quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Experiências de um hospital universitário com envelhecimento ativo

Se alguém extrapola sua especialidade para se tornar um ativista de outra área, só pode ser como o médico Egídio Lima Dórea, nefrologista defensor do “envelhecimento ativo” conforme concebido no Marco Político da Organização Mundial da Saúde, por Alexandre Kalache e equipe, em 2002. O conceito orienta trabalhos acadêmicos e práticas desde seu lançamento. Egidio Lima Dórea é formado pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, com Residência e doutorado em nefrologia pela Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo, e coordenador do ambulatório de clínica médica do Hospital Universitário da USP, professor e coordenador da disciplina de habilidades médicas da faculdade de medicina da Universidade Cidade de São Paulo.
Palestrante Egídio Dórea da USP
 
Sua extraordinária experiência foi apresentada no dia 17 de novembro, em seminário organizado pelo Centro Internacional de Longevidade Brasil (International Longevity Centre Brazil - ILC-BR) em parceria com o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), vinculado ao Instituto Vital Brazil. A moderação com os debatedores e o público foi conduzida pelo médico e gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR).
 
Projetos
 
Egidio Dorea desenvolve projetos no Hospital Universitário da USP que ultrapassam a adoção de medidas preventivas e a implementação de políticas públicas. Referenciado por sua clínica e pelas evidências sobre a prevalência, principalmente, de diabetes mellitus, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, doenças osteoarticulares e cardiovasculares em pessoas idosas, Egidio Dorea propõe iniciativas baseadas no “envelhecimento ativo”.
 
O Hospital Universitário da USP é uma unidade de ensino, regional e secundário, de média complexidade, atuante com assistência, ensino e pesquisa. Por ele circulam usuários, profissionais, alunos e gestores, atendendo às populações do Distrito de Saúde Butantã e Comunidade USP. É um campo de estágio de graduação e pós-graduação, com contrato de gestão com SUS (referência e contra-referência).
 
Praça de prevenção de quedas
 
O início da militância de Egídio Dorea na área do envelhecimento foi além das condições clínicas típicas do idoso, concentrando-se nas conseqüências de quedas e sua prevenção. Assim, em outubro de 2008 criou o projeto Praça de prevenção de quedas (Parque Água Branca. Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo) que hoje contabiliza 600 praças.
 
Sua proposta é de “prevenção de quedas e auxílio recuperação de fraturas (ombro e punho), com vistas à melhoria de marcha e equilíbrio; fortalecimento de musculatura proximal de MMII; melhoria de amplitude movimento articular; aumento de flexibilidade muscular e estímulo ao convívio social”.
 
As praças idealizadas por Egídio Dórea são dotadas de cinco estações auto-explicativas, com barras paralelas (marcha e equilíbrio), estação ergometria (movimento e flexibilidade); rampa-escada (marcha); senta- levanta(fortalecimento) e estação reabilitação.
 
Centro de prevenção de quedas
 
Ainda relacionado a quedas, dois anos depois, em outubro de 2010, novo trabalho de Egídio Dórea levou ao HU um projeto multiprofissional baseado nos fatores de risco para quedas envolvendo enfermagem, nutrição, fisioterapia, terapia ocupacional, farmácia, educação física, serviço social e psicologia.
 
“Por meio de campanha intra-hospitalar de sensibilização ao atendimento à população idosa, iniciou-se o rastreamento ativo de idosos com risco de queda (em enfermarias, pronto-socorro e ambulatórios) – uma ação também voltada a referenciados”, conta Egídio. E acrescenta que “um dos critérios definidos para marcação de consulta, estabelece que o paciente seja maior de 60 anos, com histórico de queda no último ano - não explicada por fatores externos, como acidente automobilístico, ou fatores internos, como acidente vascular encefálico”. A intervenção é feita a partir dos fatores de risco individuais.
 
O trabalho envolve reabilitação vestibular, oficina de memória, educação física, psicoterapia (medo de cair/depressão), palestras e filmes mensais. No total foram atendidos 309 pacientes com idade média de 75 anos (65-95 anos).
 
Projeto 5S: Hospital Amigo do Idoso
 
Mais uma iniciativa de Egídio Dórea implanta o “Hospital Amigo do Idoso”, a partir do Programa 5 S: Saúde, Socialização, Segurança, Serviços e Solidariedade. Desta vez, em 2013, o HU da USP é envolvido por uma campanha para que os funcionários ampliem seus conhecimentos sobre o que é envelhecer.
 
