Uma definição de cuidados paliativos estabelecida, em 2002, pela Organização Mundial da Saúde, é uma formalização relativamente recente, por que a “filosofia paliativista” tem registros históricos desde a Antiguidade, quando aparece o conceito de “cuidar”, segundo o site da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Desde as primeiras práticas, a trajetória dos cuidados paliativos está relacionada ao alívio do sofrimento humano, mais do que à cura.
A partir da esquerda: Anelise Fonseca, Kylza Estrella, Filipe Gusman, Lilian Henneman e Patrícia C. Ferreira |
O evento “Urgência na saúde: o lugar do Cuidado Paliativo”, promovido pela Aliança para a Saúde Populacional (ASAP), lançou uma agenda sobre o tema, que incluiu o direito de escolha dos pacientes.
Na abertura do evento, o presidente do Conselho Administrativo da ASAP, médico Paulo Marcos Senra Souza, afirmou que “tecnologia e dinheiro” não contribuem para a longevidade, enquanto o uso inteligente e eficiente de recursos, sim, aporta contribuições. O médico caracteriza o momento atual como uma “era de transição, decorrente de queda das taxas de mortalidade e de natalidade; aumento da expectativa de vida; transição epidemiológica; novas formas de comunicar e novas tecnologias”. Em sua análise, a prevenção do adoecimento ainda é desafiadora, “em vista das dificuldades enfrentadas pela recomendação de uma cultura de autocuidado, de criação de relação médico-paciente e de fidelidade de ambos”. Para Paulo, a superação dessas barreiras ajudaria a melhorar os indicadores de saúde-doença. Em um cenário onde todos são responsáveis, “é possível mudar o modelo de fazer gestão de saúde e se ter menos doenças e menos custos”, declara Paulo.
O médico Filipe Gusman, presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos – Sudeste e geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, ao falar sobre “Cuidados Paliativos: desfazendo mitos para ampliar a assistência”, apresentou uma fotografia de Unidade de Terapia Intensiva onde eram vistos os inúmeros aparelhos disponíveis para tratamento. Diante da imagem, indicou perguntas a serem feitas: “A condição do paciente é reversível? Está na última fase? Por quanto tempo manter?” E ressaltou que, por exemplo, um idoso sofrendo, espera alívio e não alta tecnologia – “ele quer ser cuidado”. Para Filipe Gusman, “os cuidados paliativos devem começar quando a pessoa recebe o diagnóstico da doença ameaçadora da vida”.
O tema “O Cuidado Paliativo no hospital e no atendimento domiciliar” foi apresentado por Anelise Fonseca, médica, coordenadora do Núcleo de Cuidados Paliativos da Procare Saúde, que discutiu os cuidados paliativos no atendimento domiciliar e na internação hospitalar. Anelise Fonseca diferenciou os modelos e estruturas nos dois tipos, que, para ela, implicam em cuidado integrado e devem “estar inseridos na discussão diária dos médicos”.
A médica Patricia Cristina Ferreira, diretora de Relações Empresariais e Medicina Preventiva da Geriatrics, apresentou o “hospice care”, com a palestra “O Cuidado Paliativo em unidade de hospice”. Citou a dinâmica que adaptou de Alexandre Kalache, em que pergunta a pessoas e ou grupos “com que idade acham que vão morrer, como será a morte (doença, acidente etc.), onde será (hospital, asilo, em casa etc.)”, entre outras indagações. Explicou que hospice é uma filosofia do cuidado, para aplicação de cuidados paliativos intensivos a pessoas com doenças em estado avançado e ameaçadoras da vida. Disse, ainda, que “a preferência das pessoas é por morrer em casa”.
Em seguida às apresentações, um debate com os palestrantes foi moderado por Lilian Hennemann, médica do Programa de tratamento da dor e cuidados paliativos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e por Kylza Estrella, Diretora Médica do Grupo Santa Celina. Entre os pontos discutidos, estavam a diferença da internação em casa e em hospital; os 10% das mortes ocorrerem de doença aguda e rápida, enquanto os demais morrem após doença prolongada; e a necessidade de que equipes de cuidados paliativos realizem um luto antecipado.
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