sexta-feira, 29 de maio de 2015

Melhor produção e novas perspectivas em Geriatria e Gerontologia - debate na UFF

Uma apresentação teatral poética deu o tom da abertura dos três dias de trabalho interdisciplinar sobre geriatria e gerontologia. No primeiro dia do XI Encontro Interdisciplinar em Geriatria e Gerontologia, os integrantes do Centro de Referência em Atenção à Saúde do Idoso (Crasi) brilharam no número dramático e musical dedicado a uma platéia interessada em longevidade e saúde das pessoas idosas.
 
A médica geriatra, professora na UFF e doutora em neurologia, Yolanda Boechat, com o médico e gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e co-presidente da Aliança Global de ILCs.
A abertura oficial coube a Alexandre Kalache, com a palestra “A cultura do cuidado em respeito à Revolução da Longevidade”, às 19h, do dia 28 de maio, no Hospital Universitário Antonio Pedro, em Niterói. A palestra também foi envolvida pela poesia de quem olha o envelhecimento de maneira positiva e carinhosa, cheia de reminiscências sobre os idosos da família. Em especial, no caso de Alexandre Kalache, mulheres idosas da família – a mãe, as avós, tia, madrinha e a babá. O misto de fala teórica e afeto conquistou a todos, motivando a aproximação das pessoas ao final da palestra, para compartilhar suas histórias particulares e profissionais.
 
O evento foi uma iniciativa da Pós-Graduação em Geriatria e Gerontologia Interdisciplinar, da Faculdade de Medicina / Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal Fluminense (UFF), realizado nos dias 28, 29 e 30 de maio, com o apoio da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

A equipe de organização do evento foi liderada por Yolanda Boechat, médica geriatra, professora na UFF e doutora em neurologia, e Vilma Duarte Camara, médica neurologista, doutora em neurologia e professora aposentada da UFF. Entre as muitas realizações de Vilma Camara, estão a implantação da pós-graduação em geriatria e gerontologia, em 1994, e da disciplina de geriatria na UFF, em 1996. A partir de 1998, a professora Vilma e a sua equipe se dedicam a atendimentos ao idoso e à promoção de internato, residência, monotoria, cursos de extensão e de pós-graduação.

Programa completo aqui.

terça-feira, 26 de maio de 2015

O protagonismo do idoso em pauta... na VII Conferência Municipal do Idoso em Campinas

Com o crescente envelhecimento populacional é cada vez mais importante a ação protagônica da pessoa idosa para que as demandas e necessidades deste grupo etário sejam incorporadas à agenda política e para que o próprio idoso seja empoderado para envelhecer de maneira ativa.
 
“Protagonismo e Empoderamento da Pessoa Idosa – Por um Brasil de todas as Idades” foi o tema da VII Conferência Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, em Campinas, São Paulo. Um dos objetivos desta Conferência era estimular a implantação de mecanismos e instrumentos de gestão que garantam a participação e a organização social das pessoas idosas. A abertura da Conferência foi celebrada com programas culturais de dança, música e poesia e com falas de autoridades e de idosos representando as regiões de Campinas. A palestra deste primeiro dia da conferência, intitulada “Por um Brasil de todas as idades – Criando um Modelo”, foi proferida pela coordenadora de projetos técnicos do Centro Internacional de Longevidade Brasil, a gerontóloga Ina Voelcker.
Palestra de Ina Voelcker
 
Ao apresentar os conceitos fundamentadores da iniciativa “Por um Brasil de todas as idades – Criando um Modelo”, Ina Voelcker descreveu o envelhecimento ativo como “processo de vida contínuo que permite o aperfeiçoamento das condições de saúde, educação continuada, participação e segurança” e ressaltou a abordagem participativa de “baixo para cima” - do cidadão ao governo - e a importância da intergeracionalidade.
 
Segundo Ina Voelcker, “o modelo de um município para todas as idades é baseado na escuta sistemática da população idosa, e também dos cidadãos mais jovens, sobre as lacunas e os aspectos positivos e negativos do município no qual vivem. São os resultados desta escuta que formam a base de evidências para o desenvolvimento das políticas públicas deste município.” Para a gerontóloga, a inclusão de pessoas de todas as idades nestas escutas/consultas contribui para a formulação de políticas amigas do idoso que, na verdade, são amigas de todas as idades. “Isso importa porque todos nós estamos envelhecendo e, quanto mais cedo nós preparamos, melhor,” disse. E prosseguiu, pontuando que a iniciativa promove maior harmonia intergeracional e garante um maior apoio de toda a sociedade. Ina ainda destacou a metodologia deste modelo que inclui pesquisa qualitativa e quantitativa e enfatizou o protagonismo do idoso nesta iniciativa que, ao mesmo tempo, também requer o envolvimento contínuo do poder público.
 
