sexta-feira, 18 de março de 2016

Encerramento deste blog



O Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) encerra as atividades deste blog que começou suas postagens em outubro de 2012.

Até dezembro de 2015 foram veiculadas iniciativas e reflexões voltadas aos temas do envelhecimento populacional de interesse global, bem de acordo com a missão que lhe foi definida.

No período, o blog foi referência para atividades acadêmicas e de imprensa, inclusive para os interlocutores que acompanham o ILC-BR no Facebook, onde as postagens sempre foram replicadas.

A partir desta data, as informações que seriam aqui postadas estarão disponíveis no site – em inglês: http://www.ilcbrazil.org/ – e em português: http://www.ilcbrazil.org/portugues.


Equipe do ILC-BR

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O que as cidades brasileiras precisam fazer para serem amigáveis à pessoa idosa?




Qualquer aspecto da vida humana pode ser amigável à pessoa idosa e a todas as idades. A adaptação da sociedade às especificidades do idoso facilita a toda a população e precisa fazer parte das políticas públicas.

Matéria do jornal Valor Econômico de 18 de dezembro traz entrevista de Alexandre Kalache, médico e gerontólogo, ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) e atual presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (Global Alliance of International Longevity Centres – ILC-GA). A matéria foi publicada no caderno Eu & Fim de Semana, página 3.

Na entrevista, Kalache analisa as duas principais tendências do século XXI – urbanização e envelhecimento populacional – e as transformações necessárias ao enfrentamento dos desafios colocados pelo aumento da longevidade na sociedade brasileira, muito voltada ao jovem: “Em uma sociedade que envelhece e se urbaniza ao mesmo tempo, é preciso planejar para ela ser mais humanizada e observar questões relacionadas às políticas de moradia, transporte, educação, acesso a trabalho, inclusão social, comunicação e informação, acesso a serviços sociais, de saúde e qualidade dos espaços públicos”.  As questões indicadas por Alexandre Kalache integram o enfoque “amigo do idoso” - aplicação prática do Marco Político do Envelhecimento Ativo, produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2002, atualizado pelo ILC-BR sob a condução de Alexandre Kalache e lançado em versão global, em julho de 2015. 

Desde sua concepção, o enfoque “amigo do idoso” é aplicado a comunidades, porteiros, transportes, empresas, comércio, entre muitos outros segmentos da vida em sociedade.

As iniciativas amigáveis às pessoas idosas são implantadas sob demanda da sociedade civil, em associação com os conselhos municipais dos direitos dos idosos e com os setores público, acadêmico e privado, baseados em intersetorialidade. É indispensável o protagonismo das pessoas idosas - em abordagem de baixo para cima. O resultado das iniciativas é a proposição de políticas públicas para o envelhecimento ativo, recomendadas em planos de ação, monitorados e avaliados continuamente.

O Brasil, entre seus mais de cinco mil municípios, tem cidades em processo de elaboração de iniciativas amigáveis às pessoas idosas e de adesão à Rede Global da OMS de Cidades e Comunidades Amigas do Idoso. A Rede foi criada em 2010 e agrega, no momento, 287 cidades e comunidades em 33 países, cobrindo 113 milhões de pessoas.


Políticas de Envelhecimento Ativo implantadas em cidade australiana... e no Brasil?

Uma cidade onde se aproveita a vida ao máximo: promove saúde e bem estar, é acessível para todos e oferece oportunidades para que as pessoas se conectem, participem e possam contribuir. Segundo o prefeito da Cidade de Unley, na Austrália, esses são princípios para uma cidade amiga das pessoas idosas.

Para o prefeito Lachlan Clyne, a premissa central da Estratégia de Envelhecimento Ativo da Cidade de Unley - recém publicada, é que “o envelhecimento é motivo de celebração”. No prefácio da publicação sobre a Estratégia, o prefeito Clyne afirma que há maior compreensão do envelhecimento e de sua influência na vida de cada um e na comunidade.

O elemento chave para o engajamento de Unley em um projeto de Cidade Amiga do Idoso se originou da participação no Programa “Thinker in Residence” em que Alexandre Kalache, em 2011/2012, desenvolveu os estudos sobre a Revolução da Longevidade, com base no conceito de Envelhecimento Ativo. Kalache também é prefaciador desta publicação.

