sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Estudo sobre a Carga Global de Doença mostra enorme aumento da expectativa de vida em todo o mundo

Lançado em 15 de dezembro, pela revista The Lancet, o estudo “Carga Global de Doença 2010” (Global Burden of Disease Study 2010) é divulgado como o maior esforço sistemático já efetuado para descrever a distribuição global e as causas de uma extensa variedade de doenças, lesões e fatores de risco para a saúde.

Em destaque o aumento da expectativa de vida ocorrido em todo o mundo ao longo das últimas quatro décadas: 11 anos mais para os homens e 12 anos para as mulheres. A conclusão é que o acréscimo de anos à vida humana traz consigo problemas adicionais de saúde física e mental e repercussões sociais.

Liderado pelo Professor Chris Murray (que sob a Administração da Dra. Gro Brundtland foi Diretor da Divisão de Informações e Estatística da Organização Mundial da Saúde), este estudo foi realizado ao longo de cinco anos e envolveu 500 pessoas, produzindo o banco de dados de saúde mais abrangente e ambicioso do mundo. Ele mostra mudanças dramáticas a partir de 1970, com o rápido declínio no número de mortes por doenças infecciosas e desnutrição e a melhora da sobrevivência de crianças. São dados de todos países e regiões do mundo, com análises por gênero e diferentes faixas etárias.

A edição do The Lancet publica sete artigos sobre o estudo e comentários de pesquisadores e especialistas internacionais, como a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, e o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.

Panorama relatado pelo estudo

O estudo revela que por trás do aumento da expectativa de vida há um problema emergente: um aumento da incapacidade. Nas duas décadas anteriores a 2010, a expectativa de vida dos homens aumentou 4,7 anos e das mulheres 5,1 anos - mas os anos extras de vida saudável eram apenas 3,9 anos e 4 anos, respectivamente, o que sugere que doenças e incapacidades estão se tornando mais frequentes do que há 20 anos. As principais causas são as doenças mentais, incluindo depressão e ansiedade, problemas musculoesqueléticos e perdas visão e de audição.

Em quatro países - Japão, Cingapura, Coréia do Sul e Espanha – já é de 70 anos a expectativa de vida saudável das mulheres. É interessante notar que os homens em apenas três países - Afeganistão, Jordânia e Mali – vivem mais e com melhor saúde do que as mulheres. As mulheres japonesas têm a maior expectativa de vida (vivendo, em média, quase 86), enquanto os homens mais longevos vivem na Islândia (com expectativa de vida de 80 anos).

Os achados de que as pessoas estão vivendo mais, porém com pior saúde poderia provocar um repensar não apenas de nossas expectativas, mas também do funcionamento dos sistemas de saúde.

Para o médico gerontologista Alexandre Kalache, presidente do International Longevity Centre Brazil (ILC-Brazil), o "estudo demonstra que se tornam cada vez mais prementes nossos esforços para aumentar o nível de saúde ao longo de nossas vidas - tanto individual como coletivamente. Não há dúvida que estamos vivendo mais, mas é preocupante que o aumento do número de anos de vida não esteja sendo acompanhado de um aumento proporcional dos anos com boa saúde. Somente através da prevenção de doenças e da promoção da saúde ao longo de nossos cursos de vida, poderemos assegurar mais vida aos anos e não somente mais anos a vida".

Fontes:

O ILC-Brazil atua em parceria com o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe) - vinculado ao Instituto Vital Brazil. É uma organização filiada à rede global de International Longevity Centers (Global Alliance of ILCs).

País vizinho fomenta maciçamente a pesquisa na área do envelhecimento


O Chile define o envelhecimento populacional como uma das seis áreas prioritárias para fomento à pesquisa nos próximos anos, em iniciativa gerida pela Comisión Nacional de Investigación Científica y Tecnológica de Chile e financiada pelo Fondo de Financiamiento de Centros de Excelencia em Investigación (FONDAP).

A continuidade e a sustentabilidade do programa são garantidas pela destinação de 7 a 10 milhões de dólares por um primeiro período de cinco anos. Ao término, os projetos passarão por uma profunda avaliação internacional, com possibilidade de renovação para outros cinco anos.

Serão criados Centros de Excelência em Pesquisa e Treinamento para a produção de trabalhos, atuação em rede e em colaboração com centros internacionais de outros países. O médico e professor da Universidade do Chile, Jorge E. Allende, ressalta a importância da questão do envelhecimento populacional para o país, indicada por essa e outras iniciativas, como o aumento de 65% no orçamento para 2013 do Serviço Nacional do Idoso (Servicio Nacional del Adulto Mayor) e a promoção de Oficinas Internacionais sobre o tema a serem realizadas de 14 a 17 de janeiro.

O médico gerontologista Alexandre Kalache, presidente do International Longevity Centre Brazil (ILC-Brazil), foi convidado para diversas participações nas Oficinas Internacionais, organizadas pela Faculdade de Medicina da Universidade do Chile. No evento estarão presentes líderes mundiais em temas sociais, urbanísticos e de economia e saúde. O objetivo é oferecer ao Chile a experiência e os resultados de seus trabalhos.


Informações:


 
O ILC-Brazil atua em parceria com o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe) - vinculado ao Instituto Vital Brazil. É uma organização filiada à rede global de International Longevity Centers (Global Alliance of ILCs).

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Visão provocativa de Alexandre Kalache no TEDxUFRJ: “Você vai viver 30 anos mais do que seus avós. E daí?”

