“Eu não fui programado para estar aqui em 2015”. Foi assim que o médico e gerontólogo Alexandre Kalache, co-presidente da Aliança Global de International Longevity Centres (ILCs) e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), abriu a cerimônia de lançamento do relatório “Envelhecimento Ativo: um Marco Político em Resposta à Longevidade”, dia 15 de julho, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
Alexandre Kalache prosseguiu: “quem nasceu no Brasil, como eu em 1945, esperava viver não mais do que 43 anos.” Assim, justificou sua afirmação de não ter sido ‘programado’ para estar vivo em 2015 e “completar 70 anos - um privilégio de poucos de minha geração”, completou Kalache, insistindo que mais que nunca é seu dever continuar a contribuir ativamente para a sociedade - e para o bem estar dos que, como ele, chegaram à velhice. Kalache lembrou que foi Robert Butler, o mais eminente Gerontólogo do século XX e criador do primeiro Centro Internacional da Longevidade em Nova York, há vinte anos, quem previu esta revolução da longevidade há varias décadas.
Em sessão muito concorrida na ONU, com um público que em muito ultrapassava a capacidade do salão, foi lançada a versão global do relatório “Envelhecimento Ativo: um Marco Político em Resposta à Longevidade” - disponível para download aqui. A publicação foi gerada por pesquisa realizada pela equipe do ILC-BR, sob a orientação de Alexandre Kalache, com fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ e apoio do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), do Instituto Vital Brazil, vinculado à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.
Alexandre Kalache, ao centro, com o microfone. |
Um dia marcante
O lançamento teve lugar durante a 6ª Reunião Permanente do Grupo de Trabalho sobre Envelhecimento (Open-Ended Working Group on Ageing - OEWG). Nele estão representados todos os países membros das Nações Unidas, tendo como objetivo propor mecanismos que, sob uma perspectiva internacional, possam melhor resguardar os direitos das pessoas idosas. Para o evento, o ILC-BR contou com o apoio da AARP (Associação Americana das Pessoas Aposentadas), além de apoio e participação de representantes do Fundo da População das Nações Unidas (UNFPA), Governo argentino, Governo canadense, Federação Internacional de Envelhecimento (IFA) e Coalizão Global de Envelhecimento (Global Coalition on Aging).
A saudação de abertura feita pelo Ambaixador e Representante Permanente da Missão Permanente do Governo do Canadá, Guillermo E. Rishchynski, ressaltou a importância do conceito de Envelhecimento Ativo para o desenvolvimento de políticas públicas no Canadá, em particular através dos projetos de cidades e comunidades amigas do idoso, que já somam mais de 800 em seu país.
O conceito de Envelhecimento Ativo, afirmou Kalache, “foi concebido pela Organização Mundial de Saúde na virada do século e desde então serviu como fundamento para o desenvolvimento de políticas públicas em todo o mundo. Mais que isso: significou uma mudança de paradigma, por anunciar um enfoque positivo, celebrando o envelhecimento da população como a maior conquista social do século passado - trinta anos mais de vida! O que, ao longo da História, sempre se almejou e agora é um privilegio da maioria, não somente das elites”.
O Envelhecimento Ativo também influenciou grandemente a produção acadêmica e guiou o trabalho de organizações intergovernamentais assim como da sociedade civil, desde seu lançamento em 2002. Kalache fez então um breve histórico sobre as origens do conceito e apresentou seus desdobramentos nestes treze anos, introduzindo os pontos chave do conceito original. Em seguida, Louise Plouffe destacou as dimensões principais do novo marco político do Envelhecimento Ativo. Louise, que trabalhou no ILC-BR desde sua criação em 2012 até o início de 2015 e teve como sua principal incumbência a pesquisa bibliográfica em que está alicerçado o novo relatório, explicou que ele “ abraça o envelhecimento como um processo de curso de vida, incluindo a fase final da vida”. Ela também ressaltou que há um alinhamento e uma aproximação do Envelhecimento Ativo com o conceito de resiliência.
O debate entre Monica Roque, do Governo argentino, Jane Barratt, da Federação Internacional de Envelhecimento, Michael Hodin da Coalizão Global de Envelhecimento e Ann Pawliczko, do Fundo de População das Nações Unidas, trouxe perspectivas novas e suplementares ao lançamento. Monica Roque destacou que o relatório será essencial para avançar o trabalho na direção de uma convenção internacional para proteger os direitos humanos das pessoas idosas. Também chamou atenção para o fato de que “hoje em dia nenhum governo pode ser sustentável sem reconhecer as contribuições imensas das pessoas idosas”.
Jane Barrat se mostrou muito entusiástica com a revisão do marco político da OMS que ela antevê como contínua fonte de inspiração para governos ao redor do mundo, como tem sido desde seu lançamento em 2002. Ainda ressaltou o papel do setor privado para que se alcance objetivos plenos de envelhecimento ativo. Michael Hodin aprofundou a discussão sobre a responsabilidade do setor privado dizendo que um curso de vida saudável em todos os aspectos, como, por exemplo, em termos de tratamento da pele, é importante para cada indivíduo, a sociedade e também para o próprio setor privado. A inclusão da educação continuada como quarto pilar do envelhecimento ativo, que foi introduzido mais recentemente, é visto pela UNFPA como um movimento muito favorável.
O público de mais de 100 pessoas era composto por representantes de instituições responsáveis pela implementação das recomendações do relatório sobre o Envelhecimento Ativo: governos, organizações da sociedade civil, setor privado, academia, mídia e organizações intergovernamentais.
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