sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Igualdade salarial para mulheres e homens?

Diferenças entre mulheres e homens, alterações demográficas profundas e um acelerado envelhecimento populacional influenciam a vida social com reflexos no atual paradigma das relações entre gêneros. Apesar de não haver mais lugar para papéis de gênero inflexíveis, as mudanças são demoradas. A menor expectativa de vida do homem em relação à mulher e a tradição do cuidado atribuído à mulher, entre outros fatores, produzem a chamada “feminização do envelhecimento”, com efeitos cumulativos das desvantagens baseadas em gênero.

Só agora as mulheres estão ganhando o mesmo valor de salários que os homens ganhavam em 2006. Situação decorrente da lenta redução da disparidade de oportunidades econômicas entre homens e mulheres – um período de dez anos que sugere que o mundo vai levar mais de 118 anos - ou até 2133 - para fechar essa lacuna. 

Segundo o Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2015, do Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum), lançado no dia 19 de novembro, o Brasil aparece na posição 85. Assim, o Brasil não está entre os 10 melhores, nem mesmo entre os países latino-americanos.

O Relatório analisou a disparidade global de gênero em quatro pilares: oportunidade econômica, educação, saúde e política. “Em termos econômicos, a desigualdade diminuiu apenas 3%, com avanços em direção à igualdade salarial e à paridade da força de trabalho e atraso significativo desde 2009/2010”.

No pilar da educação, a situação é mista quanto ao acesso. No geral, a disparidade de gênero na área de educação é agora de 95%, ou seja, distante da paridade em 5%, o que indica uma melhoria em relação aos 92% em que se encontrava em 2006. Em todo o mundo, 25 países já eliminaram essa lacuna, sendo o maior progresso no ensino universitário, onde as mulheres constituem agora a maioria dos estudantes em quase 100 países.

Entretanto, os avanços nesse pilar não são tão gerais, pois 22% dos países monitorados continuamente nos dez anos de pesquisa tiveram um aumento da desigualdade no tocante à educação. Constata-se também grande falta de correlação entre a participação de mais mulheres na educação e sua capacidade de ganhar a vida por meio de funções qualificadas ou de liderança.

Com 96%, a Saúde é o pilar que está mais próximo da paridade. Foram 40 países que fecharam a lacuna, sendo cinco nos últimos doze meses. 

Vídeos com depoimentos de membros do Conselho da Agenda Global (Global Agenda Council) sobre Paridade de Gêneros, durante o Summit on the Global Agenda 2015:


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Qual é o lugar do Cuidado Paliativo no sistema de saúde?

Uma definição de cuidados paliativos estabelecida, em 2002, pela Organização Mundial da Saúde, é uma formalização relativamente recente, por que a “filosofia paliativista” tem registros históricos desde a Antiguidade, quando aparece o conceito de “cuidar”, segundo o site da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Desde as primeiras práticas, a trajetória dos cuidados paliativos está relacionada ao alívio do sofrimento humano, mais do que à cura.

A partir da esquerda: Anelise Fonseca, Kylza Estrella,
Filipe Gusman, Lilian Henneman e Patrícia C. Ferreira
O evento “Urgência na saúde: o lugar do Cuidado Paliativo”, promovido pela Aliança para a Saúde Populacional (ASAP), lançou uma agenda sobre o tema, que incluiu o direito de escolha dos pacientes.

Na abertura do evento, o presidente do Conselho Administrativo da ASAP, médico Paulo Marcos Senra Souza, afirmou que “tecnologia e dinheiro” não contribuem para a longevidade, enquanto o uso inteligente e eficiente de recursos, sim, aporta contribuições. O médico caracteriza o momento atual como uma “era de transição, decorrente de queda das taxas de mortalidade e de natalidade; aumento da expectativa de vida; transição epidemiológica; novas formas de comunicar e novas tecnologias”. Em sua análise, a prevenção do adoecimento ainda é desafiadora, “em vista das dificuldades enfrentadas pela recomendação de uma cultura de autocuidado, de criação de relação médico-paciente e de fidelidade de ambos”. Para Paulo, a superação dessas barreiras ajudaria a melhorar os indicadores de saúde-doença. Em um cenário onde todos são responsáveis, “é possível mudar o modelo de fazer gestão de saúde e se ter menos doenças e menos custos”, declara Paulo.

