sexta-feira, 3 de maio de 2013

Seminário “As políticas públicas do envelhecimento no Canadá”


Há muito o que aprender com a experiência de quem já implantou políticas públicas relacionadas ao envelhecimento populacional, enfrentou os desafios e, como país envelhecido, persiste na busca de inovações.
 
Esse foi o objetivo do seminário “As políticas públicas do envelhecimento no Canadá”, que discutiu a vivência do Canadá com a iniciativa "Comunidades amigas do idoso" (CAI). A exposição foi realizada pela pesquisadora responsável por diversas ações da iniciativa, Dra. Louise Plouffe, cidadã canadense, que agora integra os quadros do Centro Internacional de Longevidade (International Longevity Centre - ILC-Brazil), co-desenvolvedora do Projeto “Cidades Amigas das Pessoas Idosas”, da Organização Mundial da Saúde, juntamente com o médico e gerontólogo, Alexandre Kalache, presidente do ILC-Brazil, que, em seguida, moderou o debate com a mesma, além dos debatedores convidados, a psicóloga e gerontóloga Laura Mello Machado e o coordenador de pesquisa da Secretaria do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, Helio Furtado.
 
O seminário foi realizado no dia 30 de abril (terça-feira), de 10:00 às 12:30, no auditório do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), como ação conjunta com o ILC-Brazil. Este foi o quarto seminário do ciclo “Inovações em Políticas Públicas sobre Envelhecimento”, que apresentou a Proposta do Chile para uma Política Nacional para Alzheimer e outras demências (21 de fevereiro); Cidade de Nova Iorque Amiga do Idoso (26 de fevereiro) e Estado de São Paulo Amigo do Idoso (26 de março).
 
Em sua palestra, Louise desenhou as grandes linhas dos contextos geográfico, demográfico e político do Canadá e das políticas principais da Saúde e da aposentadoria, em uma sociedade desenvolvida e envelhecida.  A palestrante mostrou a oportunidade representada pela implantação de iniciativas “Cidades Amigas das Pessoas Idosas” e traçou diversos paralelos entre Canadá e Brasil.
 
Os desafios e as oportunidades

Falando do sistema público de saúde, Louise afirmou que “ele é melhor para curar do que para cuidar, porque a ênfase está nos serviços médicos e hospitalares e não nos cuidados continuados para incapacidades ou doenças crônicas”.
 
Um aspecto destacado por Louise foi o cuidado dos idosos, tendo em vista que apenas 7% dos idosos canadenses moram em instituições de longa permanência. Os idosos que têm parentes recebem a maior parte do suporte (cerca de 80%) de seus cônjuges e filhos.
 
Os idosos sem parentes dependem de “cuidadores informais” das comunidades, como vizinhos, igrejas, grupos comunitários, que representam cerca de 44% do suporte – sendo de 37% o serviço de cuidadores formais, profissionais. Desse modo, formam-se redes cada vez mais solicitadas para cuidar dos idosos.
 
Também os idosos contribuem com trabalho voluntário, em torno de 240 horas ao ano, quase o dobro das horas dedicadas pelos mais jovens. No Canadá, a cada três idosos, um é voluntário. E o aumento da população idosa representa um aumento dessa força de participação indispensável ao bom funcionamento da sociedade, que segundo Louise Plouffe, “precisa mais oportunidades para atuar na comunidade e contribuir”.
 
Quanto à participação de idosos na mão de obra, cerca de 20% das pessoas de 65 anos e mais continuam trabalhando depois dessa idade, sendo, em sua maioria, em trabalho de meio-expediente. “A quantidade desses trabalhadores idosos pode aumentar nos próximos anos, no contexto econômico difícil vivido pelos países desenvolvidos.” Então, para Louise Plouffe, “É importante que essas pessoas recebam treinamento e oportunidades de trabalho gratificante com horários flexíveis, que paguem um salário decente - e não os mantenha em subempregos. Ainda são poucos os empregadores que atraem e favorecem o trabalho das pessoas mais velhas.”
 
Canadá favorece Envelhecimento Ativo

A maioria das dez províncias está envolvida oficialmente em esforços para enfrentar os desafios do envelhecimento, com planos estratégicos para aproveitar o “dividendo da longevidade”, ou seja, os ganhos alcançados pela longevidade, como informa Louise Plouffe. A criação das Comunidades Amigas do Idoso faz parte do planejamento estratégico de, pelo menos, 850 comunidades envolvidas nessa iniciativa.
 
Louise Plouffe conta que o Canadá pretende “criar um ambiente propício ao envelhecimento ativo, capital social forte e comunidades com alto nível de habitabilidade ​​para todas as idades”. Há que se considerar que o Canadá foi o primeiro país a aderir à incitiativa Cidades Amigas dos Idosos, quando lançada, e a fornecer recursos financeiros e humanos para o projeto.
 
Em debate, o enfoque Amigo do Idoso
Iniciando o debate, o moderador Alexandre Kalache fez comparações com o Brasil. “O Brasil está envelhecendo mais rapidamente do que o Canadá. Se o envelhecimento apresenta desafios importantes para o Canadá, o que se pode dizer sobre o Brasil, onde há problemas infra-estruturais importantes não resolvidos - como educação de qualidade para todos, infra-estrutura, saneamento, criação de trabalho digno”. O doutor Kalache destacou também os desafios no que diz respeito ao sistema de saúde: “O sistema ainda preconiza a cura e não o cuidado. O cuidado no Brasil ainda tem um forte viés familiar - mas isso está mudando com a modernização do país e a participação da mulher na força de trabalho”.
 
A debatedora Laura Machado ressaltou o aspecto da “participação dos idosos nas decisões e nas ações e na questão da cidadania e da intersetorialidade como pontos essenciais para a formulação de políticas públicas efetivas”.
 
Identificou, ainda, uma semelhança entre Brasil e Canadá, no que tange à falta de preparo dos profissionais para o cuidado, com considerações sobre a função do Geriatra para a capacitação das equipes para lidarem com as implicações do envelhecimento em sua prática cotidiana.
 
Algumas conclusões apontaram para a necessidade de se cultivar uma cultura do voluntariado, políticas de Estado – ao invés de políticas de governo, a incorporação do respeito ao idoso. O envelhecimento oferece boas perspectivas de intercâmbio entre o Brasil e o Canadá que a presença da Dra. Plouffe entre nós irá estimular.
 
 
 
 
---
O Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brazil) é uma organização filiada à rede global de International Longevity Centers (ILCs), instituídos como “usinas de idéias” (think tanks) para políticas públicas intersetoriais voltadas ao envelhecimento populacional. Como espaço autônomo de ideias, se destina à produção do conhecimento, troca de informações, mobilização social e relações internacionais sobre os temas da longevidade e do envelhecimento. Atua em parceria com o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), do Instituto Vital Brazil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário