Mais do que um tema, o III Fórum Internacional Longevidade apresentou um leque de possibilidades de aplicação do enfoque “Amigo do Idoso” em qualquer parte do mundo. Foram mostradas experiências de diversos países: África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Israel, Japão, Reino Unido, República Dominicana, Suécia, Suíça, Singapura. Entre os participantes estavam representados os regimes monárquicos do Reino Unido e da Suécia, que trouxeram seus relatos.
A Baronesa Sally Greengross, com o título concedido como reconhecimento de suas contribuições ao Reino Unido, expôs uma iniciativa que visa alcançar uma sociedade de envelhecimento sustentável (SOS - Sustainable Older Society), como resposta aos desafios da longevidade, clamando que o governo britânico seja mais ousado e corajoso em sua visão de “Saúde e em todas as políticas”.
Ludvig Mornesten, coordenador de equipe da organização parceira da Fundação Rainha Silvia da Suécia - Swedish Care Iternational (SCI) –, descreveu as atividades em prol de avanços na pesquisa e no cuidado da demência, de modo que se tornem disponíveis mundialmente. A proposta de sua palestra no III Fórum Internacional Longevidade foi “De iniciativas amigas dos idosos até iniciativas amigas da demência – criando uma sociedade melhor para todos”.
Consolidação conceitual
Já inserido na prática de muitos brasileiros – e do mundo –, o conceito de “Envelhecimento Ativo” orienta profissionais e interessados há mais de uma década e fez parte da palestra intitulada “Fundamentos das iniciativas amigas do idoso: O Marco Político do Envelhecimento Ativo em resposta à revolução da longevidade – lançamento da revisão”. Alexandre Kalache, do Centro Internacional de Longevidade Brasil, e Louise Plouffe, do Centro Internacional de Longevidade Canadá, falaram sobre “o projeto de renovar o conceito de 2002, ano da primeira edição que, por si só, já recomendava sua revisão e atualização”.
O “Envelhecimento Ativo: um marco político em resposta à Revolução da Longevidade”, de 2015, revisitou o que ficou conhecido como Marco Político do Envelhecimento Ativo (Active Ageing Framework), publicado em 2002 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As duas edições – 2002 e 2015 - tiveram a liderança de Alexandre Kalache, que à época da primeira edição era diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida, e atualmente é co-presidente da Aliança Global de International Longevity Centres (ILCs) e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR).
Para a revisão e atualização do Marco Político do Envelhecimento Ativo, após dez anos de sua existência, Alexandre Kalache propôs “que Louise Plouffe coordenasse uma pesquisa no Rio de Janeiro, que recebeu fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e apoio do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), do Instituto Vital Brazil”. Ina Voelcker, gerontóloga alemã, coordenadora técnica do ILC-BR, participou da pesquisa e da edição e produção editorial do relatório, elaborado em inglês e português e distribuído gratuitamente no Fórum.
Apresentada por Diego Bernardini, médico argentino, coordenador de projetos especiais do ILC-BR, a iniciativa "Atenção Primária à Saúde Amiga do Idoso" foi a primeira aplicação do enfoque amigo do idoso, em 2004. Segundo Diego, “a iniciativa foi estabelecida pela OMS como resposta à necessidade de sensibilizar e capacitar equipes de saúde e os diferentes níveis de atenção do próprio sistema de saúde, frente ao desafio que requer prestar serviços, atenção e cuidado a uma população crescente de adultos mais velhos”.
Como mais um seguimento do Marco Político do Envelhecimento Ativo, em 2007, para que o “Envelhecimento Ativo” se tornasse uma realidade, a OMS desenvolveu um instrumento de investigação (Protocolo de Vancouver) e realizou uma pesquisa geradora da publicação “Guia Global Cidade Amiga do Idoso” - adotada por mais de mil localidades participantes de uma rede global de cidades e comunidades amigas do idoso. Como desdobramento, consolidou-se uma estratégia de implementação do enfoque “Amigo do Idoso” aplicável a todo e qualquer aspecto da vida em sociedade, como unidades de saúde, praças, bairros, entre muitos outros.
A coordenadora técnica do ILC-BR, Ina Voelcker, apresentou o Protocolo do Rio, versão atualizada e contextualizada ao Brasil do Protocolo de Vancouver – o instrumento de investigação orientador da pesquisa recomendada para ações com o enfoque amigo do idoso.
