quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Centro Internacional de Longevidade comenta declaração de ministro japonês

As declarações do ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, publicadas em 22 de janeiro, pelo jornal O Globo, sobre abreviar a vida das pessoas idosas, que deveriam “se apressar e morrer para poupar gastos do governo com a saúde pública” suscitam importantes pontos sobre os cuidados ao final da vida e o processo do morrer na velhice que o Centro Internacional de Longevidade - International Longevity Centre no Brasil (ILC-Brazil) acredita ser indispensável discutir.

À medida que as populações envelhecem, questões sobre autonomia, dignidade, consentimento informado e morte digna em relação aos cuidados do final da vida passam a ganhar mais atenção e importância. No Japão, 32% da população têm mais de 60 anos de idade. No ano 2050, é previsto chegar a 42%. O envelhecimento populacional é acompanhado de um aumento das doenças crônicas e isso contribui para um aumento dos custos com cuidados sociais e da saúde. No entanto, este olhar exclusivo nos custos distorce fatos. Nega, por exemplo, as contribuições de pessoas idosas à sociedade, o fato é que nem todas as pessoas idosas padecem de doenças de longa duração no final da vida e o alto custo e a morte em pessoas muito idosas é muito menos custosa que a morte pela mesma causa de uma pessoa mais jovem, como assinalado em vários estudos tanto na Europa como na América do Norte.

A evidência disponível em um país como o Canadá mostra de modo inequívoco que doenças e a explosão da tecnologia biomédica são os condutores dos altos custos. E que a melhor forma de controlar os custos que tanto preocupam o Ministro Aso é investir em promoção da saúde e prevenção das doenças – de modo a manter pessoas idosas o mais saudáveis possível pelo mais longo período de tempo possível. No entanto, se elas adoecem e se tornam frágeis, tanto elas como seus familiares que deles cuidam devem ser bem suportados na comunidade para evitar - ou, ao menos, postergar - hospitalizações, estas sim muito custosas.

Pessoas no final da vida - sejam estas em que idade for - têm necessidades complexas. Muitos precisam de cuidados paliativos para controlar e aliviar dores e manter a qualidade de vida. O lugar preferido - e, em geral, menos caro - para morrer é a própria casa. No entanto, os sistemas de saúde não facilitam isto - ao contrário: é mais cômodo para os profissionais institucionalizarem os pacientes terminais. Tais sistemas tampouco oferecem, na maioria dos casos, o apoio necessário (médico, emocional, psicológico, espiritual) que os familiares necessitam para cuidar de seus idosos. Além disto, qualquer paciente com uma doença terminal precisa ter informações sobre as opções de cuidado com antecedência – antes de entrar na fase terminal da doença.

Na carta de San José sobre direitos das pessoas idosas na América Latina e no Caribe de 2012 esse assunto está bem articulado: o consentimento livre e informado, prévio a qualquer intervenção médica, independente da idade, saúde ou tratamento, de maneira a promover a autonomia da pessoa idosa deve ser assegurado e o desenvolvimento e o acesso ao cuidado paliativo, para assegurar morte digna e sem dor à pessoa idosa em fase terminal de doença deve ser promovido. A visão articulada pelo Ministro Aso, conforme veiculada, seria discriminatória, preconceituosa, demonstraria mau julgamento e certamente não seria condizente com um país tão envelhecido que até hoje se caracterizava pelo respeito e pela reverência que dedica a seus idosos.
 
Alexandre Kalache, Louise Plouffe, Ina Voelcker, Silvia Costa, Paul Faber

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Organização Mundial da Saúde é afetada pela crise econômica

“Envelhecimento e Curso de Vida” é um dos programas da Organização Mundial da Saúde (OMS) que começa expressiva redução em seu orçamento mantido por contribuição obrigatória dos países – cujo valor é referenciado pelo PIB de cada um. Além dessa fonte orçamentária, a OMS recebe contribuições voluntárias de governos e entidades que subsidiam seus inúmeros programas que, além do envelhecimento, incluem doenças infecciosas, doenças crônicas não transmissíveis, novas gripes, AIDS, obesidade, problemas ambientais, entre muitos outros relacionados à saúde.

 
Segundo o jornal Estado de São Paulo, em sua edição de domingo, 20 de janeiro, a OMS vem efetuando cortes que atingem as equipes, materiais e viagens, sendo 20% de cortes em programas de combate a doenças crônicas; 10% a menos para a liberação de recursos para programas nacionais de tuberculose e de malária e 13% de redução em 25 programas, incluindo combate ao tabaco, doenças vasculares e saúde mental.

