terça-feira, 25 de agosto de 2015

A luta para a não contenção da pessoa idosa

A palestrante Arianna Kassiadou Menezes
Um tema do cotidiano nem sempre parece ser um problema para o qual buscar uma solução. A geriatra Arianna Kassiadou Menezes, atuante há mais de 33 anos, disse que “foi necessário que alguém a despertasse para a situação, que não chama tanto a atenção dos profissionais de saúde e dos familiares de pessoas idosas”.
 
No seminário “Cultura de não contenção da pessoa idosa – estratégias e desafios”, Arianna Menezes afirmou que “a contenção das pessoas idosas é entendida como várias formas, mecanismos e métodos que, de alguma maneira, vão limitar a pessoa, em um primeiro momento restringindo a mobilidade livre, ou seja, o movimento corporal espontâneo.” E completou que, “em uma visão mais ampla, entende-se como contenção, qualquer medida restritiva do cotidiano, como, por exemplo, a recomendação de que uma pessoa idosa não saia à rua.”
 
Arianna explicou que pode até haver uma justificativa para a medida, mas é uma restrição colocada de fora para dentro, que não é uma escolha da pessoa e, apesar de não ser uma limitação física primária, nem de habilidade cognitiva, é uma ação imposta como proteção e prevenção e, talvez seja muito indicada – mas requer reflexão.
 
O seminário “Cultura de não contenção da pessoa idosa – estratégias e desafios” foi realizado no dia 20 de agosto, de 10h às 12h, promovido pelo Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e pelo Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), com moderação de Alexandre Kalache, presidente do ILC-BR e co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (International Longevity Centres Global Alliance – ILC-GA).
 
A quem se destina a luta pela não contenção?
 
A prática de contenção de pessoas idosas tem sido, habitualmente, empregada em indivíduos com determinadas condições de fragilidade, quando outros indivíduos assumem a responsabilidade por elas. “São pessoas idosas limitadas, seja por uma ação de fechar uma porta, de trancar um quarto, de impedimento da escolha do canal de televisão ou de conter quimicamente”, contextualiza Arianna. Para a geriatra, “ser dependente implica em uma correlação, por que ninguém é dependente do nada, mas de alguma coisa ou de alguém. A dependência ocorre quando alguém compensa as incapacidades e as deficiências de outro alguém.”
 
O trabalho por uma cultura de não contenção da pessoa idosa se destina ao subgrupo de população que se tornou dependente, com restrições de ordem mental ou física, que requerem a participação de outra pessoa para que alcance o que necessita no cotidiano e não consegue fazer de forma autônoma. A quantidade de pessoas idosas em situação de dependência está vinculada à escala em que se insere e varia de 20 a 40% dos idosos, sendo que os idosos com altíssima dependência correspondem a 5% das pessoas idosas, em todo o mundo. “A idade em que a dependência começa, varia de acordo com os países ditos desenvolvidos (início mais tarde) e aqueles ditos em desenvolvimento” pontua Arianna.
 
Para o suporte às pessoas idosas em situação de dependência, os dois lugares prováveis de cuidado são a residência e as instituições de longa permanência de idosos (ILPI). Se houvesse boa disponibilidade de centros-dia, centros de convivência e de centros de demência, diz Arianna, as opções seriam maiores. E acrescenta: “se as ILPIs no Brasil não fossem vistas como lugar para a pobreza, não haveria o uso do leito de hospital como espaço de internação de idosos”.
 
Muitas vezes, a contenção da pessoa idosa adota o discurso da segurança e proteção do paciente, devendo, segundo Arianna, “ser ponderada para não extrapolar os seus possíveis "benefícios" em detrimento do Direito à liberdade, da ética e de um plano terapêutico humano. A luta por uma ‘Cultura de não Contenção em Idosos’ sustenta a conscientização dos profissionais pelos riscos envolvidos na adoção corriqueira desta prática dos direitos humanos e da necessidade de crítica para a adoção das boas práticas em gerontologia, sustentadas em evidências.”
 
