segunda-feira, 31 de março de 2014

Medicina de Família no Reino Unido – a formação até dos dias de hoje

Da promoção da saúde ao cuidado integral, a Medicina de Família é o lugar do olhar abrangente sobre as condições de saúde das pessoas em geral, entre elas a pessoa idosa, com todas as especificidades do processo de envelhecimento.
 
O artigo “A evolução do treinamento em Medicina de Família no Reino Unido” (título original: General practice in the United Kingdom – a training evolution), do médico britânico Patrick Hutt, traça uma linha do tempo da formação em diferentes épocas e em contextos indutores da crescente opção por essa atividade profissional. Patrick Hutt aborda a educação médica, os primórdios da clínica geral, as diferentes maneiras com que a formação foi organizada e reformulada, as escolhas de especialidades durante a formação e o desenho dos cursos. O artigo está disponível na edição atual da Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (RBMFC) - uma publicação científica trimestral da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.
 
Patrick Hutt
 
Mudanças preparam a educação médica para formar mais generalistas
 
Enquanto ao longo do século XX um médico concluía o curso de medicina sem ter passado pela clínica geral, atualmente, de acordo com o artigo de Patrick Hutt, no Reino Unido, o aluno de medicina estuda suas questões desde as primeiras semanas da graduação.
 
Essa estratégia redirecionou o perfil da formação para o estabelecimento de maior contato com os conhecimentos e práticas da medicina de família e comunidade, o que permite que os estudantes se familiarizem com o manejo de doenças crônicas, treinem a capacidade de comunicação e se inteirem sobre tudo o que diz respeito à clínica geral. Para o Dr. Hutt, desse modo, também a escolha da área de atuação se estrutura em bases mais sólidas.
 
O artigo relata que o Reino Unido criou, em 2005, um módulo de dois anos, o Foundation Programme, composto por um treinamento supervisionado que conecta a educação médica com a especialização ou a formação em clínica geral. No segundo ano do treinamento é usual que muitos estudantes participem de atividades de formação médica generalista, nas quais desenvolvem a noção de continuidade do cuidado, de visitas domiciliares e do ambiente de equipe requerido pela atenção primária.
 
Em seu artigo, Patrick Hutt informa que em 2013 mais de 40% dos médicos do segundo ano do Foundation Programme, realizado em forma de rodízio, passaram pela formação generalista. A extensa opção por trabalhar na atenção primária também se expressa nos números de profissionais atuantes na Medicina de Família em 2013: 47% dos médicos do Reino Unido. A meta do Governo para 2015 é chegar aos 50%.
 
Patrick Hutt discute a situação atual para a escolha da especialidade nos dias de hoje e detalha a formação específica, constituída por treinamento específico (Specialty Training) em três níveis. O médico ressalta que o artigo não esgota o tema e representa um estímulo para que os leitores avancem na exploração do campo da Medicina de Família.
 
O autor do artigo e o Brasil
 
Patrick Hutt apresentou fontes de comparação da Atenção Primária à Saúde no Brasil e no Reino Unido, no Seminário “Atenção Primária à Saúde - mais necessária que nunca face ao envelhecimento populacional - a experiência britânica”, promovido pelo Centro Internacional de Longevidade Brasil (International Longevity Centre Brazil – ILC-BR), em parceria com o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento vinculado ao Instituto Vital Brazil, da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Informações sobre o seminário realizado no dia 3 de setembro de 2013 estão disponíveis no Blog Longeva Idade.
 