Logo em seguida, em 2012, a Cidade de Unley criou o primeiro Conselho na Austrália do Sul (que agora conta com treze) e se vinculou à Rede Global da OMS de Cidades Amigáveis aos Idosos. Essa adesão à Rede significa que Unley é uma cidade onde as pessoas são capazes de contribuir independente da sua idade e representa uma demonstração concreta de que o município se empenha em melhorar a qualidade de vida dos moradores mais velhos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Varal Natalino do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento

Um grupo de pessoas idosas frequentou as aulas da Oficina Criativa com Livros Artesanais para produzir o Varal Natalino do Cepe (Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento, do Instituto Vital Brazil – vinculado à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro).

Para encerrar o ciclo de aulas, todos penduraram seus livros no “Varal”, com motivos natalinos. Algumas pessoas confeccionaram presentes afetivos para os seus. Outros, registraram suas lembranças. No final, lá estavam os livros no Varal Natalino.

Participantes da Oficina pendurando seus produtos
A coordenadora geral do Cepe, a médica Thelma Rezende, na abertura do evento, ressaltou como achou bonito ver as trocas entre os participantes durante a Oficina, nessa atividade voltada ao desenvolvimento de novas habilidades e ao estímulo da cognição. Para Thelma, “... é preciso achar graça na vida, colocar cor na vida.” Enfatizou, ainda, que esse evento fecha o ciclo de atividades do Cepe para a comunidade, este ano.

Entre os participantes, a maioria era de mulheres, mas havia um homem. A Oficina foi idealizada pelo Designer Gráfico do Cepe, Boris Garay, também tutor, juntamente com a Psicóloga Patrícia Fernandes e a Terapeuta Ocupacional Helena L. Rawet.

Foi feita uma apresentação da Oficina Criativa com Livros Artesanais para a montagem de composições visuais com desenho, recortes e fotografias. Boris Garay explicou que o objetivo era produzir livros personalizados, em que cada participante escolhe o título e cria a capa. Segundo Boris, “a ênfase é no visual, devido à heterogeneidade da população e ao aumento da cultura da imagem em nossa sociedade, especialmente a partir dos anos 50, quando surge a televisão.”

A primeira iniciativa, Oficina do Livro Criativo, gerou o Varal Literário.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Mobilidade Urbana e o envelhecimento populacional no Rio de Janeiro

Caminhar pela cidade...
Em momento de esforços para repensar a mobilidade das pessoas pelas cidades, com qualidade nos deslocamentos por seus espaços, coloca-se a oportunidade de discutir o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) para o município do Rio de Janeiro à luz das demandas da população idosa.

O Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) esteve presente em iniciativas da Prefeitura do Rio de Janeiro abertas à participação social para o desenvolvimento do PMUS: (1) Encontro “Que mobilidade queremos”, dia 14 de março, promovido pelo ITDP Brasil com o apoio da Prefeitura; (2) Oficina Participativa para o PMUS, em 25 de julho; e (3) Apresentação e discussão do Diagnóstico da Mobilidade no Rio, dia 5 de dezembro. O ano de 2015 marca o prazo final para que os municípios brasileiros com mais de 20.000 habitantes apresentem um plano local, conforme estabelecido pela Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Nº 12.587, de 3 de Janeiro de 2012).

A potencial oportunidade da Prefeitura para receber demandas da população idosa ficou incompleta, por ter-se limitado ao planejamento da gratuidade no transporte e da acessibilidade aos veículos. Entretanto, o preparo da sociedade vai muito além, posto que "mobilidade urbana" pressupõe também, entre outras questões, as relações humanas e as atitudes de profissionais e usuários, para a superação de conflitos suscitados por estigmas e discriminação.

Quanto às relações no setor de transportes, a qualificação dos profissionais é essencial para que lidem com o envelhecimento da população, devendo estar empoderados para recomendar respeito aos assentos preferenciais e gentileza aos demais passageiros. Devem também garantir o embarque de todos e o cumprimento da legislação sobre a gratuidade, assim como promover uma atitude de tolerância com os beneficiários da Lei.