O médico Filipe Gusman, presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos – Sudeste e geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, ao falar sobre “Cuidados Paliativos: desfazendo mitos para ampliar a assistência”, apresentou uma fotografia de Unidade de Terapia Intensiva onde eram vistos os inúmeros aparelhos disponíveis para tratamento. Diante da imagem, indicou perguntas a serem feitas: “A condição do paciente é reversível? Está na última fase? Por quanto tempo manter?” E ressaltou que, por exemplo, um idoso sofrendo, espera alívio e não alta tecnologia – “ele quer ser cuidado”. Para Filipe Gusman, “os cuidados paliativos devem começar quando a pessoa recebe o diagnóstico da doença ameaçadora da vida”.

O tema “O Cuidado Paliativo no hospital e no atendimento domiciliar” foi apresentado por Anelise Fonseca, médica, coordenadora do Núcleo de Cuidados Paliativos da Procare Saúde, que discutiu os cuidados paliativos no atendimento domiciliar e na internação hospitalar. Anelise Fonseca diferenciou os modelos e estruturas nos dois tipos, que, para ela, implicam em cuidado integrado e devem “estar inseridos na discussão diária dos médicos”. 

A médica Patricia Cristina Ferreira, diretora de Relações Empresariais e Medicina Preventiva da Geriatrics, apresentou o “hospice care”, com a palestra “O Cuidado Paliativo em unidade de hospice”. Citou a dinâmica que adaptou de Alexandre Kalache, em que pergunta a pessoas e ou grupos “com que idade acham que vão morrer, como será a morte (doença, acidente etc.), onde será (hospital, asilo, em casa etc.)”, entre outras indagações. Explicou que hospice é uma filosofia do cuidado, para aplicação de cuidados paliativos intensivos a pessoas com doenças em estado avançado e ameaçadoras da vida. Disse, ainda, que “a preferência das pessoas é por morrer em casa”.

Em seguida às apresentações, um debate com os palestrantes foi moderado por Lilian Hennemann, médica do Programa de tratamento da dor e cuidados paliativos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e por Kylza Estrella, Diretora Médica do Grupo Santa Celina. Entre os pontos discutidos, estavam a diferença da internação em casa e em hospital; os 10% das mortes ocorrerem de doença aguda e rápida, enquanto os demais morrem após doença prolongada; e a necessidade de que equipes de cuidados paliativos realizem um luto antecipado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Seminário Gestão do Cuidado na Atenção Domiciliar

A estratégia de desenvolvimento do tema do seminário começou pela indicação das diferenças entre “Atenção Domiciliar”, “Atendimento Domiciliar” e “Internação Domiciliar”.

<>A Atenção Domiciliar constitui-se de ações de promoção à saúde; prevenção e tratamento de doenças; e reabilitação; desenvolvidas em domicílio.

<>O Atendimento Domiciliar envolve o conjunto de atividades de caráter ambulatorial, programadas e continuadas, desenvolvidas em domicílio.

<>A Internação Domiciliar, em contraposição à internação hospitalar, consiste em atividades prestadas no domicílio, caracterizadas pela atenção em tempo integral ao paciente com quadro clínico mais complexo e com necessidade de tecnologia especializada.

A palestra do médico geriatra cearense, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), João Bastos Freire Neto, analisou a atenção domiciliar como ambiente de cuidado do idoso, considerando o que está disponível pelo Sistema Único de Saúde e pelo sub-sistema de Saúde Suplementar. Falou, ainda, sobre a formação e a demanda de profissionais capacitados em atenção à saúde da pessoa idosa, com ênfase na necessidade de esclarecer as pessoas sobre o que o geriatra faz e como atua.

Para João Bastos, a população idosa é “a principal usuária desse tipo de organização do sistema de saúde”, concebido para evitar a hospitalização; favorecer a desospitalização quando ela ocorre; treinar o paciente ou o cuidador frente às novas necessidades surgidas depois da alta; promover a adaptação e maior autonomia do paciente e de seus familiares; além de adequação e redução de custos sem perda de qualidade, prevenção precoce de complicações no domicílio e a volta do vínculo familiar e da rotina domiciliar. 