Após a palestra de Ina Voelcker, o Regimento Interno da Conferência foi apresentado e o segundo dia teve grupos de trabalho com discussões em quatro eixos: gestão, financiamento, participação e sistema de garantia de direitos da pessoa idosa.
 
Na linha do debate sobre empoderamento, Ina Voelcker foi recepcionada por integrantes da Pastoral da Pessoa Idosa
 
Em relato sobre sua visita, Ina Voelcker conta que o “acolhimento na sociedade e a valorização e promoção da pessoa idosa fazem parte da missão da Pastoral da Pessoa Idosa, organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e criado em 2004 durante a Assembleia Geral dos Bispos do Brasil.”
 
Segundo Ina, “a missão é cumprida através de líderes comunitários que fazem visitas mensais a idosos da própria comunidade e acompanham a vida dos idosos no domicílio. Os líderes também são ponte entre a família e os serviços de suporte à pessoa idosa na comunidade.”
 
A coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa da Arquidiocese de Campinas, Lúcia Secoti, que organizou reuniões com líderes da Pastoral no âmbito da visita de Ina Voelcker após a Conferência do Conselho, falou da importância da Pastoral para a construção de uma sociedade mais solidária. Lúcia destacou que “a Pastoral da Pessoa Idosa é um mecanismo de empoderamento do idoso, porque o líder partilha conhecimentos e passa informações ao idoso e ao mesmo tempo resgata o respeito e a dignidade da pessoa idosa.” De acordo com Lúcia Secoti, outro aspecto que vale destacar é que “o acompanhamento mensal do idoso, que é registrado no “Caderno do Líder Comunitário”, possibilita uma avaliação da saúde e do domicílio. Além de ser simples, de baixo custo e de fácil implantação, a iniciativa pode ser replicada em qualquer comunidade.”
 
Em relato de integrantes da Pastoral da Pessoa Idosa, “os líderes, alguns sendo mais velhos que os idosos acompanhados, outros podendo ser os netos deles, todos notam o benefício que essas visitas aos idosos trazem também para eles mesmos.” Ina Voelcker identifica que todos falam com muito carinho da alegria que sentem durante essa vivência com os idosos e que “realmente dá para sentir o respeito e a admiração que eles têm diante da pessoa idosa. Sente-se também a amizade e a coesão entre os líderes que se encontram mensalmente para refletir e avaliar as visitas domiciliares.”

E Ina Voelcker finaliza: “num Brasil que está face à revolução da longevidade com recursos limitados e enfrentando vários problemas sociais que não poupam o idoso, iniciativas como a Pastoral da Pessoa Idosa que contribuem tanto para a mudança de paradigma para o desenvolvimento de uma cultura do cuidado são indispensáveis para que a nossa sociedade se torne mais solidária.”
 
Mais informações:
 
Fonte e colaboração:
Ina Voelcker

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Arte e envelhecimento ativo: oficina de azulejos florais

O movimento do corpo na dança; da mão que conduz o lápis no desenho e o pincel na pintura; do ouvido ao modular notas musicais; do ator interpretando histórias; e do tato para criar figuras e esculturas – aí está a expressão artística em essência. Se a arte está presente em qualquer idade, ela é ainda mais importante quando ficamos velhos.
 
A experiência de vida facilita a fruição emocional colocada em um trabalho manual, com envolvimento físico, afetivo, expressivo, interativo e de ativação e conservação da memória. Enfim, formas livres de manifestação. A arte possibilita o distanciamento do cotidiano e sua apreciação e não se confunde com lazer ou passatempo.
 
Uma “Oficina de Azulejos Florais” abriu espaço para cores, formas, texturas, impressões táteis, percepções visuais, sentimentos, sensações e relações entre pessoas idosas - homens e mulheres com 60 anos e acima que exercitaram seu imaginário e processos criativos para transformar materiais em obras. Totalmente gratuita, a Oficina de Azulejos Florais teve duração de seis semanas (6 de abril a 18 de maio) e foi realizada pelo Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), vinculado ao Instituto Vital Brazil, como parte do Circuito de Arte e Envelhecimento.
 
Conclusão de curso e emoção
 
A inauguração de um lindo painel de azulejos florais encerrou a Oficina conduzida por Pedro Kalache - artista carioca e londrino. Pedro nasceu no Rio, reside em Londres e mantém afetos nas duas cidades. Formado em Ceramic Design, na Central School Saint Martin, Pedro desenvolve sua arte guiado por grande paixão pela argila.
 
Mais de 90 trabalhos compõem o painel “em formato hexagonal, como uma colméia – de sinergia humana”, disse Pedro Kalache sobre o produto final. Os participantes da Oficina admiraram o painel por longo tempo, afinal ali estavam suas obras. E, na avaliação do curso, foram só elogios.
 
Alguns dos participantes do curso falaram ao Blog Longeva Idade sobre as contribuições da experiência a suas vidas. Anamaria Cabedo Menezes chegou a comparar a modelagem da argila “com o ato de criação do ser humano... imagina... quando se dá forma à argila, nós fizemos os objetos e eu pensei nisso na hora. Foi uma lição de vida. Antes, eu pintei porcelana, que já chega pronta. Neste caso, se cria do nada, depois insere a plantinha, pinta. E o Pedro foi o condutor dessa criação.”
 
Outra aluna, Maria José Magalhães da Silva, disse que quando soube da Oficina ficou atraída por que sempre fez trabalho manual desde a infância. “Passei por tapeçaria, depois resina, papier machê, e quando soube da Oficina, eu vim. Adorei. O trabalho do Pedro é lindo.” Já Lúcia Esperança Canetti disse ter participado com o maior prazer e ressaltou: “O Pedro é uma pessoa certa para esse curso, porque demonstra o amor à arte e transmite ao aluno. Estou emocionada porque é raro encontrar pessoas dedicadas a darem o melhor de si.”
 
Durante a inauguração do painel, a médica Thelma Rezende, coordenadora geral do Cepe, destacou as transformações trazidas pela Oficina para os participantes e para o Cepe: “O curso ofereceu o aprendizado de uma nova habilidade, o de implementar o convívio e favorecer o estabelecimento de novas amizades, fundamentais, para a manutenção das funções cognitivas e da alegria de viver. Os alunos aprenderam as técnicas de modelagem da argila e de pigmentação, para criarem obras de lindo efeito visual.”
 
Presente ao encerramento da Oficina, o pai de Pedro, Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade, comentou o extremo valor da Oficina, como oportunidade para a preservação de quatro capitais fundamentais para o processo de envelhecimento: “o capital vital, da saúde; o capital financeiro, para a segurança e a proteção; o capital intelectual, dos conhecimentos; e o capital social, que vai da família aos amigos”. E também presente, a mãe de Pedro, Bete Kalache, artista plástica, contou como o filho cresceu em um atelier, em meio aos materiais e técnicas usadas em suas atividades.
 
O encerramento da Oficina teve cobertura da Rádio CBN.
 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Mais idosos e menos crianças em países da União Europeia

O recém lançado Relatório da União Europeia sobre o Envelhecimento da População (The 2015 Ageing Report – Economic and Budgetary projections for the 28 EU Member States – 2013-2060) mostra o panorama europeu ao longo de um período de mais de 40 anos. O Relatório aborda os desafios das sociedades européias diante de  populações que vivem mais tempo e têm menos filhos.
 
No Brasil os desafios são os mesmos, vividos de forma mais acelerada. De 1950 para 2010, a proporção de pessoas acima de 60 anos mais do que dobrou em termos relativos, com um aumento de 4,9 por cento para 10,2 por cento. Até 2050 espera-se uma proporção de idosos quase três vezes maior, quando cerca de 30% dos brasileiros terão 60 ou mais anos. A proporção de crianças se desenvolveu na direção contrária e o percentual de idosos vai superar o percentual da população entre 0 e 14 anos nas próximas duas décadas.
 
Esse cenário decorrente do grande aumento da expectativa de vida é analisado por Alexandre Kalache como a “Revolução da Longevidade”. No site do ILC-BR encontram-se informações e materiais sobre os reflexos dessa revolução. Em especial, os vídeos:
 
 

terça-feira, 12 de maio de 2015

Seminário "Saúde em todas as políticas mas... os idosos estão contemplados?"

Uma abordagem transversal para políticas públicas voltadas a setores que levam em consideração as implicações de suas decisões para a Saúde: é o princípio básico da iniciativa “Saúde em todas as políticas” - fácil de aplicar aos contextos de diferentes países, tanto em nível municipal como estadual ou regional.
 
Realizado no dia 8 de maio, com moderação de Alexandre Kalache, presidente do ILC-BR e co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (International Longevity Centres Global Alliance – ILC-GA), o seminário “Saúde em todas as políticas” foi apresentado pelo médico argentino, Diego Bernardini, novo integrante da equipe do ILC-BR, onde atua como coordenador de projetos especiais.
 
Diego Bernardini é médico de família com mais de 15 anos de prática clínica e experiência como consultor do Banco Mundial, da Organização Panamericana de Saúde, ambos em Washington; e da Fundação Européia de Yuste, na Espanha. É professor de pós-graduação na Argentina, México e Espanha, com mestrado em Gerontologia e doutorado em Medicina pela Universidade de Salamanca, Espanha. Trabalhou no setor privado e integrou o Ministério da Saúde da Nação, em Buenos Aires, Argentina. Desenvolveu trabalhos na América Latina, América do Norte, Europa e no Sudeste Asiático, onde foi professor visitante na Universidade da Malásia em 2014.
 
Em vista de sua formação gerontológica, Diego Bernardini identificou a convergência da iniciativa “Saúde em todas as políticas” com o envelhecimento populacional – dois temas que avalia como relevantes para a sociedade, perpassados por determinantes sociais, ambientais e econômicos, entre outros.
 
A apresentação de Diego Bernardini indicou três pontos principais da junção dos dois temas, expondo “aspectos da globalização; tendências e projeções que vão marcar o dia a dia do desenvolvimento da sociedade nos próximos anos; e a regionalização, por considerar que o Brasil ultrapassa a esfera regional e se torna uma potência global.”
 
Ao abordar a (1) globalização, Diego Bernardini afirmou que todas as influências têm aspecto global, especialmente na Saúde e que para ele, a “globalização é a eliminação de limites geográficos, a expansão do mapa cognitivo e a vida em um único fuso horário - quando se vê em tempo real o que está acontecendo na outra parte do mundo.”
 
Como exemplo, o Dr. Bernardini contou que, no ano anterior, ao comentar que iria à Malásia, as pessoas perguntavam onde era. E que na Malásia, quando dizia que vinha da América Latina, lhe perguntavam sobre essa localidade. No entanto, toda a sua visita à Malásia mostrou que lá as condições de saúde das pessoas idosas são as mesmas das regiões latino-americanas, com grande incidência de diabetes e de saúde mental, entre outras situações de morbi-mortalidade que ocorrem em outros países.
 
As (2) tendências são ilustradas por Diego Bernardini com o gráfico da Comissão Oxford Martin para as gerações futuras, elaborado em 2013, que mostra a sociedade como o centro de seis “megatendências”: geopolítica, mobilidade, sustentabilidade, tecnologia, demografia e saúde. Para Diego Bernardini, “na demografia está o envelhecimento populacional”, relacionado à saúde. Quanto às projeções, se olha o passado, para compreender melhor o que se passou e projetar o futuro.
 
Com relação à (3) regionalização, diz Bernardini, esta “se define por alguns marcos da América Latina, onde a população cresce permanentemente, se urbaniza cada vez mais e aprofunda as desigualdades. Além disso, vários países da região não têm bom planejamento urbano e carecem de implementação de políticas públicas. Também em comum, na região há conquistas de redução da pobreza por meio de programas de cobertura universal de saúde e de transferência de renda (Brasil e México).”
 
A “Saúde em todas as políticas”
 
A conceituação da iniciativa “Saúde em todas as políticas”, define a Saúde como um direito baseado em um princípio de justiça social, equidade, bem público e direito para as pessoas. “E o governo é o responsável”, diz Diego Bernardini, que pergunta “por que essa iniciativa é importante?”
 
Ao responder, o expositor analisa que “Política Pública” significa “Intersetorialidade” e não se pode falar de uma sem a outra, que estão sempre vinculadas. Outro fator de relevância é que os desafios da Saúde são complexos e que os objetivos de alto impacto do governo afetam múltiplos setores, entre eles, a Saúde. E, em especial, diz Bernardini: “há políticas externas à Saúde com muito mais impacto nela”.
 
Para a operacionalização da iniciativa, Diego Bernardini recomendou que se leve em conta elementos como os marcos políticos de ação; pensar diferente e criar novos paradigmas; e articular diferentes níveis operacionais. Exemplificou com as dimensões da iniciativa “Cidade Amiga do Idoso”: moradia, participação social, respeito e inclusão, emprego, transporte, espaços e edificações, apoio comunitário e serviços de saúde e comunicação e informação. O expert Diego Bernardini expressou que vê a “Saúde em todas as políticas” como um tema técnico e político e como uma situação complicada com a oportunidade de aplicar soluções hoje, quando elas podem ser mais simples do que no futuro.
 
Durante a moderação de Alexandre Kalache, variados aspectos da apresentação despertaram discussão, entre eles a representação gráfica da intersetorialidade como composta por setor privado, setor público, sociedade civil e Academia. Alguns participantes do seminário opinaram que a Academia atua totalmente integrada à sociedade, em movimento de vaivém de teorias e práticas.
 
A apresentação está disponível neste link.