O público do TEDxUFRJ ficou muito impressionado com a constatação de que viverão mais tempo do que seus idosos avós. Para completar o espanto, quando convidados por Alexandre Kalache a fecharem os olhos e imaginarem o que estarão fazendo no dia de seu aniversário de 85 anos, vários jovens manifestaram surpresa com a perspectiva de chegarem a ter toda essa idade. O TEDxUFRJ foi realizado no dia 18 de dezembro, de 09h30 às 18h30, no auditório da Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A dedicação a “ideias que merecem ser espalhadas” norteia os eventos da linha TEDx na escolha de participantes reconhecidos por suas contribuições à sociedade, em diversas áreas de atividade. O TEDx é um evento da franquia "TED", originada há 25 anos na Califórnia, Estados Unidos, como uma conferência de quatro dias, posteriormente formalizada como uma organização sem fins lucrativos, gestora da marca. A letra “x” adicionada à sigla TED, do nome original - Technology, Education and Design - identifica um evento organizado de forma independente, mas produzido de acordo com o modelo TED. O conteúdo de cada evento TEDx é único, mas todos os TEDx têm algumas coisas em comum. As iniciativas TEDx objetivam proporcionar a comunidades, organizações e indivíduos a oportunidade de estimular o diálogo através de experiências locais no estilo do TED.

Os organizadores do TEDxUFRJ, todos estudantes da UFRJ, escolheram o modelo TEDx com base nas melhorias que a comunidade aspira para a Universidade e previstas no Plano Diretor da Educação Federal e no Plano Diretor da UFRJ para 2020. Segundo uma das organizadoras e curadora do “Bloco Mudanças”, Márcia Tavares, “a ideia surgiu a partir da percepção dos organizadores de que um evento no formato TEDx era potencialmente forte para promover encontros essenciais - e improváveis na dinâmica das relações tradicionais na universidade – entre pessoas de diferentes áreas do conhecimento, de diferentes campus, que estão ou estiveram na UFRJ em diferente momentos, um encontro no tempo, no espaço e nas ideias”.

Márcia Tavares - que é mestranda em Engenharia de Produção da COPPE, empreendedora e analista de inovação na Vale - falou sobre a escolha de Alexandre Kalache como palestrante e sobre a inserção de seu tema nas expectativas em relação ao TEDx: “Como curadora, minha missão era encontrar pessoas que pudessem subir ao palco e dar o tom do evento com ideias que merecessem ser compartilhadas. Saí em busca do que chamamos ‘Filhos da UFRJ’, talentos com grandes ideias e pontos de vista peculiares sobre temas críticos para a universidade e a sociedade em geral. Bem, o envelhecimento populacional é, sem dúvida alguma, um desses temas. Entretanto ele ainda não possui grande visibilidade na academia. Como pesquisadora do Envelhecimento Populacional na Engenharia (COPPE/UFRJ), eu posso afirmar com propriedade que a visibilidade do tema é inversamente proporcional a urgência da sua discussão. Frente a este cenário, ninguém melhor que o Alexandre Kalache para discutir as questões do envelhecimento com uma ótica multidisciplinar, isto é, que extrapola os limites das áreas de saúde. Ele é a combinação perfeita de um profissional que tem na veia as memórias da UFRJ - onde se graduou médico - e a paixão pelo trabalho com o tema envelhecimento populacional. Esperamos apresentar um viés diferenciado sobre o assunto no TEDxUFRJ, uma proposta, um chamado que vai despertar os participantes para a relevância da mudança de pensamento e atitude em relação à própria vida pessoal e profissional balizada pela visão dos impactos que o aumento da longevidade trará nesses campos da vida de cada um de nós.”


A palestra de Kalache teve como premissa a urgência de que a sociedade se prepare para as especificidades que surgem com a longevidade e instigou cada um a refletir sobre como vem se preparando. Relembrou os feitos das gerações nascidas no período pós Segunda Guerra Mundial, os baby boomers (da época da “explosão” de nascimentos), que revolucionaram costumes e artes, mudaram culturas e promoveram grandes avanços tecnológicos, no Brasil e no mundo. Entre as transformações, Kalache destacou a consolidação do termo “adolescência”, visando nomear a transição da infância para a vida adulta e atribuir sentido social a essa fase da vida. A adolescência foi incorporada ao cotidiano das sociedades e era compatível com a expectativa de vida de 43 anos.

Alexandre Kalache chamou a atenção para que os 30 anos a mais que as gerações atuais irão viver podem não ser 30 anos mais de “velhice”, como concebida no século XIX, quando os idosos se tornavam inativos e, em decorrência, morriam logo após a aposentadoria. Considerando-se “aposentadoria” como a ida para um “aposento”, a retirada da vida ativa e o isolamento social.


Expôs, então, a noção de “curso de vida”, que demonstra o desenvolvimento da capacidade funcional humana – crescente ao longo da infância, da adolescência e da vida adulta e declinante na velhice. A análise do curso de vida é indicativa da emergência de uma nova transição: da vida adulta para uma velhice ativa, com redução do ângulo descendente da curva de declínio.


A essa transição Kalache chama de gerontolescência. Enquanto a adolescência dura cerca de quatro ou cinco anos, a gerontolescência dura 20, 30 anos ou mais. E é para essa fase que todos precisam se preparar, pela adoção de mudanças na sociedade que alterem o formato do curso de vida, pela redistribuição das atividades de aprendizagem e trabalho ao longo de toda vida e pela criação de oportunidades que ofereçam qualidade de vida.

Muito aplaudido e ovacionado, Alexandre Kalache ouviu de um palestrante, ex-aluno da UFRJ, de 25 anos: “Sua palestra mudou minha vida”.

