As
declarações do ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, publicadas em 22 de
janeiro, pelo jornal O Globo, sobre abreviar a vida das pessoas idosas, que
deveriam “se apressar e morrer para poupar gastos do governo com a saúde
pública” suscitam importantes pontos sobre os cuidados ao final da vida e o
processo do morrer na velhice que o Centro Internacional de Longevidade -
International Longevity Centre no Brasil (ILC-Brazil) acredita ser
indispensável discutir.
À
medida que as populações envelhecem, questões sobre autonomia, dignidade,
consentimento informado e morte digna em relação aos cuidados do final da vida
passam a ganhar mais atenção e importância. No Japão, 32% da população têm mais
de 60 anos de idade. No ano 2050, é previsto chegar a 42%. O envelhecimento
populacional é acompanhado de um aumento das doenças crônicas e isso contribui
para um aumento dos custos com cuidados sociais e da saúde. No entanto, este
olhar exclusivo nos custos distorce fatos. Nega, por exemplo, as contribuições
de pessoas idosas à sociedade, o fato é que nem todas as pessoas idosas padecem
de doenças de longa duração no final da vida e o alto custo e a morte em
pessoas muito idosas é muito menos custosa que a morte pela mesma causa de uma
pessoa mais jovem, como assinalado em vários estudos tanto na Europa como na
América do Norte.
A
evidência disponível em um país como o Canadá mostra de modo inequívoco que
doenças e a explosão da tecnologia biomédica são os condutores dos altos
custos. E que a melhor forma de controlar os custos que tanto preocupam o
Ministro Aso é investir em promoção da saúde e prevenção das doenças – de modo
a manter pessoas idosas o mais saudáveis possível pelo mais longo período de
tempo possível. No entanto, se elas adoecem e se tornam frágeis, tanto elas
como seus familiares que deles cuidam devem ser bem suportados na comunidade
para evitar - ou, ao menos, postergar - hospitalizações, estas sim muito
custosas.
Pessoas
no final da vida - sejam estas em que idade for - têm necessidades complexas.
Muitos precisam de cuidados paliativos para controlar e aliviar dores e manter
a qualidade de vida. O lugar preferido - e, em geral, menos caro - para morrer
é a própria casa. No entanto, os sistemas de saúde não facilitam isto - ao
contrário: é mais cômodo para os profissionais institucionalizarem os pacientes
terminais. Tais sistemas tampouco oferecem, na maioria dos casos, o apoio
necessário (médico, emocional, psicológico, espiritual) que os familiares
necessitam para cuidar de seus idosos. Além disto, qualquer paciente com uma
doença terminal precisa ter informações sobre as opções de cuidado com
antecedência – antes de entrar na fase terminal da doença.
Na
carta de San José sobre direitos das pessoas idosas na América Latina e no
Caribe de 2012 esse assunto está bem articulado: o consentimento livre e
informado, prévio a qualquer intervenção médica, independente da idade, saúde
ou tratamento, de maneira a promover a autonomia da pessoa idosa deve ser
assegurado e o desenvolvimento e o acesso ao cuidado paliativo, para assegurar
morte digna e sem dor à pessoa idosa em fase terminal de doença deve ser
promovido. A visão articulada pelo Ministro Aso, conforme veiculada, seria
discriminatória, preconceituosa, demonstraria mau julgamento e certamente não
seria condizente com um país tão envelhecido que até hoje se caracterizava pelo
respeito e pela reverência que dedica a seus idosos.
Alexandre Kalache, Louise Plouffe, Ina Voelcker, Silvia Costa, Paul Faber