Há muito o que aprender
com a experiência de quem já implantou políticas públicas relacionadas ao
envelhecimento populacional, enfrentou os desafios e, como país envelhecido,
persiste na busca de inovações.
Esse foi o objetivo do
seminário “As políticas públicas do envelhecimento no Canadá”, que discutiu a
vivência do Canadá com a iniciativa "Comunidades amigas do
idoso" (CAI). A exposição foi realizada pela pesquisadora responsável
por diversas ações da iniciativa, Dra. Louise Plouffe, cidadã canadense, que agora
integra os quadros do Centro Internacional de Longevidade (International
Longevity Centre - ILC-Brazil), co-desenvolvedora do Projeto “Cidades Amigas
das Pessoas Idosas”, da Organização Mundial da Saúde, juntamente com o médico e
gerontólogo, Alexandre Kalache, presidente do ILC-Brazil, que, em seguida,
moderou o debate com a mesma, além dos debatedores convidados, a psicóloga e
gerontóloga Laura Mello Machado e o coordenador de pesquisa da Secretaria do
Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, Helio Furtado.
O seminário foi
realizado no dia 30 de abril (terça-feira), de 10:00 às 12:30, no auditório do
Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), como ação conjunta com o ILC-Brazil.
Este foi o quarto seminário do ciclo “Inovações em Políticas Públicas sobre
Envelhecimento”, que apresentou a Proposta do Chile para uma Política Nacional
para Alzheimer e outras demências (21 de fevereiro); Cidade de Nova Iorque
Amiga do Idoso (26 de fevereiro) e Estado de São Paulo Amigo do Idoso (26 de
março).
Em sua palestra,
Louise desenhou as grandes linhas dos contextos geográfico, demográfico e
político do Canadá e das políticas principais da Saúde e da aposentadoria,
em uma sociedade desenvolvida e envelhecida. A palestrante mostrou a oportunidade
representada pela implantação de iniciativas “Cidades Amigas das Pessoas Idosas”
e traçou diversos paralelos entre Canadá e Brasil.
Os desafios e as oportunidades
Falando do sistema público de saúde, Louise afirmou que “ele é melhor para curar do que para cuidar, porque a ênfase está nos serviços médicos e hospitalares e não nos cuidados continuados para incapacidades ou doenças crônicas”.
Um aspecto destacado
por Louise foi o cuidado dos idosos, tendo em vista que apenas 7% dos idosos
canadenses moram em instituições de longa permanência. Os idosos que têm
parentes recebem a maior parte do suporte (cerca de 80%) de seus cônjuges e
filhos.
Os idosos sem parentes
dependem de “cuidadores informais” das comunidades, como vizinhos, igrejas,
grupos comunitários, que representam cerca de 44% do suporte – sendo de 37% o
serviço de cuidadores formais, profissionais. Desse modo, formam-se redes cada
vez mais solicitadas para cuidar dos idosos.
Também os idosos
contribuem com trabalho voluntário, em torno de 240 horas ao ano, quase o dobro
das horas dedicadas pelos mais jovens. No Canadá, a cada três idosos, um é
voluntário. E o aumento da população idosa representa um aumento dessa força de
participação indispensável ao bom funcionamento da sociedade, que segundo
Louise Plouffe, “precisa mais oportunidades para atuar na comunidade e
contribuir”.
Quanto à participação
de idosos na mão de obra, cerca de 20% das pessoas de 65 anos e mais continuam trabalhando
depois dessa idade, sendo, em sua maioria, em trabalho de meio-expediente. “A
quantidade desses trabalhadores idosos pode aumentar nos próximos anos, no
contexto econômico difícil vivido pelos países desenvolvidos.” Então, para
Louise Plouffe, “É importante que essas pessoas recebam treinamento e oportunidades de trabalho gratificante com horários
flexíveis, que paguem um salário decente - e não os mantenha em subempregos. Ainda são poucos os empregadores que atraem e favorecem o trabalho das
pessoas mais velhas.”
Canadá favorece Envelhecimento Ativo
A maioria das dez províncias está envolvida oficialmente em esforços para enfrentar os desafios do envelhecimento, com planos estratégicos para aproveitar o “dividendo da longevidade”, ou seja, os ganhos alcançados pela longevidade, como informa Louise Plouffe. A criação das Comunidades Amigas do Idoso faz parte do planejamento estratégico de, pelo menos, 850 comunidades envolvidas nessa iniciativa.
Louise Plouffe conta
que o Canadá pretende “criar um ambiente propício ao envelhecimento ativo,
capital social forte e comunidades com alto nível de habitabilidade para
todas as idades”. Há que se considerar que o Canadá foi o
primeiro país a aderir à incitiativa Cidades Amigas dos Idosos, quando lançada,
e a fornecer recursos financeiros e humanos para o projeto.
Em debate, o enfoque Amigo do Idoso
Iniciando o debate, o
moderador Alexandre Kalache fez comparações com o Brasil. “O Brasil está
envelhecendo mais rapidamente do que o Canadá. Se o envelhecimento apresenta
desafios importantes para o Canadá, o que se pode dizer sobre o Brasil, onde há
problemas infra-estruturais importantes não resolvidos - como educação de
qualidade para todos, infra-estrutura, saneamento, criação de trabalho digno”.
O doutor Kalache destacou também os desafios no que diz respeito ao sistema de
saúde: “O sistema ainda preconiza a cura e não o cuidado. O cuidado no Brasil
ainda tem um forte viés familiar - mas isso está mudando com a modernização do
país e a participação da mulher na força de trabalho”.
A debatedora Laura
Machado ressaltou o aspecto da “participação dos idosos nas decisões e nas
ações e na questão da cidadania e da intersetorialidade como pontos essenciais
para a formulação de políticas públicas efetivas”.
Identificou, ainda,
uma semelhança entre Brasil e Canadá, no que tange à falta de preparo dos
profissionais para o cuidado, com considerações sobre a função do Geriatra para
a capacitação das equipes para lidarem com as implicações do envelhecimento em sua
prática cotidiana.
Algumas
conclusões apontaram para a necessidade de se cultivar uma cultura do
voluntariado, políticas de Estado – ao invés de políticas de governo, a
incorporação do respeito ao idoso. O envelhecimento oferece boas perspectivas
de intercâmbio entre o Brasil e o Canadá que a presença da Dra. Plouffe entre nós
irá estimular.
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O Centro Internacional
de Longevidade (ILC-Brazil) é uma organização filiada à rede global de
International Longevity Centers (ILCs), instituídos como “usinas de idéias”
(think tanks) para políticas públicas intersetoriais voltadas ao envelhecimento
populacional. Como espaço autônomo de ideias, se destina à produção do
conhecimento, troca de informações, mobilização social e relações
internacionais sobre os temas da longevidade e do envelhecimento. Atua em
parceria com o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), do Instituto
Vital Brazil.
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