A gravação do evento estará disponível em vídeo no site http://www.tedxufrj.com.br/

O médico gerontologista Alexandre Kalache é presidente do International Longevity Center - ILC-Brazil (Centro Internacional de Longevidade), parceiro do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), vinculado ao Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro. O ILC-Brazil é uma organização filiada à rede global de International Longevity Centers (Global Alliance of ILCs).

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Prêmios de Excelência em Liderança 2013 agora inclui Comunidades Amigas dos Idosos

Diversas iniciativas no Estado da Austrália do Sul demonstram o reconhecimento da longevidade como fator intrinsecamente ligado ao desenvolvimento. Isto implica em que o envelhecimento populacional possa ser visto como um requisito crítico para a preparação da população rumo a uma nova conformação social, estruturada pela quantidade crescente de pessoas idosas e menor número de nascimentos. Em trabalho realizado por meio do Programa Adelaide Thinkers, a Austrália do Sul começou a implantar práticas que possam torná-la um “Estado Amigo do Idoso”. Outro importante passo foi dado pela instituição do Prêmio de Excelência em Liderança para Comunidades Amigas dos Idosos (Age Smart Award for Leadership Excellence in Age-friendly Communities) – uma nova modalidade do programa governamental “Prêmios de Excelência em Liderança” (Leadership Awards Program).


Todo o fundamento e debate sobre longevidade desenvolvido pelo Programa Adelaide Thinkers in Residence teve a imersão do Adelaide thinker Alexandre Kalache ao longo de dois anos. Foi o que permitiu que ele colaborasse com sua expertise, na especificidade da Austrália do Sul, em relação às questões demográficas e epidemiológicas, ao envelhecimento ativo, qualidade de vida e políticas públicas intersetoriais para a população idosa.

O Programa Adelaide Thinkers in Residence é desenvolvido pelo Governo da Austrália do Sul desde 2003, com o objetivo de produzir novas ideias e transformá-las em soluções práticas para a melhoria da vida do Estado. As Residências abrangem áreas como saúde, educação, clima, transporte, entre outras. A expectativa é que as ideias gerem novas ideias, inspirem iniciativas, propiciem transformações sociais e resultados para a sociedade da Austrália do Sul. Os thinkers são selecionados por grupos integrados por acadêmicos, políticos, especialistas funcionários do governo, empresas e público em geral. O critério para a escolha leva em conta assuntos importantes para o estado e a contribuição a ser proporcionada pelo thinker, de modo a preencher lacunas e promover desenvolvimento. Ao contrário de consultorias tradicionais, o Programa “Thinker in Residence” se caracteriza por oferecer a possibilidade de cada um dos thinkers interagir de perto com vários setores da sociedade ao longo de um período de, no mínimo, 18 meses, realizando visitas que permitam que suas ideias criem raízes. A cada visita são revistos os objetivos alcançados, até chegar a um relatório final entregue a parceiros da “Residência”, para implementação das recomendações originadas e acompanhadas pelo thinker a longo prazo.
 
O Prêmio para Comunidades Amigas dos Idosos é uma das decorrências da atividade de Alexandre Kalache como thinkerserá concedido na edição de 2013 do Prêmio de Excelência em Liderança a participantes que se destacarem por projetos realizados e por iniciativas inovadoras de gestão e de práticas de liderança ou, ainda, pela factibilidade da ação e desenvoltura demonstrada pela Comunidade. Também serão levadas em conta as experiências relatadas sobre a aplicabilidade da iniciativa e a possibilidade de uso em outras localidades.

Criado em 2011, pela Divisão da Austrália do Sul da LGMA (LGMA -SA), o Prêmio de Excelência em Liderança tem o objetivo central de reconhecer grandes conquistas e inovações em suas diversas localidades. A LGMA, Associação de Gestores de Governo Local da Austrália (Local Government Managers Australia - LGMA), é a principal entidade profissional que representa gestores de governos locais da Austrália (http://www.lgma.org.au/).

Os propósitos do Prêmio de Excelência em Liderança são o compartilhamento das conquistas com outras localidades; a melhoria do padrão e da qualidade das lideranças e da administração de governos locais em toda a Austrália do Sul; a transparência pública do nível de expertise e excelência do governo local e o reconhecimento da excelência dos membros da LGMA (SA) e dos servidores do governo local por meio da premiação de seus esforços.

Site para informações e inscrições:

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Envelhecimento Ativo orienta Administração Pública

A política do envelhecimento ativo norteia todo o estado de São Paulo no que diz respeito à população em geral; ao idoso e aos profissionais voltados ao cuidado; às unidades de saúde – entre elas, um hospital especializado no atendimento do idoso, situado na capital. Segundo o superintendente do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), Latif Abrão Jr., o Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) vem desenvolvendo diversas iniciativas para seu reconhecimento como o primeiro hospital especializado no atendimento à pessoa idosa.

Uma amostra da preocupação com o envelhecimento ativo foi a quinta edição do “Seminário Temático de Promoção e Proteção à Saúde do Servidor”, organizado pelo programa Prevenir e realizado em 28 de novembro, no HSPE, com o tema “Envelhecimento Ativo na Administração Pública”.

O movimento pelo envelhecimento ativo no estado fez com que o Seminário coincidisse com o dia do lançamento do Selo de Adesão ao Programa São Paulo Amigo do Idoso, pelo governador Geraldo Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes. O Selo é uma certificação destinada aos municípios que atenderem aos critérios estabelecidos para sua concessão.

Um convite aos participantes do Seminário para exercitarem o envelhecimento ativo

Ao começar sua palestra e levar em conta o longo tempo em que estão na mesma posição, Alexandre Kalache sugeriu que os participantes se levantassem e se esticassem, em plena prática do envelhecimento ativo. A plateia concordou e seguiu a sugestão.

