil e trezentas pessoas idosas de trinta e seis países. O Brasil também participou da pesquisa, aqui coordenada pela gerontóloga Laura Machado. As opiniões destas pessoas idosas foram coletadas através de discussões em grupos, questionários sociodemográficos e entrevistas individuais. Nos grupos focais foi explorado se, e como, as vidas deles mudaram desde 2002 e se elas notaram algumas melhoras. Os resultados resumidos são estudados segundo quatro áreas: participação, proteção, saúde e ambientes.

Os participantes avaliaram como essencial votar em eleições para a sua participação política. Eles também reconheciam o crescente poder político dos idosos enquanto os números de idosos aumentam. E acham que muitas mudanças recentes são resultado deste crescente poder político de idosos. As pessoas idosas ouvidas acharam importante a reciprocidade entre famílias e comunidades e a maioria delas faz algum tipo de trabalho. Falando sobre cuidado, eles avaliam importante ambos: cuidar e ser cuidado. Porém, sentem falta de mais apoio para poderem cuidar e ser cuidados.

Talvez pelo fato de muitos deles serem membros de grupos ou clubes, os idosos mostraram muito entusiasmo em trabalhar através destas organizações. Também falaram da crescente participação na tomada de decisões locais e nos resultados que este trabalho deu para a comunidade, como por exemplo, ilustrado na fala de uma pessoa da Sérvia.

O acesso a emprego foi identificado como problema sério quando falaram sobre renda. Os idosos mencionaram a discriminação por idade, as altas taxas de desemprego, os problemas de saúde e a falta de qualificação, além das condições precárias de trabalho, como causas para a dificuldade de acessar emprego.

A proteção social, como as pensões não contributivas, foi citada como a melhora chave desde 2002. Os participantes falaram sobre o impacto das pensões que diminuíram a vulnerabilidade deles e tiveram benefícios para a família inteira e a comunidade próxima.

Algumas pessoas falaram sobre problemas com o acesso a esse tipo de benefício. O obstáculo pode ser gerado, por exemplo, quando alguém tem bens - como uma televisão - ou quando recebe apoio de filhos que trabalham no exterior ou, ainda, por não ser capaz de ir até o ponto de coleta da pensão.

Os participantes relataram como outra melhoria nos últimos 10 anos os serviços de saúde. Porém, enquanto houve melhora nos serviços em geral, as pessoas não sentiram avanços em termos de atendimento específico ao idoso. Também falaram do alto custo de serviços, de remédios e dos problemas com o acesso. Algumas pessoas deram exemplos de atitudes discriminatórias por parte de profissionais de saúde. Eles falaram de casos em que doenças tratáveis foram chamadas intratáveis – "doenças da velhice contra as quais não se pode fazer nada".

No que tange ao ambiente físico, o transporte público foi identificado como o maior problema. Mais frequentemente mencionaram a falta de segurança, o acesso difícil a ônibus, o estado das ruas e o custo do serviço. Esse problema que não é novidade para quem é do Brasil: os motoristas em vários lugares não param no ponto quando há um idoso no ponto.

Ainda sobre discriminação por idade foram revelados casos de abuso como, por exemplo, brigas violentas acerca de dinheiro e propriedade e negligencia em situações de dependência. Também sentiram falta de respeito e de reconhecimento das contribuições deles.

As falas dos idosos resultaram em recomendações, como (i) maior foco na promoção de participação e um maior reconhecimento das contribuições; (ii) mais e melhores serviços e ambientes que são amigáveis ao idoso; (iii) maior proteção do direto a serviços básicos e a proibição de discriminação por idade, abuso e negligencia.

Este levantamento de situação foi muito importante para informar dois processos paralelos que estão em andamento desde 2012: o desenvolvimento de uma agenda de desenvolvimento que substituirá os "Objetivos do Milênio" e o momentum para uma maior militância.

Orientação de governos e a sociedade civil depois de 2015

Há um grande grupo de pessoas e organizações que lutam por uma convenção internacional de direitos da pessoa idosa. Esse movimento começou há muitos anos atrás, mas foi em 2010 que foi alcançado um grande sucesso: as Nações Unidas instituíram um Grupo de Trabalho de Composição Aberta para discutir sobre como melhor proteger os direitos da pessoa idosa. Neste grupo, governos, organizações intergovernamentais e a sociedade civil debatem sobre vários mecanismos legais para fortalecer os direitos dos idosos. Já foram formados quatro grupos desde 2010.

Um passo na direção de uma convenção foi alcançado com uma Resolução da Assembleia Geral da ONU de 2012, intitulada "na direção de um instrumento internacional abrangente e integral para a promoção e proteção dos direitos e da dignidade de idosos". Esta Resolução demanda que o Grupo de Composição Aberta apresente, para a Assembleia Geral, o mais cedo possível, uma proposta contendo, entre outros, os elementos chaves que deveriam constar em um instrumento legal internacional para promover e proteger os direitos que ainda não estão abordados o suficiente em mecanismos existentes e que, consequentemente, precisam de mais proteção internacional.

A conquista mais recente é uma Resolução de setembro de 2013, estabelecida por Decisão do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, que nomeia um expert independente para avaliar a observância dos direitos humanos das pessoas idosas, a ser identificado.

Outro enfoque de grande importância é o debate sobre a agenda pós-2015 quando os Objetivos do Milênio acabam e os novos objetivos, por enquanto chamados "Objetivos do Desenvolvimento Sustentável", entrarão em vigor.