O cuidado implica a articulação de profissionais e ambientes, a adequação às necessidades de cada paciente e o uso de tecnologias (duras, leves-duras e leves), que, segundo João Bastos, se realiza por meio de “cuidados centrados no paciente, para ‘agir e tratar através dos olhos dos pacientes’”. João Bastos definiu as dimensões do cuidado como “profissional, sistêmica e organizacional”. Os elementos da dimensão profissional são a postura ética, competência e capacidade de vínculo. Na dimensão organizacional o médico descreveu como elementos importantes: o processo de trabalho, registro de informações e o relacionamento em equipe. Para a dimensão sistêmica: protocolos e normas, serviços de suporte e acesso a tecnologias.

O seminário “Gestão do Cuidado na Atenção Domiciliar” foi realizado no dia 12 de novembro de 2015, de 10h às 12h, no auditório do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento - Cepe (vinculado ao Instituto Vital Brazil), por iniciativa conjunta do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) com o Cepe.

O palestrante João Bastos, como é conhecido, é coordenador da Saúde da Pessoa Idosa na Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, primeiro representante do estado do Ceará a gerir a SBGG nacional. João Bastos presidiu a SBGG Ceará (SBGG-CE) de 2010 até assumir a presidência nacional para o período 2014-2016. Sua experiência clínica inclui idosos assistidos em domicílio (home care), saúde do idoso na atenção primária e gerenciamento de doentes crônicos, entre outros. Ele é especialista em Clínica Médica, Medicina de Família e Comunidade e Geriatria pela Associação Médica Brasileira (AMB).  

A partir da esquerda: Alexandre Kalache, João Bastos, Silvia Pereira e Débora Teixeira

Com moderação de Alexandre Kalache, presidente do ILC-BR e co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade, o debate teve a participação das médicas Débora Teixeira, representando Guilherme Wagner, superintendente da Atenção Primária, Subsecretaria de Atenção Primária, Vigilância e Promoção da Saúde (SUBPAV)/Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro; e Silvia Regina Mendes Pereira, geriatra, professora na Faculdade de Medicina da Universidade Estácio de Sá, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e membro do Conselho Consultivo do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR).

Presente ao seminário, o geriatra José Elias Pinheiro também contribuiu com uma fala especial e afirmou que “a atual e a próxima provável diretoria da SBGG estão alinhadas para dar continuidade a todos os projetos em curso e futuros”. José Elias apresentará candidatura para a próxima gestão da SBGG, período 2016-2018 e já interage com João Bastos para promover a continuidade.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Pela primeira vez envelhecimento é tema de evento

“Salzburg Global Seminar” atrai para a cidade de Salzburg, na Áustria, as personalidades de maior destaque em suas áreas de expertise. Ao longo de 65 anos, o evento vem reunindo lideranças para refletirem sobre soluções criativas para preocupações globais. Foram abordados diversos temas ao longo das décadas e somente este ano o envelhecimento foi incluído no debate, sob o título “O Envelhecimento das Sociedades – inovação e equidade” (Ageing Societies: advancing innovation and equity).

O “Salzburg Global Seminar” foi realizado de 1º a 5 de novembro, com o foco em três eixos: a economia do envelhecimento diante da sustentabilidade dos sistemas de bem-estar social; a força de trabalho, inovação e tecnologia; a sociedade e as famílias. A escolha do tema se baseou no aumento exponencial da população idosa e em seus reflexos de ordem demográfica, epidemiológica e social, que influenciam a demanda de cobertura pelos sistemas de proteção, os benefícios requeridos por esse grupo etário, os arranjos familiares e públicos de prestação de cuidado.

Photo: Salzburg Global Seminar/Ela Grieshaber
Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade, presidiu a edição do Seminário juntamente com Janice Chia, fundadora e diretora do Ageing Asia, de Singapura.

Em sua palestra de abertura, “Abordagem holística da sociedade que envelhece”, Kalache ilustrou as mudanças decorrentes da cada vez mais numerosa população idosa, ao contar que o bairro de Copacabana está muito diferente: “eu nasci em uma maternidade, em Copacabana, que é hoje um hospital geriátrico”. Além de abrir o Seminário, Kalache coordenou um grupo de trabalho, moderou um painel e está à frente da elaboração do relatório “Declaração de Salzburg”, que estabelece prioridades e recomendações destinadas a redes na área do envelhecimento.