O médico gerontologista Alexandre Kalache é consultor internacional, presidente do International Longevity Center (Centro Internacional da Longevidade) no Brasil e desenvolvedor do conceito de envelhecimento ativo à época de sua gestão como diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre os anos de 1995 e 2008.

Bem de acordo com sua inquietude, Kalache propõe novo conceito: o de “gerontolescência” – uma fase de transição entre a idade adulta e a velhice que pode durar 20 ou 30 anos, durante os quais a pessoa ainda pode ter uma vida ativa e saudável. Mas alertou que a sociedade ainda convive segundo um modelo de ciclo de vida semelhante ao do século XIX, quando a pessoa era considerada velha depois dos 45 anos. Assim, delineou um panorama das perspectivas do envelhecimento ativo no mundo, no Brasil e em São Paulo.

Envelhecimento Ativo debatido de A a Z

Muitos temas foram tratados no Seminário, entre eles, o papel do setor saúde no envelhecimento ativo, a participação da universidade, a função do HSPE no envelhecimento ativo de seus usuários, projetos de preparação para a longevidade, Programa de Atenção ao Idoso (PAI).

Também atuante no Programa São Paulo Amigo do Idoso, a dra. Marília Louvison, coordenadora estadual da área técnica de Saúde da Pessoa Idosa da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, falou sobre os aspectos sócio-demográficos dos servidores estaduais e destacou ações que ofereçam inclusão e qualidade de vida para o funcionalismo.

Uma mesa-redonda contou com a participação da professora Monica Sanches Yassuda, da Escola de Artes, Ciências e Humanidade da USP e de especialistas do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE). E o chefe de gabinete da Secretaria Estadual de Esporte, Lazer e Juventude, coronel Luiz Carlos Martins, apresentou o programa “AtivIdade”, do governo estadual, para apoio à prática de atividade física pela população idosa em academias e clubes. 

No encerramento, o superintendente do Iampse, Latif Abrão Jr., ressaltou que “a realidade do Iamspe hoje é a que o Brasil projeta para 2050”, assinalando que nela se destacam as pesquisas e estudos voltados para atendimento ao idoso, a futura reforma do HSPE e o investimento em capacitação do quadro de pessoal do Iamspe.

Ao final do Seminário,Monica Sanches Yassuda, Alexandre Kalache e Latif Abrão Jr.

Fotos do acervo do Centro Internacional de Longevidade.

domingo, 2 de dezembro de 2012

O enfoque “Age Friendly” implantado no Programa São Paulo Amigo do Idoso

A cada nova conformação social corresponde igual esforço de transformação capaz de ajustar a vida em sociedade às demandas que acompanham tal movimento. Como fenômeno global, a revolução da longevidade foi analisada no âmbito da Organização Mundial da Saúde (OMS) e gerou o enfoque “sociedade amiga do idoso”, manifesto em iniciativas ao redor do mundo e aplicado a cidades, ambientes, unidades de saúde e no “Estado Amigo do Idoso”. No Brasil, o Programa “São Paulo Amigo do Idoso” realizou solenidade de lançamento do Selo de Adesão de municípios a essa proposição estadual que visa à melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa residente no estado. O Programa é orientado pelo conceito de “Envelhecimento Ativo”, também originado no âmbito da OMS.

Realizada no dia 28 de novembro, no Palácio dos Bandeirantes, a solenidade de lançamento do Selo de Adesão ao Programa “São Paulo Amigo do Idoso” contou com a presença do Governador Geraldo Alckmin, de Secretários Estaduais, Parlamentares, do médico gerontologista Alexandre Kalache - consultor do Estado de São Paulo para o Programa-, de Prefeitos, setores da sociedade civil e de beneficiários do Programa, além de interessados em geral.
Alexandre Kalache e o coordenador do Programa “São Paulo Amigo do Idoso”,
Secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia.

Como um estado se torna Amigo do Idoso?

O enfoque Amigo do Idoso se estrutura sobre quatro pilares, nos quais se inserem as ações: (1) Proteção, (2) Educação, (3) Saúde e (4) Participação.

No contexto do pilar da Proteção se situam os investimentos em equipamentos municipais que, no caso de São Paulo, serão os Centros-Dia e os Centros de Convivência de Idosos. A Educação mobiliza centros de ensino e pesquisa para a formação de recursos humanos especializados; cursos de graduação e pós-graduação em gerontologia (USP Leste e Faculdade de Medicina da USP); Universidade Aberta à Terceira Idade; e inclusão digital. O pilar da Saúde envolve Centros de Referência do Idoso; laboratórios (em São Paulo: Laboratório Centro Dia do Idoso – USP Leste); Hospitais de Cuidados Continuados. No que diz respeito à Participação, o estado de São Paulo criou o projeto Melhor Viagem SP; Carteirinha Melhor Idade Ativa; o Conselho Estadual do Idoso.

O Programa São Paulo Amigo do Idoso propõe a participação de toda a população do estado, em suas diversas faixas etárias e grupos socioculturais. Destina-se às pessoas acima de 60 anos de idade, que alcança 11% da população e deve dobrar até 2050.

A amplitude estadual requereu a formação de um coletivo que envolve as secretarias de (1) Desenvolvimento Social, (2) Saúde, (3) Esporte, (4) Transportes Metropolitanos, (5) Justiça e Defesa da Cidadania, (6) Cultura, (7) Habitação, reunidas em um Comitê Intersecretarial, coordenado pelo Secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia. O trabalho foi iniciado em maio deste ano com a incorporação de projetos emblemáticos de cada pasta envolvida no Programa e a discussão de metodologia sob a consultoria do médico gerontologista Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brazil), consultor sênior sobre Envelhecimento Global da Academia de Medicina de Nova York (The New York Academy of Medicine) e ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Centro Internacional de Longevidade é parceiro do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), vinculado ao Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro.