Preocupação internacional
 
A “luta” de grupos profissionais em outros países ganhou a adesão de um grupo brasileiro, de Niterói, que foi progressivamente trocando informações com pesquisadores da cidade italiana de Trieste e da cidade argentina de Buenos Aires.
 
Formou-se assim o Grupo da “Tríplice Aliança”, agregador de amigos voluntários, criado em Junho de 2014 por profissionais e pesquisadores ligados ao campo da Geriatria e Gerontologia das cidades de Niterói, no Brasil; Trieste, na Itália e Buenos Aires, na Argentina. Em seguida, foi incorporada a Espanha, que tem várias iniciativas na área e o México por intermédio da página do Grupo no Facebook.
 
Desde então, o Grupo tem se dedicado à difusão da “Cultura de Não Contenção da Pessoa Idosa Dependente” nos espaços científicos e assistenciais e também através de rede virtual.
 
Informações sobre a Palestrante:
Arianna Kassiadou Menezes, geriatra; mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente; titulada como Especialista em Geriatria e Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e pela Associação Médica Brasileira; especialista em Geriatria e Gerontologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua como médica no campo da assistência ambulatorial ao idoso na UFF desde 1983 e tem experiência em medicina geriátrica ambulatorial e domiciliar, em atendimento multidisciplinar à saúde da pessoa idosa, em cuidados prolongados à pessoa idosa em situação de dependência, em gestão e assistência ao idoso em Instituição de Longa Permanência, inclusive nos serviços Longevus e Villa Vecchia, em Niterói. É responsável desde 2011 pelo desenvolvimento do site de divulgação de informação no campo do Envelhecimento.
 
Informações sobre a Debatedora:
Rosimere Ferreira Santana – pós-doutora, professora adjunta da Faculdade de Enfermagem/UFF, atuante em enfermagem geriátrica e sistematização da assistência de enfermagem.
 
Em novembro, o "Grupo da Tríplice Aliança" realizará o Curso Qualidade dos Cuidados de Longo Prazo
 
Com carga horária de de 20 horas, o curso se propõe a discutir aspectos mais práticos e metodologias de intervenção direcionadas aos idosos dependentes, com demência e institucionalizados. O foco é a qualidade dos cuidados de longo prazo. Os dois principais palestrantes são de Trieste-Itália: Fabio Cimador e Gilberto Cherri.
 
Nos dias 27-29 de novembro, o curso será realizado em Niterói, com tradução simultânea.
 
Número de Vagas: 50
Certificado: Núcleo de Estudos e Pesquisa em Enfermagem Gerontológica (NEPEG)/UFF
Local: Anfiteatro do Serviço Ambulatorial da Marinha do Brasil, Ponta D’Areia – Niterói- RJ
Datas e Horários: 
Sexta-Feira 27 Nov 2015 - 14:00 às 18:00
Sábado 28 Nov 2015 - 08:30 às 12:30  e  14:00 às 18:00
Domingo 29 Nov 2015 - 08:30 às 12:30 e 14:00 às 18:00
 
Promoção:
"Grupo da Tríplice Aliança" - que divulga a cultura de não contenção da pessoa idosa.
Apoio:
NEPEG/UFF
Marinha do Brasil
Secretaria de Saúde de Trieste
ILPI Villa Vecchia

3 comentários:

  1. Interessante. Fui lendo e me colocando em uma aula de capacitação para a formação de cuidadores e ao mesmo tempo exercitando a compreensão da frase/conceito "cultura de não contenção da pessoa idosa". Resultado: confusão ...........
    Assim como temos várias categorias de idosos temos também de cuidadores.
    Bom domingo.
    http://vivaavelhice.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. Interessante. Fui lendo e me colocando em uma aula de capacitação para a formação de cuidadores e ao mesmo tempo exercitando a compreensão da frase/conceito "cultura de não contenção da pessoa idosa". Resultado: confusão ...........
    Assim como temos várias categorias de idosos temos também de cuidadores.
    Bom domingo.
    http://vivaavelhice.blogspot.com/

    ResponderExcluir