O “Hospital Amigo do Idoso” começa com uma sensibilização dos participantes e apresentação do projeto 5S. Em seguida, busca-se conhecer as ações específicas para idosos já existentes nos diversos setores e cada setor designa um representante e encaminha suas propostas. Em uma das ações de treinamento, os profissionais passam pela experiência do que é ser idoso, pela simulação das dificuldades de marcha e equilíbrio por meio da colocação de carga extra corporal, que os torna “jovens no corpo do idoso”. Além disso, são feitas palestras mensais para os funcionários do Hospital sobre envelhecimento e foi efetuada a adaptação da escala de triagem de risco para idosos (Manchester).
 
Ao mesmo tempo, diz Egídio, “foram tomadas medidas para a comunidade, com a criação de vagas de estacionamento demarcadas para idosos (rua) e a fixação de local específico para encaminhamento de queixas de idosos”.
 
O projeto foi estendido à Universidade Aberta à Terceira Idade da Universidade de São Paulo, com o curso “Envelhecimento Ativo: o que é e como fazer para alcançá-lo”, no segundo semestre deste ano.

Unidade Móvel “USP: Rumo ao envelhecimento ativo”
 
O projeto se baseia na visão de que a população deve encarar o idoso como um cidadão participante e atuante, que pode contribuir em todos os segmentos da sociedade e não como um indivíduo a ser excluído, pois, segundo Egídio, “envelhecer ativamente deve ser encarado como um direito de todo o cidadão”.
 
Os objetivos da unidade móvel são promover educação continuada em envelhecimento ativo; aquisição de hábitos de vida saudável e reconhecimento da importância dos mesmos para a saúde e o envelhecimento ativo; hábitos para prevenção de fatores de risco e sua importância no contexto das DCNT e do envelhecimento ativo; educação na necessidade de controle das DCNT já estabelecidas, com foco nos ganhos positivos dessas medidas; atitudes positivas e de resiliência no envelhecimento ativo.
 
A proposta inclui equipe multidisciplinar de profissionais da USP, constituída por: médicos, educadores físicos, enfermeira, psicóloga, nutricionista, terapeuta ocupacional, para realização de visitas programadas e regulares às unidades da cidade universitária da USP. A Unidade Móvel é composta por oito passageiros; material didático; balança; aparelhos para atividade física. E seu funcionamento se dá a partir de contatos das unidades USP, agendamento prévio e participação dos funcionários das unidades. Os profissionais da unidade móvel realizam palestras educativas sobre temas pertinentes às suas áreas de atuação.
 
Projetos futuros
 
Egídio Dórea finalizou indicando suas expectativas para o futuro. Primeiro, a continuidade dos projetos Hospital Amigo do Idoso, Unidade Móvel “USP: Rumo ao envelhecimento ativo” e cursos na Universidade Aberta à Terceira Idade. Em segundo lugar, a criação de Unidades Básicas de Saúde Amigas do Idoso.

Debate
 
Com moderação de Alexandre Kalache, os debatedores e o público interagiram sobre a apresentação de Egídio Dórea, com grande troca de informações, esclarecimentos de dúvidas e destaque para a aplicação do modelo criado por Egídio em outros hospitais universitários e unidades de saúde em geral.
 
Debatedores
  • Vilma Duarte Camara, médica, coordenadora do Centro de Referência do Idoso; coordenadora do Programa de Pósgraduação de Gerontologia e Geriatria Interdisciplinar da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade da Terceira Idade (de 1992 a 2009). Na UFF é membro do Colegiado de pósgraduação em neurologia e geriatria. Foi presidente e também vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Conselho Estadual do Idoso do Rio de Janeiro. É membro emérito da Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro.
  • José Elias Soares Pinheiro – médico, especialista em geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia / Associação Médica Brasileira, geriatra do Instituto de Neurologia Deolindo Couto da UFRJ, coordenador do Módulo de Geriatria do Curso de Aperfeiçoamento em Medicina Interna – CAMI/UFRJ e membro da Câmara Técnica de Geriatria do Conselho Federal de Medicina.
 
Secretaria do município para o envelhecimento
 
Em primeira mão foi anunciada a nova Secretária da Secretaria Especial do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (SESQV), Carolina Chaves, que falou aos participantes do seminário sobre seus planos e disponibilidade para o campo do envelhecimento.

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