As atividades do Comitê incluíram a concepção da forma de participação dos municípios - garantidora do estabelecimento de políticas públicas voltadas à população idosa do estado - e a definição de critérios para a concessão do Selo de Adesão.

O investimento previsto é de R$ 121,7 milhões destinados a ações do Programa, que serão centradas na construção dos equipamentos públicos conhecidos com Centro-Dia e Centro de Convivência de Idosos. A área da Saúde receberá R$ 30 milhões para a implantação de seis hospitais de retaguarda e quatro pólos regionais de referência. Na Capital será implantado ainda um Centro-Dia de cuidados integrados para a terceira idade no Campus Leste da USP, com financiamento estimado em R$ 5 milhões, com o objetivo de que a unidade preste assistência a cerca de 300 idosos em situação de quase dependência. Segundo o secretário do Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, o serviço de política recente no Brasil é modelo consagrado em outros países do mundo, como vem sendo demonstrado por Alexandre Kalache.

Serão construídos no estado de São Paulo 100 Centros-Dia, configurados como espaços onde as famílias deixam seu idoso durante o dia para receberem o cuidado específico e retornarem a sua residência no fim da tarde, sem perderem seus vínculos familiares. Também está prevista a construção de 249 Centros de Convivência do Idoso, dirigidos a atividades de lazer e cultura para a interação do idoso com sua comunidade.

Palestra de Alexandre Kalache
Embora tivesse preparado sua fala para discorrer sobre o Programa, Kalache preferiu iniciar mencionando o recital de abertura do evento, executado pelo pianista e maestro João Carlos Martins, de 72 anos. Alexandre Kalache expressou considerar o maestro um ícone do envelhecimento ativo, idéia que defende em todo o seu trabalho e militância no campo da longevidade. João Carlos Martins, quando tinha 64 anos, sofreu um acidente causador de uma grave lesão em um nervo da mão direita que o levou a 19 cirurgias. Em seguida, desenvolveu uma doença nessa mão e recebeu uma agressão em um assalto. Passou por muitos tratamentos de reabilitação e ficou afastado do piano e da regência. A obstinação de João Carlos Martins em voltar a sua arte permitiu a retomada da atuação como pianista e maestro e a dedicação a projetos sociais de música que vêm formando crianças e jovens.

 Maestro João Carlos Martins na solenidade.

Alexandre Kalache admitiu a emoção com que acompanhou a apresentação do maestro e do grupo da Fundação Bachiana e ressaltou que foi possível ver na prática o que é o envelhecimento ativo. E que também ficou ilustrado o que vem sendo chamado de “Geratividade”, a junção de “gerações e atividades” que implica que cada um saia de seu foco para um foco muito maior, estendido a todas as gerações. Além disso, o maestro é o exemplo vivo dos pilares do envelhecimento ativo: a saúde, que é indispensável para continuar a participar na sociedade; a educação continuada, para uma aprendizagem ininterrupta; participação e proteção, integradas nos espaços dos projetos sociais sob a liderança de João Carlos Martins e na sensibilidade social de proteger aqueles que estão em situação desfavorável.

Passou, então, ao objeto de sua palestra: as origens do projeto Amigo do Idoso no Rio e como transformou a idéia em programa para o mundo inteiro – hoje em andamento em 1.200 cidades Amigas dos Idosos, envolvendo transporte, habitação, participação social, respeito e inclusão social, participação cívica e emprego, comunicação e informação, serviços comunitários e de saúde, espaços ao ar livre e edifícios. Esses são aspectos abordados no “Guia da OMS das Cidades Amigas das Pessoas Idosas”, lançado em outubro de 2007 e disponível no site da organização para acesso gratuito.

As origens do Programa de São Paulo, um “estado” Amigo do Idoso, remontam a um evento realizado no Hospital dos Servidores do Estado, em 2011, quando Alexandre Kalache solicitou a intermediação de Latif Abrão Jr., Superintendente do Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual (Iamspe), para apresentar o projeto ao governador Geraldo Alckmin.





Governador Geraldo Alckmin discursa no lançamento do Selo de Adesão do Programa São Paulo Amigo do Idoso.






Notícia no site do Governo de São Paulo:

Fotos de acervo do Centro Internacional de Longevidade.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A Economia da Longevidade em perspectiva

A análise da longevidade como questão do campo da economia coloca em evidência os fatos surgidos a partir do alongamento da vida humana e favorece sua discussão sob o ponto de vista das práticas sociais e da agenda das políticas públicas voltadas ao envelhecimento populacional. Esse enfoque norteou o debate conduzido pelo Grupo Bradesco Seguros, no dia 27 de novembro, durante o VII Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, no Hotel Transamérica, em São Paulo. O tema “Economia da Longevidade” delineou um panorama das relações sociais, desde os dados sobre a população idosa até o exemplo do “bom viver” expresso em pessoas emblemáticas em suas áreas de atividade, aos 70 e aos 90 anos.

Atuou como mediador em discussões dessa edição do Fórum, o médico gerontologista Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brazil) e consultor do Grupo Bradesco Seguros - desde que foi palestrante em 2006, quando realizado o I Fórum da Longevidade, em iniciativa pioneira. O Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brazil) é parceiro do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), vinculado ao Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro. Além de presidir o ILC-Brazil, Kalache é consultor sênior sobre Envelhecimento Global da Academia de Medicina de Nova York (The New York Academy of Medicine) e foi diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Conferência internacional sobre o tema

“Desafios do Envelhecimento Populacional no Brasil e no Mundo” foi o tema do professor de Economia da Universidade de Harvard e demógrafo, David E. Bloom, em palestra organizada em três partes: elementos básicos do processo de envelhecimento, natureza das preocupações e o não determinismo demográfico. O Professor Bloom mostrou as mudanças das faixas etárias ilustradas pelos formatos das pirâmides de dados populacionais, em gráficos de diferentes décadas, que vão de 1950 até 2050. Na primeira década, a população jovem era maior e a quantidade de pessoas acima de 60 anos era muito menor. A cada década, a proporção muda e altera o desenho dos gráficos.

Segundo Bloom, tal panorama influencia, entre outras, as áreas da saúde, da previdência social, da educação dos profissionais de saúde e da assistência social. A amplitude do problema vem gerando visões alarmistas em alguns segmentos da sociedade que identificam relações de causa e efeito entre o quadro demográfico e a vida social. Porém, David Bloom afirma que não há determinismo demográfico, tendo em vista as formas de enfrentamento dos desafios: reflexos comportamentais, políticos e nas práticas dos negócios, com investimentos em setores estratégicos para o envelhecimento e iniciativas destinadas aos múltiplos interlocutores do campo da longevidade.

Um painel sobre o tema no Brasil

O palestrante Jorge Félix, jornalista e mestre em Economia pela PUC, com tese sobre o tema que dá nome ao Fórum, falou sobre a Economia da Longevidade. Para Félix, autor do livro "Viver muito" (Editora Leya), o envelhecimento da população é o “pano de fundo da crise econômica vivida hoje”, que requer políticas públicas específicas para atender a uma nova dinâmica populacional. Félix contrapôs a necessidade de profissionais qualificados para o cuidado dos idosos à meta não cumprida do Ministério da Saúde para 2011, de formar 65 mil cuidadores por meio do Programa Nacional de Formação de Cuidadores de Idosos. O Programa diplomou apenas 1.500 profissionais. Para cada desafio da Economia da Longevidade, Jorge Félix apresentou uma agenda, como, por exemplo, a cultura da aposentadoria cedo pode ser modificada pelo estímulo às empresas para manutenção do profissional por um tempo maior.

Especialista em consumo de varejo e bens de serviço e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Claudio Felisoni falou sobre “Consumo na Terceira Idade”, abordando cenário econômico e consumo; crescimento da população idosa; especificidade do consumo nessa população; e turismo para o idoso – “já que o Fórum trata de vitalidade e mais vida, obviamente isso se aplica ao lazer”. Ao discorrer sobre as transformações que impactaram a sociedade com o advento das novas tecnologias, Felisoni fez um paralelo entre o comércio tradicional e o “e-commerce” e afirmou que a internet é usada pelos idosos para compras e para interações. Entretanto, segundo Felisoni, a inclusão digital do idoso se restringe à classe A. Entre as características de consumo da Terceira Idade, o especialista destaca a preferência pelas viagens em grupos heterogêneos, com a percepção de que o idoso prefere o convívio intergeracional.

Protássio Lemos da Luz, médico cardiologista do Instituto do Coração (Incor), membro da Academia Brasileira de Ciências e diretor do Departamento de Cardiopneumologia da Faculdade de Medicina da USP, discutiu as dimensões da longevidade “Da prevenção ao tratamento: impacto econômico na saúde dos longevos”. O início de sua exposição provocou risos na plateia com a afirmação de que “velhice não é problema, especialmente para quem não chegou lá”. Protássio Lemos analisou a influência do avanço tecnológico nos processos diagnósticos atuais, não existentes anteriormente, que aceleram a identificação de doenças por meio de exames de imagem e de procedimentos não invasivos e diminuem a duração da hospitalização.  Autor do livro “Nem só de ciência se faz a cura”, Protássio Lemos considera que há vantagens e desvantagens no uso das tecnologias em saúde, entre elas o excesso de diagnóstico – que resulta em intervenções desnecessárias -, e o suporte artificial da vida – que “faz com que seja mais difícil morrer nos dias de hoje”.

Mara Luquet, jornalista especializada em aposentadoria e planejamento financeiro, apresentou suas recomendações sobre “Como chegar aos 100 anos sem quebrar” e explicou ser uma jornalista financeira e não uma economista, em razão das coberturas que vem realizando sobre inflação, juros, crise da dívida externa brasileira e sobre o aumento da expectativa de vida. A reportagem sobre longevidade despertou sua atenção para o fato de que “viver muito custa caro” e para a importância da preparação de cada um para essa fase da vida. A jornalista expressou sua admiração por Alexandre Kalache, que foi pessoa chave em sua aprendizagem. Em especial, Mara Luquet ressaltou a importância do papel da mulher na economia familiar. Destacou, ainda, que, além de vivermos uma revolução da longevidade, estamos vivendo uma revolução da redução da taxa de juros, o que demanda o planejamento do futuro, da aposentadoria e “de quem vai cuidar de você!”.


Consolidação do painel

Em formato de Talk Show, o debate conduzido por Alexandre Kalache reuniu os especialistas Claudio Felisoni, Protássio Lemos e Mara Luquet, para articulação dos pontos de vista sobre o tema. Todas as contribuições confluíram para a relevância da qualidade de vida para a economia da longevidade, seja por meio das estratégias de consumo disponíveis para a terceira idade, das ferramentas tecnológicas que beneficiam a saúde ou dos recursos financeiros garantidores do cuidado na velhice. A fala dos especialistas ocupou toda a manhã do Fórum de Longevidade e a tarde foi reservada para a emoção.

Estrelas da longevidade

Bibi Ferreira
A atriz e cantora, Bibi Ferreira, de 90 anos, trouxe para o Fórum da Longevidade um pocket show do espetáculo intitulado “Bibi, Histórias e Canções”, juntamente com os músicos que sempre a acompanham. Bibi agradeceu o convite para participar do Fórum e disse que muita gente parece ser indiferente à longevidade, mas todos querem “chegar lá”. Sua apresentação impressionou pelo vigor de seu canto, de sua linda voz e da força com que conta as histórias associadas a cada música. Celebrou a saúde que tem e que é responsável pela sua capacidade de trabalhar.

Os participantes do Fórum foram invadidos pela emoção provocada pelo pout-pourri de músicas do repertório de Elizete Cardoso cantadas por Bibi. Depois, a história de sua vida com Paulo Pontes e sua interpretação de Gota D’Água. Então, Bibi contou que hesitou em cantar músicas de Edith Piaf logo após a peça, que era uma tragédia, para evitar continuar cantando a tristeza. Por essa razão, adiou o espetáculo sobre Piaf, realizado anos depois – e brindou o Fórum da Longevidade com suas canções. O encerramento ficou por conta de “Conversa de Botequim”, de Noel Rosa.

Jane Fonda

O depoimento de Jane Fonda sobre a longevidade misturou o caráter pessoal e a experiência embasada por experts. O relato de experiência se revestiu daquela sinceridade de quem não se esconde dos outros e oferece sua vida como um acontecimento que pode servir de referência para quem quer ouvi-la. Jane Fonda não poupou o interlocutor dos detalhes que poderiam ser tabu, como o suicídio de sua mãe. Esse episódio de sua vida foi motivo de sofrimento até que trouxe uma informação libertadora. O que Jane Fonda pareceu querer mostrar com isso é que devemos todos cultivar a perspectiva positiva da vida.

A relação de Jane Fonda mais estreita com os temas da longevidade surgiu no momento de completar 60 anos, quando encarou sua vida como uma sinfonia composta por três atos: o primeiro abrange as três primeiras décadas; o segundo ato compreende as três décadas seguintes e o terceiro ato se estende até quantos anos mais a pessoa tiver. Desse modo, há um tipo de vida até os 30 anos, outro tipo até os 60 e outro a partir daí. Jane Fonda vislumbrou os três atos de maneira diferente da visão predominante, que divide a vida em fases, pensando na primeira como etapa de aprendizagem, na segunda como momento da produção e na final como o período para diversão.

Jane rejeita essa organização da trajetória humana por entender que a aprendizagem ocorre ao longo da vida, com potencial para fortalecer a inteligência e a alma. Assim, ao invés de representar a vida em forma de “Arco”, constituído por uma curva ascendente, um auge e um declínio até a morte, Jane Fonda propõe que se veja a trajetória como uma “Escada”, que não é puramente biológica - como o Arco, mas uma imagem integradora das dimensões humanas em suas capacidades de “evolução e ascensão contínuas”.

Alexandre Kalache entrevista Jane Fonda

Uma longa troca de informações se desenvolveu na entrevista que colocou frente a frente duas pessoas dedicadas aos temas da longevidade de forma densa e apaixonada. Alexandre Kalache perguntou a Jane sobre a discriminação por idade, do inglês "Ageism", e a atriz fez questão de que a plateia entendesse o significado da palavra - sempre atenta às reações de público. Jane contou como a discriminação ocorre em seu país e que atribui a atitude ao medo de enfrentamento da morte. Ela expôs seu ponto de vista sobre a revolução da longevidade e os diversos setores em que impacta, acreditando que, em vista de sua profissão, tenha um papel cultural junto à sociedade. Entre muitos outros temas, aderiu à proposta de Kalache de criar um novo termo para o que hoje é conhecido como terceira idade: gerotolescência. Kalache vem discutindo a denominação para a fase de transição semelhante à adolescência no que diz respeito às mudanças vividas pelo ser humano, o gerotolescente.

Continuidade do Fórum da Longevidade

No encerramento do evento, Lúcio Flávio de Oliveira, Diretor-Presidente da Bradesco Vida e Previdência, empresa integrante do Grupo Bradesco Seguros, agradeceu a presença dos convidados e reafirmou que “o objetivo do fórum é estimular ainda mais o debate em torno da longevidade, de modo que a sociedade possa se preparar melhor para esta nova realidade.”

Nesse momento, Bibi Ferreira voltou ao palco para declarar sua admiração a Jane Fonda, sob forte emoção, estendida a todos os presentes. Bibi teve o apoio de Alexandre Kalache que traduziu sua fala para Jane Fonda.
Repórteres, fotógrafos e participantes do Fórum se aproximaram do palco para acompanhar as homenagens finais às estrelas.

Lançamento de livro de Jane Fonda

Entre os compromissos de Jane Fonda no Brasil, depois do Fórum da Longevidade em São Paulo, o lançamento de seu livro no Rio de Janeiro foi bastante concorrido.


Intitulado “O melhor momento: aproveitando ao máximo toda a sua vida”, o livro registra impressões de Jane Fonda sobre a longevidade, de forma bem fundamentada e combinada a opiniões pessoais. Inquieta e curiosa sobre a vida, a autora realizou pesquisa sobre os temas que aborda, consultou especialistas e usou sua própria trajetória como subsídio. O mergulho fundo em seu passado reuniu muitos elementos que Jane Fonda fez questão de revelar, sem reservas.

Fotos de acervo do Centro Internacional de Longevidade.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O envelhecimento sob o ponto de vista de um filme francês

Todas as esferas da vida são permeadas pelo envelhecimento humano, desde a produção científica e acadêmica sobre saúde até a arte e o cotidiano. O fenômeno é múltiplo, assim como é diversa a cadeia de interesses que desperta. Aonde os conhecimentos teóricos sobre a velhice se imbricam com a arte cinematográfica e o cotidiano?

O filme francês "E se vivêssemos todos juntos?" (no original “Et si on Vivait Tous Ensemble?”) trata as questões dessa fase da vida de forma sensível e, ao mesmo tempo, as aborda com leveza e com a densidade necessária à reflexão. Em sua opção estética, a obra franco-alemã de 2011 mistura momentos cômicos à seriedade de situações complexas.

Cinco personagens acima dos 70 anos, e mais de 40 de amizade, lidam com o fato de terem envelhecido. O personagem solteiro, Claude, reluta em seguir a orientação médica indicada para seu problema cardíaco diagnosticado como grave.  O casal Annie (vivida por Geraldine Chaplin) e Jean lamenta que os netos nunca os visitam. E o casal Jeanne (Jane Fonda) e Albert enfrenta, a seu modo, a chegada de doenças.

A construção da história consegue evitar o apelo fácil à emoção quando transporta o expectador a um universo do qual não escapará, por experiência própria, caso seja longevo, ou pelo convívio com idosos. Como toda produção cultural, a narrativa coloca a vida social em cena, em uma experiência diversa do cotidiano, com distanciamento e espaço para o senso crítico. Nesse trajeto, revigora o pensamento, estimula o debate e suscita novos estudos.

O tema central do filme problematiza o que fazer quando não  for mais possível viver só. Nas entrelinhas, desenha-se a fragilidade estudada pela saúde pública, definida como a redução da capacidade funcional que dificulta a realização das atividades  básicas de vida diária  (ABVD). Tal situação torna o idoso dependente de cuidado organizado de acordo com o grau de incapacidade. As fragilidades surgem e se acumulam: instabilidade postural (com quedas de repetição); declínio cognitivo; diminuição da mobilidade; perda de memória; quantidade de medicamentos de difícil gerenciamento, entre outras. A proximidade da morte recomenda preparar aqueles que cercam o idoso para sua ausência.

Os fatores sociais e econômicos; as dimensões pessoal, familiar e comunitária; os interesses político, cultural e econômico; os contextos urbano e rural; todos influenciam, determinam e transformam as condições do envelhecimento.

A pesquisa prevê que a população chegará ao final desta década com 4 milhões de pessoas idosas com dificuldades graves que demandarão um cuidador permanente. Dos atuais 3 milhões de idosos, há 100 mil sob cuidados de instituições. Fica colocado o debate sobre quem se encarrega do cuidado em uma sociedade em que as mudanças nas famílias não mais comportam que seus membros se dediquem a seus idosos. Nesse quadro, a família e as instituições terão que aumentar em 50% sua capacidade para o cuidado da pessoa idosa.

No filme "E se vivêssemos todos juntos?" a questão aparece quando se define que Claude não pode mais morar sozinho e se desencadeia a ação que dá título à obra: viverem juntos pode ser a saída. Claude e o casal Jeanne e Albert passam a viver na casa de Annie e Jean, como se ali fosse uma “república” para maiores de 70 anos. O desafio é o enfrentamento das limitações físicas e psíquicas que se avizinham.

Favorável à permanência de Claude em uma instituição, seu filho sintetiza a discriminação às vulnerabilidades e à dependência que a idade traz - e não exatamente uma discriminação em relação à idade. O personagem representa o descaso dos jovens pelos parentes idosos. Se a história fosse ambientada no Brasil, a pobreza seria um elemento adicional de discriminação.

Consideradas as diferenças entre países desenvolvidos – o filme é francês –, que já discutem a longevidade muito antes dos países em desenvolvimento, no Brasil outro componente da discussão sobre o envelhecimento é a dificuldade de acesso aos serviços públicos pelas pessoas idosas. No tocante às instituições de longa permanência para idosos, chamadas ILPIs, os obstáculos são da ordem do preconceito e da sensação de abandono e sujeição a maus tratos.

Enquanto aumenta a quantidade de idosos no país e os sistemas públicos de saúde e de serviço social se estruturam para fazer frente ao desafio, a legislação brasileira estabelece que o idoso deve ser cuidado preferencialmente por suas famílias, conforme expresso na Política Nacional do Idoso. Quem assiste ao filme, percebe que isso não ocorre na França e se pergunta se é a realidade do Brasil.

A cena final do filme "E se vivêssemos todos juntos?" é um pungente e emocionante exemplo de afeto e solidariedade entre amigos e entre gerações, no fluxo contínuo da vida. Afinal, de uma forma ou de outra, vivemos juntos.

Serviço:
E se vivêssemos todos juntos? (Et si on Vivait Tous Ensemble?)
França e Alemanha, 2011. 96 min.
Direção: Stephane Robelin.
Elenco: Geraldine Chaplin, Guy Bedos, Claude Rich, Pierre Richard e Jane Fonda.

Fontes:

Simpósio “DISCRIMINAÇÃO POR IDADE”, 09 de março de 2012. Anais. Rio de Janeiro: Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, Instituto Vital Brazil, 2012.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde da pessoa idosa e envelhecimento. Área Técnica de Saúde do Idoso. Brasília, 2010. Série Pactos pela Saúde 2006, v. 12.

Brasil. Lei n.o 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União, 05 de janeiro de 1994.

Imagem do site http://altosagitos.com.br
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