Os Objetivos do Milênio foram estabelecidos pela ONU em 2000, com o apoio de 191 nações e muitas organizações internacionais. Quando os oito objetivos foram estabelecidos, em 2000, ainda era incipiente a discussão sobre longevidade e envelhecimento populacional pela comunidade internacional.

Pontos cruciais que deveriam estar incluídos nos Objetivos:
  • Os direitos e necessidades específicas de pessoas idosas e seu impacto do envelhecimento populacional (pensava-se muito em mulheres na idade reprodutiva em crianças e em HIV).
  • A perspectiva de curso de vida, inclusiva de vários grupos populacionais, entre outros, idosos. Esta exclusão não apenas resultou numa falta de ação e investimento para estes grupos populacionais. Mesmo a falta de dados para se avaliar o progresso é resultado desta exclusão – ou seja, desta priorização de certos grupos etários ou sociais.

O Brasil avançou muito em relação ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e pavimentou o caminho para cumprir as metas até 2015.

Há bons indicadores, mas há muitos desafios a serem vencidos. Para cada um dos Objetivos existem políticas públicas que vêm aproximando o Brasil do cumprimento das metas. Em algumas áreas, o país tem que avançar. Em outras, os indicadores positivos já são realidade. Há legislação específica sobre a implementação dos objetivos no Brasil para cumprir com eles até 2015. Mas o que acontecerá depois?

Por causa deste passado que excluiu o idoso e o envelhecimento, no começo das discussões sobre a nova agenda, havia muita preocupação por parte da sociedade civil. Perguntou-se se de novo se o envelhecimento populacional será ignorado, como também as pessoas idosas e o curso de vida. Mas felizmente, durante as discussões sobre a nova agenda, o envelhecimento ganhou mais e mais espaço. Várias agências da ONU apoiam este processo de formular uma nova agenda, fornecendo evidências sobre o que funcionou e o que não funcionou e organizando uma "conversa global" para descobrir o que as pessoas querem.

As ações de militância já resultaram em conquistas concretas: o Secretário Geral da ONU reconheceu a importância do envelhecimento populacional para o desenvolvimento sustentável e pessoas idosas são incluídas em consultas. Ademais, o Secretário Geral reconheceu que é essencial saber mais sobre os indicadores da população e sobre o impacto de tendências demográficas no desenvolvimento.

O Secretário Geral também sugeriu várias ações aos Estados Membros, entre outros:
  • O reconhecimento da idade como uma das questões transversais que precisa ser refletida em todos os objetivos e metas,
  • A criação de um marco político baseado nos direitos humanos,
  • A erradicação da pobreza em todas as suas formas a para todas as pessoas,
  • A promoção de melhor responsabilidade (transparência) através de uma revolução de dados - com dados desagregados para que se possa mensurar e monitorar o progresso por idade, gênero e deficiência e identificar lacunas entre diversos grupos de população.

O relatório da Comissão de Alto Nível também faz uma recomendação importante que provavelmente é resultado das orientações específicas dadas pela sociedade civil: a coleta de dados o mais atualizados possível e de alta qualidade. Dados melhores nos permitirão avaliar o progresso que está sendo feito para pessoas idosas em cada país.

Esta "conversa global" inclui as vozes de mais de 1,5 milhões de pessoas que participaram de 100 diálogos nacionais, 11 reuniões temáticas e um portal online, MeuMundo.

O portal MeuMundo é um questionário online no qual a pessoa deve escolher os seis itens que são mais importantes para si e sua família. Há 16 opções e um campo para acrescentar outras prioridades. Os resultados foram publicados num relatório lançado em 2013, intitulado "Um milhão de vozes: O mundo que queremos". 

Os votos das 1,2 milhões de pessoas participantes do portal online foram desagregados por país, sexo, nível de educação e idade. As quase 40.000 pessoas participantes tinham mais de 60 anos. As sete prioridades mais importantes para pessoas idosas são as mesmas prioridades para pessoas de qualquer idade, apenas em outra ordem. Pessoas idosas têm como prioridade principal melhores serviços de saúde, seguidos de uma boa educação. Para pessoas de todas as idades é o contrário.

Há variações dependendo do nível de desenvolvimento do país. Por exemplo, para pessoas idosas em países em desenvolvimento, melhor transporte e estradas ficam entre as primeiras sete prioridades. Em países de renda média, a proteção de florestas, rios e oceanos fica entre as sete prioridades. 

Mesmo com alguns resultados positivos até agora, a inclusão do envelhecimento na agenda pós-2015 ainda não é uma realidade. Atualmente há esta sendo preparado um rascunho dos novos Objetivos do Desenvolvimento de um Grupo de Trabalho que será apresentado ao Secretário Geral e aos Estados Membro em setembro de 2014 e que servirá como base do conjunto final dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Por isso é importante continuar ficar atento e militando. Espera-se influenciar esta discussão para ter certeza que o envelhecimento populacional e as pessoas idosas não serão excluídos novamente de uma agenda internacional que interfere nas políticas públicas nacionais, regionais e locais nos próximos anos.

Os Objetivos do Milênio ultrapassam a fundamentação de políticas públicas nos países, mas também influenciam os países doadores, pesquisadores e a sociedade civil.

Ainda há tempo antes de os governos decidirem sobre a nova agenda e assim criar um maior ativismo para assegurar que os direitos das pessoas idosas estarão refletidos na agenda pós-2015. Para quem quiser se envolver nestas discussões é só procurar mais informações no site da HelpAge, do grupo Beyond 2015 e, claro, participar da pesquisa online, Meu Mundo, que terá uma semana de ação global começando nesta segunda, dia 5 de maio.