Na dimensão estrutural dos ônibus, entre outros pontos a serem melhorados, está a instalação de apoio dianteiro nos assentos preferenciais, visando diminuir o risco de acidentes  em caso de freadas bruscas e solavancos, além do ajuste em avisos e informes do interior dos ônibus e das paradas, que usam letras pequenas e textos longos, dificultando a leitura.

SOBRE O PMUS

Na Cidade do Rio de Janeiro, a elaboração do PMUS é conduzida pela Secretaria Municipal de Transportes e pelo laboratório da Prefeitura, o LabRio, que especifica em seu site que a participação da sociedade no PMUS “acontece nos níveis de consulta e envolvimento”, com ferramentas digitais e presenciais.

  • A Oficina Participativa acima citada (25 de Julho) tinha como objetivo o levantamento de problemas pelos participantes, segundo Áreas de Planejamento (AP) da cidade, para sistematização pelas as equipes do LabRio e da Secretaria Municipal de Transportes.
  • No decorrer da reunião deste sábado, dia 5 de dezembro, para “Apresentação e discussão do Diagnóstico da Mobilidade no Rio”, as equipes do LabRio e da Secretaria Municipal de Transportes ressaltaram o caráter estratégico do PMUS, que não incluirá as questões operacionais encaminhadas pela Oficina de 25 de julho e por meio do sistema Mapeando.

Sendo assim, para além da gratuidade e da acessibilidade, o ILC-BR recomenda que o PMUS, em consideração ao envelhecimento humano, proponha políticas de respeito aos direitos de cidadania e à qualidade de vida das pessoas idosas. O crescente envelhecimento populacional é uma conquista que traz o desafio de preparar uma sociedade inclusiva e adequada aos cidadãos idosos, em vista de seus direitos e das singularidades dessa etapa da vida, ademais da tendência de que muitas pessoas venham a experimentar a velhice. O PMUS orientará investimentos durante os próximos 10 anos e seu escopo deve contemplar a transição demográfica que caracteriza o período.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Igualdade salarial para mulheres e homens?

Diferenças entre mulheres e homens, alterações demográficas profundas e um acelerado envelhecimento populacional influenciam a vida social com reflexos no atual paradigma das relações entre gêneros. Apesar de não haver mais lugar para papéis de gênero inflexíveis, as mudanças são demoradas. A menor expectativa de vida do homem em relação à mulher e a tradição do cuidado atribuído à mulher, entre outros fatores, produzem a chamada “feminização do envelhecimento”, com efeitos cumulativos das desvantagens baseadas em gênero.

Só agora as mulheres estão ganhando o mesmo valor de salários que os homens ganhavam em 2006. Situação decorrente da lenta redução da disparidade de oportunidades econômicas entre homens e mulheres – um período de dez anos que sugere que o mundo vai levar mais de 118 anos - ou até 2133 - para fechar essa lacuna. 

Segundo o Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2015, do Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum), lançado no dia 19 de novembro, o Brasil aparece na posição 85. Assim, o Brasil não está entre os 10 melhores, nem mesmo entre os países latino-americanos.

O Relatório analisou a disparidade global de gênero em quatro pilares: oportunidade econômica, educação, saúde e política. “Em termos econômicos, a desigualdade diminuiu apenas 3%, com avanços em direção à igualdade salarial e à paridade da força de trabalho e atraso significativo desde 2009/2010”.

No pilar da educação, a situação é mista quanto ao acesso. No geral, a disparidade de gênero na área de educação é agora de 95%, ou seja, distante da paridade em 5%, o que indica uma melhoria em relação aos 92% em que se encontrava em 2006. Em todo o mundo, 25 países já eliminaram essa lacuna, sendo o maior progresso no ensino universitário, onde as mulheres constituem agora a maioria dos estudantes em quase 100 países.

Entretanto, os avanços nesse pilar não são tão gerais, pois 22% dos países monitorados continuamente nos dez anos de pesquisa tiveram um aumento da desigualdade no tocante à educação. Constata-se também grande falta de correlação entre a participação de mais mulheres na educação e sua capacidade de ganhar a vida por meio de funções qualificadas ou de liderança.

Com 96%, a Saúde é o pilar que está mais próximo da paridade. Foram 40 países que fecharam a lacuna, sendo cinco nos últimos doze meses. 

Vídeos com depoimentos de membros do Conselho da Agenda Global (Global Agenda Council) sobre Paridade de Gêneros, durante o Summit on the Global Agenda 2015:


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Qual é o lugar do Cuidado Paliativo no sistema de saúde?