Ao declarar que “no século XXI, serão vencedoras as empresas e os negócios amigáveis às pessoas idosas”, Michael Hodin enumerou “sete princípios que podem tornar um negócio amigo do idoso”: (1) um ambiente de trabalho propício ao envelhecimento; (2) contexto acolhedor; (3) cultura sensível ao envelhecimento; (4) favorecer a aprendizagem ao longo da vida e a participação social; (5) plano de investimento para períodos de trabalho mais longos; (6) apoio ao provimento de cuidado; (7) medidas de envelhecimento saudável. Michael Hodin é executivo da Coalizão Global para o Envelhecimento e membro do Conselho de Agenda Global do Envelhecimento do Fórum Econômico Mundial (WEF), EUA.
Considerando-se que o enfoque amigo do idoso se baseia em oportunidades para saúde, participação, segurança e aprendizagem ao longo da vida, a “Promoção de Saúde na Velhice” - como momento para reativar a agenda de prevenção-, foi foco da palestra de Adriana Selwyn, do Grupo Vitality (EUA). Entre as recomendações de promoção da saúde a serem seguidas durante o curso de vida, estavam a redução de riscos que afetam a longevidade; a observação da diferença de necessidades de promoção e prevenção entre pessoas idosas e adultos de outros grupos etários; o adiamento da diminuição da capacidade funcional, de multimorbidades, doenças crônicas não transmissíveis, fragilidades, demência e depressão, para citar apenas algumas condições clínicas.
Casos
Comunidades, cidades e estados Amigos do Idoso avançam pelo mundo, por exemplo, no Canadá, Espanha, Austrália, Brasil e Argentina. O III Fórum Internacional Longevidade trouxe experts desses países e uma expert brasileira que descreveu o caso do Estado de São Paulo.
A cidade de Nova York Amiga do Idoso se desdobra em novos projetos com ênfase em implantação de programas em empresas para a valorização do profissional sênior, conforme exposição de Ruth Finkelstein, da Columbia University e diretora do ILC-EUA.
O Brasil também se volta para a área de Recursos Humanos, com estudos sobre a força de trabalho acima dos 60 anos, aposentadoria, previdência e reconhecimento da experiência de profissionais mais velhos. Presente ao Fórum e ativamente participante de iniciativas relacionadas a longevidade, a Associação Brasileira de Recursos Humanos.
Sobre “negócios amigos do idoso”, foram apresentados casos de empresas e organizações brasileiras envolvidas com ações para o envelhecimento, inclusive a patrocinadora do Fórum – Bradesco Seguros.
Duas universidades brasileiras mostraram suas estratégias para se tornarem amigas do idoso e organizações não governamentais de abrangência internacional e nacional indicaram suas atividades indicativas do importante papel que representam.
Panorama dos Centros Internacionais de Longevidade (ILCs) - 14 iniciativas
A Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade contribuiu para que se visualizasse um quadro de iniciativas desenvolvidas nos 14 países participantes do Fórum, organizadas segundo quatro pilares do envelhecimento ativo: saúde, aprendizagem ao logo da vida, participação e proteção.
Diferentes culturas, distintas economias, diversidade de desafios... assim foi traçado o panorama global.
Memorial Robert Butler: Reflexões sobre o que é “amigo do idoso”
Para encerrar o Fórum, Alexandre Kalache considerou Ligia Py como a escolha acertada para a Conferência Magna ‘Robert Butler Memorial Lecture’ – “por ser uma dama, sensível e doce pessoa”, ideal para uma homenagem a Robert Butler (1927-2010), psiquiatra e gerontólogo, fundador do Centro Internacional de Longevidade dos Estados Unidos da América (ILC-EUA), em 1990 – o primeiro ILC do consórcio agora integrado por 17 países. Bob Butler, assim conhecido por seus pares, dirigiu o ILC-EUA durante 20 anos, dedicado à defesa dos direitos das pessoas idosas por meio de pesquisa e ações sociais. Sua visão do envelhecimento produtivo afirmava que o trabalho pode ser gratificante até o fim da vida. Ele mesmo trabalhava 60 horas por semana até os 83 anos.
Como se “puxasse um fio de pensamento”, a reflexão de Ligia Py começou com o mito da imortalidade dos deuses, que remete à nossa mortalidade, às incertezas sobre o envelhecimento e o futuro e a conquista da longevidade como o “triunfo da solidariedade”.
Para Ligia Py, a expressão “amigo do idoso” (age-friendly) está vinculada à origem da palavra “friend” no inglês antingo Freond, que significa “amar”. Ligia Py é psicóloga, mestre em Psicossociologia e doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da UFRJ. Especialista em Gerontologia titulada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Mais sobre o III Fórum Internacional de Longevidade
O Centro Internacional de Longevidade vai produzir os anais do Fórum, que estarão disponíveis em meados de dezembro, em seus endereços na internet:
Facebook: https://www.facebook.com/ilcBR
Twitter: @ilcbrazil
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