A cada nova conformação social corresponde igual esforço de transformação capaz de ajustar a vida em sociedade às demandas que acompanham tal movimento. Como fenômeno global, a revolução da longevidade foi analisada no âmbito da Organização Mundial da Saúde (OMS) e gerou o enfoque “sociedade amiga do idoso”, manifesto em iniciativas ao redor do mundo e aplicado a cidades, ambientes, unidades de saúde e no “Estado Amigo do Idoso”. No Brasil, o Programa “São Paulo Amigo do Idoso” realizou solenidade de lançamento do Selo de Adesão de municípios a essa proposição estadual que visa à melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa residente no estado. O Programa é orientado pelo conceito de “Envelhecimento Ativo”, também originado no âmbito da OMS.
Realizada no dia 28 de novembro, no Palácio dos Bandeirantes, a solenidade de lançamento do Selo de Adesão ao Programa “São Paulo Amigo do Idoso” contou com a presença do Governador Geraldo Alckmin, de Secretários Estaduais, Parlamentares, do médico gerontologista Alexandre Kalache - consultor do Estado de São Paulo para o Programa-, de Prefeitos, setores da sociedade civil e de beneficiários do Programa, além de interessados em geral.
Alexandre Kalache e o coordenador do Programa “São Paulo Amigo do Idoso”,
Secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia.
Como um estado se torna Amigo do Idoso?
O enfoque Amigo do Idoso se estrutura sobre quatro pilares, nos quais se inserem as ações: (1) Proteção, (2) Educação, (3) Saúde e (4) Participação.
No contexto do pilar da Proteção se situam os investimentos em equipamentos municipais que, no caso de São Paulo, serão os Centros-Dia e os Centros de Convivência de Idosos. A Educação mobiliza centros de ensino e pesquisa para a formação de recursos humanos especializados; cursos de graduação e pós-graduação em gerontologia (USP Leste e Faculdade de Medicina da USP); Universidade Aberta à Terceira Idade; e inclusão digital. O pilar da Saúde envolve Centros de Referência do Idoso; laboratórios (em São Paulo: Laboratório Centro Dia do Idoso – USP Leste); Hospitais de Cuidados Continuados. No que diz respeito à Participação, o estado de São Paulo criou o projeto Melhor Viagem SP; Carteirinha Melhor Idade Ativa; o Conselho Estadual do Idoso.
O Programa São Paulo Amigo do Idoso propõe a participação de toda a população do estado, em suas diversas faixas etárias e grupos socioculturais. Destina-se às pessoas acima de 60 anos de idade, que alcança 11% da população e deve dobrar até 2050.
A amplitude estadual requereu a formação de um coletivo que envolve as secretarias de (1) Desenvolvimento Social, (2) Saúde, (3) Esporte, (4) Transportes Metropolitanos, (5) Justiça e Defesa da Cidadania, (6) Cultura, (7) Habitação, reunidas em um Comitê Intersecretarial, coordenado pelo Secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia. O trabalho foi iniciado em maio deste ano com a incorporação de projetos emblemáticos de cada pasta envolvida no Programa e a discussão de metodologia sob a consultoria do médico gerontologista Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brazil), consultor sênior sobre Envelhecimento Global da Academia de Medicina de Nova York (The New York Academy of Medicine) e ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Centro Internacional de Longevidade é parceiro do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), vinculado ao Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro.
As atividades do Comitê incluíram a concepção da forma de participação dos municípios - garantidora do estabelecimento de políticas públicas voltadas à população idosa do estado - e a definição de critérios para a concessão do Selo de Adesão.
O investimento previsto é de R$ 121,7 milhões destinados a ações do Programa, que serão centradas na construção dos equipamentos públicos conhecidos com Centro-Dia e Centro de Convivência de Idosos. A área da Saúde receberá R$ 30 milhões para a implantação de seis hospitais de retaguarda e quatro pólos regionais de referência. Na Capital será implantado ainda um Centro-Dia de cuidados integrados para a terceira idade no Campus Leste da USP, com financiamento estimado em R$ 5 milhões, com o objetivo de que a unidade preste assistência a cerca de 300 idosos em situação de quase dependência. Segundo o secretário do Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, o serviço de política recente no Brasil é modelo consagrado em outros países do mundo, como vem sendo demonstrado por Alexandre Kalache.
Serão construídos no estado de São Paulo 100 Centros-Dia, configurados como espaços onde as famílias deixam seu idoso durante o dia para receberem o cuidado específico e retornarem a sua residência no fim da tarde, sem perderem seus vínculos familiares. Também está prevista a construção de 249 Centros de Convivência do Idoso, dirigidos a atividades de lazer e cultura para a interação do idoso com sua comunidade.
Palestra de Alexandre Kalache
Embora tivesse preparado sua fala para discorrer sobre o Programa, Kalache preferiu iniciar mencionando o recital de abertura do evento, executado pelo pianista e maestro João Carlos Martins, de 72 anos. Alexandre Kalache expressou considerar o maestro um ícone do envelhecimento ativo, idéia que defende em todo o seu trabalho e militância no campo da longevidade. João Carlos Martins, quando tinha 64 anos, sofreu um acidente causador de uma grave lesão em um nervo da mão direita que o levou a 19 cirurgias. Em seguida, desenvolveu uma doença nessa mão e recebeu uma agressão em um assalto. Passou por muitos tratamentos de reabilitação e ficou afastado do piano e da regência. A obstinação de João Carlos Martins em voltar a sua arte permitiu a retomada da atuação como pianista e maestro e a dedicação a projetos sociais de música que vêm formando crianças e jovens.
Maestro João Carlos Martins na solenidade.
Alexandre Kalache admitiu a emoção com que acompanhou a apresentação do maestro e do grupo da Fundação Bachiana e ressaltou que foi possível ver na prática o que é o envelhecimento ativo. E que também ficou ilustrado o que vem sendo chamado de “Geratividade”, a junção de “gerações e atividades” que implica que cada um saia de seu foco para um foco muito maior, estendido a todas as gerações. Além disso, o maestro é o exemplo vivo dos pilares do envelhecimento ativo: a saúde, que é indispensável para continuar a participar na sociedade; a educação continuada, para uma aprendizagem ininterrupta; participação e proteção, integradas nos espaços dos projetos sociais sob a liderança de João Carlos Martins e na sensibilidade social de proteger aqueles que estão em situação desfavorável.
Passou, então, ao objeto de sua palestra: as origens do projeto Amigo do Idoso no Rio e como transformou a idéia em programa para o mundo inteiro – hoje em andamento em 1.200 cidades Amigas dos Idosos, envolvendo transporte, habitação, participação social, respeito e inclusão social, participação cívica e emprego, comunicação e informação, serviços comunitários e de saúde, espaços ao ar livre e edifícios. Esses são aspectos abordados no “Guia da OMS das Cidades Amigas das Pessoas Idosas”, lançado em outubro de 2007 e disponível no site da organização para acesso gratuito.
As origens do Programa de São Paulo, um “estado” Amigo do Idoso, remontam a um evento realizado no Hospital dos Servidores do Estado, em 2011, quando Alexandre Kalache solicitou a intermediação de Latif Abrão Jr., Superintendente do Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual (Iamspe), para apresentar o projeto ao governador Geraldo Alckmin.
Governador Geraldo Alckmin discursa no lançamento do Selo de Adesão do Programa São Paulo Amigo do Idoso.
Notícia no site do Governo de São Paulo:
Fotos de acervo do Centro Internacional de Longevidade.