O médico Patrick Hutt se formou Clínico Geral (General Practitioner) em 2008, no Reino Unido, e trabalha em Londres (East London), onde é Clinical Associate na Universidade de Londres – Departamento de Atenção Primária e Saúde da População. Sua pesquisa como Clinical Associate investiga temas como policlínica, desigualdades em saúde, educação médica e a prestação de serviços de atenção primária no Japão. Patrick Hutt escreve regularmente sobre General Practice, sendo autor do livro “Confronting an ill Society” (Radcliffe 2005) e, mais recentemente, co-editor de “A Career Companion to Becoming a GP” (Radcliffe 2010). É membro do Comitê Permanente do “Royal College of General Practioner’s Health Inequalities”, que discute as disparidades nos resultados de saúde e a prestação de serviços de saúde para grupos carentes.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Revolução da longevidade foi tema de evento na Folha de São Paulo

O Fórum Saúde do Brasil promovido pela Folha de São Paulo reuniu nos dias 26 e 27 de março personalidades ligadas a temas críticos do setor para um público presente ao Tucarena e para acompanhamento online. Aberto pelo Ministro da Saúde, Arthur Chioro, o evento teve palestra do ex-ministro José Gomes Temporão e de Davi Uip, Secretário de Estado de Saúde de São Paulo, além de diversos experts e representantes da Academia e de instituições da Saúde brasileira.
 
Alexandre Kalache, médico e gerontólogo, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), analisou a revolução da longevidade atravessada pelo Brasil - suas tendências, aspectos demográficos, sociais e econômicos e a urgência de políticas públicas que respondam ao crescente envelhecimento populacional.
 
A íntegra da palestra de Alexandre Kalache está disponível na edição de 27 de março da Folha.

segunda-feira, 24 de março de 2014

É preciso pensar na finitude, dizem debatedores

A formação na área do envelhecimento populacional proporcionada pelo Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE) mobiliza temas indissociáveis da prática a ser fortalecida por seus processos de ensino-aprendizagem. E a opção por desenvolver um pensamento sobre a finitude terá destaque neste ano de 2014, começando com o primeiro de uma série de eventos no dia 20 de março passado.
 
O Fórum “Finitude em Questão”, realizado em parceria com a PUC-Rio, foi aberto pela diretora do CEPE, Thelma Rezende, médica e pesquisadora, com algumas reflexões sobre o tema que considera “problema dos vivos”.  Seu convidado, o filósofo, professor Edgar Lyra, da PUC-Rio, introduziu a finitude e a morte de uma maneira interdisciplinar. Falou sobre a multiplicidade de perspectivas: médica, filosófica, mítica e religiosa, socioeconômica, antropológica, psicanalítica, ética e jurídica, poético-literária e cientifica.
À esquerda, Professor Edgar Lyra, da PUC-Rio, com a Dra. Thelma Rezende, diretora do CEPE.
 
Edgar Lyra ponderou que “não temos conhecimento (sobre a morte), podemos apenas acreditar. Finitude não é a mesma coisa que a morte. Morte é a possibilidade mais extrema da vida. A morte é sempre uma possibilidade, mas não ‘vivemos’ a morte. Há movimento científico com objetivo de ‘curar a morte’”. As referências do professor Lyra são suas leituras de Martin Heidegger.
 
Durante o debate, Thelma Rezende provocou afirmando que “não temos educação para a morte”. Entre outros comentários, a Dra. Louise Plouffe, do ILC-BR, aprofundou esta ideia dizendo que “a finitude é uma fonte de alegria porque nos faz buscar as coisas eternas na nossa vida. Sem consciência da finitude talvez a gente nem buscasse”.

Silvia M. M. Costa e Ina Voelcker (ILC-BR)

sexta-feira, 14 de março de 2014

Demanda da sociedade para inclusão de estudos sobre envelhecimento nos currículos escolares é rejeitada

Parecer da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania publicado em 13 de março rejeitou a Proposta de Emenda à Constituição nº 15, de 2008, do Senador Geovani Borges e outros, “que introduz parágrafo no art. 230 da Constituição, para obrigar os sistemas de ensino a inserir a temática dos idosos em todos os níveis e etapas da educação escolar.”
 
O relator do Parecer, Senador Magno Malta, argumenta que a demanda já está contemplada no Estatuto do Idoso, artigo 22, que estabelece a inserção de conteúdos sobre o processo de envelhecimento nos currículos de todos os níveis de ensino formal, visando “ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria”. Embora tenha rejeitado a proposta, para o Senador Magno Malta não há impedimentos regimentais, jurídicos ou constitucionais para a inclusão da emenda de 2008.