 
O Estadão faz um retrospecto das medidas restritivas e dos países que suspenderam suas contribuições à OMS.

 
Íntegra no link:

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Relatório do Fórum Econômico Mundial é tema de entrevista de Alexandre Kalache na CBN

Um dos autores do Relatório “Riscos Globais”, que será discutido na Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial - 2013 (World Economic Forum – WEF), Alexandre Kalache foi entrevistado pelo Âncora da CBN, Milton Jung, no noticiário da manhã de hoje, sobre o alerta e as sugestões recomendadas no capítulo que aborda a qualidade de vida.

Kalache analisou o aumento da expectativa de vida alcançado pela humanidade como uma conquista e ao mesmo tempo um desafio para a qualidade de vida desejada, em termos sociais e de saúde, especialmente no que diz respeito ao avanço dos custos do cuidado do idoso. Os dados mostram, segundo Kalache, que o aumento do número de anos de vida não corresponde a um incremento proporcional dos anos com boa saúde.

Em resposta a Milton Jung sobre a recomendação do Relatório para o Brasil, Kalache colocou que uma das prioridades é a preparação dos profissionais de saúde para as implicações do envelhecimento, por meio de mudanças nos currículos de formação e pelo estímulo à responsabilidade pela prevenção. Considerou que somente a prevenção de doenças e a promoção da saúde ao longo da vida podem assegurar qualidade à nossa existência.

A Reunião Anual do WEF será realizada em Davos, Suíça, de 23 a 27 de janeiro, com participação de lideranças da área empresarial, acadêmica, política, ambiental, de comunicação, entre outros, com o objetivo de discutir o relatório anual sobre os riscos globais, publicado duas semanas antes do evento.

Como integrante, há cinco anos, do Conselho do Envelhecimento (Council on Ageing), Alexandre Kalache participou da reunião “Global Agenda Council on Ageing”, que precede o Fórum e foi realizada de 12 a 15 de novembro, em Dubai.

O Relatório sobre Riscos Globais divulga a pesquisa principal do Fórum Econômico Mundial, que proporciona uma plataforma independente para o debate de estratégias de colaboração. Em 2013, as discussões serão orientadas por cinco fatores: o avanço cognitivo do cérebro humano pelo uso de estimulantes; o uso descontrolado de tecnologias para conter as mudanças climáticas; as próprias mudanças climáticas em curso; os custos de se viver mais e a descoberta de vida em outros planetas.

Informações sobre o Fórum Econômico Mundial – 2013:

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Qualquer sociedade pode ser um bom lugar para se envelhecer?

Matéria publicada pelo prestigioso periódico britânico The Guardian questiona a adequação de seu país para a atual situação do envelhecimento populacional. Com o título “Care of the elderly: it's not too late to make Britain a good place in which to grow old”, o autor, Will Hutton, analisa as implicações da longevidade na economia individual e dos sistemas de saúde.

Will Hutton confronta as possibilidades de cada um fazer frente aos custos do cuidado na velhice e da influência do que chama de “bons ou maus genes” na “sorte” para se desenvolver ou não demências e incapacidades.

A esse propósito, Hutton observa que os encontros das famílias durante as festas de fim de ano costumam trazer lembranças das pessoas que já não participam – em geral idosos que se foram cedo, segundo avaliação de familiares. Nas histórias sobre os ausentes, sempre há alguém que chegou aos noventa anos contrariando as recomendações de vida saudável, como o exercício físico.  Em contraposição, pode estar um parente que morre logo depois de se aposentar e que fazia exames anuais.

Tais extremos falam de uma longevidade associada ao acaso ou à sorte. No entanto, para o artigo sejam quais forem as consequências da idade e da enfermidade, todos serão atingidos pelos altos custos dos cuidados de longa duração.

De acordo com os números, a vida longa demanda custos de cuidado do idoso. Sabe-se que, após 65 anos, apenas uma em cada quatro pessoas gasta pouco ou nada com o cuidado. Por outro lado, uma em cada dez pessoas que sofrem de doenças crônicas pode pagar altas somas por tratamentos. O artigo considera que o aumento do envelhecimento é a questão política do momento.

Hutton discute as preocupações britânicas e europeias, cita estudos e expõe os custos locais e as políticas necessárias para que o Reino Unido se torne um lugar aceitável onde envelhecer.

Link para a íntegra, em inglês: