quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Visão provocativa de Alexandre Kalache no TEDxUFRJ: “Você vai viver 30 anos mais do que seus avós. E daí?”

O público do TEDxUFRJ ficou muito impressionado com a constatação de que viverão mais tempo do que seus idosos avós. Para completar o espanto, quando convidados por Alexandre Kalache a fecharem os olhos e imaginarem o que estarão fazendo no dia de seu aniversário de 85 anos, vários jovens manifestaram surpresa com a perspectiva de chegarem a ter toda essa idade. O TEDxUFRJ foi realizado no dia 18 de dezembro, de 09h30 às 18h30, no auditório da Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A dedicação a “ideias que merecem ser espalhadas” norteia os eventos da linha TEDx na escolha de participantes reconhecidos por suas contribuições à sociedade, em diversas áreas de atividade. O TEDx é um evento da franquia "TED", originada há 25 anos na Califórnia, Estados Unidos, como uma conferência de quatro dias, posteriormente formalizada como uma organização sem fins lucrativos, gestora da marca. A letra “x” adicionada à sigla TED, do nome original - Technology, Education and Design - identifica um evento organizado de forma independente, mas produzido de acordo com o modelo TED. O conteúdo de cada evento TEDx é único, mas todos os TEDx têm algumas coisas em comum. As iniciativas TEDx objetivam proporcionar a comunidades, organizações e indivíduos a oportunidade de estimular o diálogo através de experiências locais no estilo do TED.

Os organizadores do TEDxUFRJ, todos estudantes da UFRJ, escolheram o modelo TEDx com base nas melhorias que a comunidade aspira para a Universidade e previstas no Plano Diretor da Educação Federal e no Plano Diretor da UFRJ para 2020. Segundo uma das organizadoras e curadora do “Bloco Mudanças”, Márcia Tavares, “a ideia surgiu a partir da percepção dos organizadores de que um evento no formato TEDx era potencialmente forte para promover encontros essenciais - e improváveis na dinâmica das relações tradicionais na universidade – entre pessoas de diferentes áreas do conhecimento, de diferentes campus, que estão ou estiveram na UFRJ em diferente momentos, um encontro no tempo, no espaço e nas ideias”.

Márcia Tavares - que é mestranda em Engenharia de Produção da COPPE, empreendedora e analista de inovação na Vale - falou sobre a escolha de Alexandre Kalache como palestrante e sobre a inserção de seu tema nas expectativas em relação ao TEDx: “Como curadora, minha missão era encontrar pessoas que pudessem subir ao palco e dar o tom do evento com ideias que merecessem ser compartilhadas. Saí em busca do que chamamos ‘Filhos da UFRJ’, talentos com grandes ideias e pontos de vista peculiares sobre temas críticos para a universidade e a sociedade em geral. Bem, o envelhecimento populacional é, sem dúvida alguma, um desses temas. Entretanto ele ainda não possui grande visibilidade na academia. Como pesquisadora do Envelhecimento Populacional na Engenharia (COPPE/UFRJ), eu posso afirmar com propriedade que a visibilidade do tema é inversamente proporcional a urgência da sua discussão. Frente a este cenário, ninguém melhor que o Alexandre Kalache para discutir as questões do envelhecimento com uma ótica multidisciplinar, isto é, que extrapola os limites das áreas de saúde. Ele é a combinação perfeita de um profissional que tem na veia as memórias da UFRJ - onde se graduou médico - e a paixão pelo trabalho com o tema envelhecimento populacional. Esperamos apresentar um viés diferenciado sobre o assunto no TEDxUFRJ, uma proposta, um chamado que vai despertar os participantes para a relevância da mudança de pensamento e atitude em relação à própria vida pessoal e profissional balizada pela visão dos impactos que o aumento da longevidade trará nesses campos da vida de cada um de nós.”


A palestra de Kalache teve como premissa a urgência de que a sociedade se prepare para as especificidades que surgem com a longevidade e instigou cada um a refletir sobre como vem se preparando. Relembrou os feitos das gerações nascidas no período pós Segunda Guerra Mundial, os baby boomers (da época da “explosão” de nascimentos), que revolucionaram costumes e artes, mudaram culturas e promoveram grandes avanços tecnológicos, no Brasil e no mundo. Entre as transformações, Kalache destacou a consolidação do termo “adolescência”, visando nomear a transição da infância para a vida adulta e atribuir sentido social a essa fase da vida. A adolescência foi incorporada ao cotidiano das sociedades e era compatível com a expectativa de vida de 43 anos.

Alexandre Kalache chamou a atenção para que os 30 anos a mais que as gerações atuais irão viver podem não ser 30 anos mais de “velhice”, como concebida no século XIX, quando os idosos se tornavam inativos e, em decorrência, morriam logo após a aposentadoria. Considerando-se “aposentadoria” como a ida para um “aposento”, a retirada da vida ativa e o isolamento social.


Expôs, então, a noção de “curso de vida”, que demonstra o desenvolvimento da capacidade funcional humana – crescente ao longo da infância, da adolescência e da vida adulta e declinante na velhice. A análise do curso de vida é indicativa da emergência de uma nova transição: da vida adulta para uma velhice ativa, com redução do ângulo descendente da curva de declínio.


A essa transição Kalache chama de gerontolescência. Enquanto a adolescência dura cerca de quatro ou cinco anos, a gerontolescência dura 20, 30 anos ou mais. E é para essa fase que todos precisam se preparar, pela adoção de mudanças na sociedade que alterem o formato do curso de vida, pela redistribuição das atividades de aprendizagem e trabalho ao longo de toda vida e pela criação de oportunidades que ofereçam qualidade de vida.

Muito aplaudido e ovacionado, Alexandre Kalache ouviu de um palestrante, ex-aluno da UFRJ, de 25 anos: “Sua palestra mudou minha vida”.

A gravação do evento estará disponível em vídeo no site http://www.tedxufrj.com.br/

O médico gerontologista Alexandre Kalache é presidente do International Longevity Center - ILC-Brazil (Centro Internacional de Longevidade), parceiro do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), vinculado ao Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro. O ILC-Brazil é uma organização filiada à rede global de International Longevity Centers (Global Alliance of ILCs).

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