Uma definição de cuidados paliativos estabelecida, em 2002, pela Organização Mundial da Saúde, é uma formalização relativamente recente, por que a “filosofia paliativista” tem registros históricos desde a Antiguidade, quando aparece o conceito de “cuidar”, segundo o site da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Desde as primeiras práticas, a trajetória dos cuidados paliativos está relacionada ao alívio do sofrimento humano, mais do que à cura.

A partir da esquerda: Anelise Fonseca, Kylza Estrella,
Filipe Gusman, Lilian Henneman e Patrícia C. Ferreira
O evento “Urgência na saúde: o lugar do Cuidado Paliativo”, promovido pela Aliança para a Saúde Populacional (ASAP), lançou uma agenda sobre o tema, que incluiu o direito de escolha dos pacientes.

Na abertura do evento, o presidente do Conselho Administrativo da ASAP, médico Paulo Marcos Senra Souza, afirmou que “tecnologia e dinheiro” não contribuem para a longevidade, enquanto o uso inteligente e eficiente de recursos, sim, aporta contribuições. O médico caracteriza o momento atual como uma “era de transição, decorrente de queda das taxas de mortalidade e de natalidade; aumento da expectativa de vida; transição epidemiológica; novas formas de comunicar e novas tecnologias”. Em sua análise, a prevenção do adoecimento ainda é desafiadora, “em vista das dificuldades enfrentadas pela recomendação de uma cultura de autocuidado, de criação de relação médico-paciente e de fidelidade de ambos”. Para Paulo, a superação dessas barreiras ajudaria a melhorar os indicadores de saúde-doença. Em um cenário onde todos são responsáveis, “é possível mudar o modelo de fazer gestão de saúde e se ter menos doenças e menos custos”, declara Paulo.

O médico Filipe Gusman, presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos – Sudeste e geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, ao falar sobre “Cuidados Paliativos: desfazendo mitos para ampliar a assistência”, apresentou uma fotografia de Unidade de Terapia Intensiva onde eram vistos os inúmeros aparelhos disponíveis para tratamento. Diante da imagem, indicou perguntas a serem feitas: “A condição do paciente é reversível? Está na última fase? Por quanto tempo manter?” E ressaltou que, por exemplo, um idoso sofrendo, espera alívio e não alta tecnologia – “ele quer ser cuidado”. Para Filipe Gusman, “os cuidados paliativos devem começar quando a pessoa recebe o diagnóstico da doença ameaçadora da vida”.

O tema “O Cuidado Paliativo no hospital e no atendimento domiciliar” foi apresentado por Anelise Fonseca, médica, coordenadora do Núcleo de Cuidados Paliativos da Procare Saúde, que discutiu os cuidados paliativos no atendimento domiciliar e na internação hospitalar. Anelise Fonseca diferenciou os modelos e estruturas nos dois tipos, que, para ela, implicam em cuidado integrado e devem “estar inseridos na discussão diária dos médicos”. 

A médica Patricia Cristina Ferreira, diretora de Relações Empresariais e Medicina Preventiva da Geriatrics, apresentou o “hospice care”, com a palestra “O Cuidado Paliativo em unidade de hospice”. Citou a dinâmica que adaptou de Alexandre Kalache, em que pergunta a pessoas e ou grupos “com que idade acham que vão morrer, como será a morte (doença, acidente etc.), onde será (hospital, asilo, em casa etc.)”, entre outras indagações. Explicou que hospice é uma filosofia do cuidado, para aplicação de cuidados paliativos intensivos a pessoas com doenças em estado avançado e ameaçadoras da vida. Disse, ainda, que “a preferência das pessoas é por morrer em casa”.

Em seguida às apresentações, um debate com os palestrantes foi moderado por Lilian Hennemann, médica do Programa de tratamento da dor e cuidados paliativos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e por Kylza Estrella, Diretora Médica do Grupo Santa Celina. Entre os pontos discutidos, estavam a diferença da internação em casa e em hospital; os 10% das mortes ocorrerem de doença aguda e rápida, enquanto os demais morrem após doença prolongada; e a necessidade de que equipes de cuidados paliativos realizem um luto antecipado.