sexta-feira, 19 de julho de 2013

Aumento de prescrições de benzodiazepínico no Canadá revela medicalização do envelhecimento

A prescrição de ansiolíticos se tornou uma prática comum, em especial, no que se refere a pessoas idosas, para a redução imediata dos sintomas da ansiedade ou da insônia, sem resolver o problema original. E, diz a pesquisadora canadense, Dra. Guilhème Pérodeu, “ainda que os usuários e os profissionais de saúde considerem negativo o uso prolongado do benzodiazepínico (BZD), eles não lançam mão de alternativas”.
 
O seminário “Uma perspectiva sistemática sobre a medicalização do envelhecimento: o caso de benzodiazepínico (BZD)” trouxe ao Rio a alta expertise da pesquisadora canadense, Dra. Guilhème Pérodeu, no dia 16 de julho, terça-feira, de 09:30 às 12:00, em promoção conjunta do Centro Internacional de Longevidade (ILC-BR) e do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE). Realizado no auditório do CEPE (Avenida Padre Leonel Franca, 248, Gávea, Rio de Janeiro), o seminário teve mediação do médico e gerontólogo, Alexandre Kalache, presidente do ILC-BR, e debate com as  pesquisadoras Suely Rozenfeld (ENSP/Fiocruz) e Louise Plouffe (ILC-BR).
 
A Dra. Guilhème Pérodeau discutiu as implicações para políticas de saúde e para a prática clínica dos resultados de um estudo qualitativo sobre o uso de benzodiazepínico que contrastou as atitudes de 9 médicos prescritores, 11 farmacêuticos, 7 pessoas-chave e 23 usuários de longo prazo do medicamento, que tinham 50 anos e mais. O estudo foi realizado no Canadá, com o olhar nos fatores individuais, interpessoais e sociais, que contribuem para as questões sobre medicalização do envelhecimento.
 
Segundo Guilhème Pérodeau, o uso dessa droga psicotrópica para sintomas de ansiedade e insônia deve ser encarado como um fenômeno social, mais especificamente como um meio de “medicalizar” o envelhecimento normal. “Em outras palavras, o BZD é uma ‘prescrição rápida’ para o que é de fato uma questão de saúde complexa, inerente à experiência de vida e ao sentido atribuído ao fato de se ser idoso na sociedade atual. É a isso que chamamos de ‘medicalização do envelhecimento’”.
 
A brilhante apresentação da pesquisadora recomendou que a intervenção seja baseada nos seguintes pontos: (a) As atitudes individuais e a percepção dos sintomas de ansiedade e insônia devem considerar as representações do processo de envelhecimento em uma sociedade que valoriza a juventude e o imediatismo. (b) Mudanças na atitude pública em relação ao uso prolongado de psicotrópicos e questionamento de sua legitimidade, especialmente, na ausência de intervenção psicológica. (c) Transformação da visão social sobre o envelhecimento.
No debate, partir da esquerda: Alexandre Kalache, Guilhème Pérodeau, Louise Plouffe e Suely Rozenfeld.
 
Em suas considerações, a pesquisadora Suely Rozenfeld destacou a importância de que a solução para o excesso de prescrições leve em conta o contexto multicausal e indicou o site do Proqualis como fonte de informação sobre a abordagem multifatorial de eventos adversos com medicamentos.
 
Sobre contribuições na área de políticas públicas, Louise Plouffe analisou o problema como antigo - evidenciado na década de 1980 - e sugeriu quatro pontos de enfrentamento: elaboração de diretrizes clínicas orientadoras da prescrição de ansiolíticos; inclusão de agenda específica em programas para dependentes; inserção do tema no currículo de formação médica; desenvolvimento de iniciativas para mudar a prática.
A partir da esquerda: Alexandre Kalache, Guilhème Pérodeau, Louise Plouffe, Suely Rozenfeld e o Diretor do CEPE, Roberto Magalhães.
 
O seminário foi o sexto evento do ciclo “Inovações em Políticas Públicas sobre Envelhecimento”, que já apresentou a Proposta do Chile para uma Política Nacional para Alzheimer e outras demências (21 de fevereiro); Cidade de Nova Iorque Amiga do Idoso (26 de fevereiro); Estado de São Paulo Amigo do Idoso (26 de março); As políticas públicas do envelhecimento no Canadá (30 de abril) e Qual é o papel das evidências na formulação de políticas públicas do envelhecimento? (16 de maio).

Para solicitar a apresentação feita neste Seminário, assim como nos demais, enviar email para ilcbrazil2012@gmail.com.
 
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O Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brazil) é uma organização filiada à rede global de International Longevity Centers (ILCs), instituídos como “usinas de idéias” (think tanks) para políticas públicas intersetoriais voltadas ao envelhecimento populacional. Como espaço autônomo de ideias, se destina à produção do conhecimento, troca de informações, mobilização social e relações internacionais sobre os temas da longevidade e do envelhecimento. Atua em parceria com o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), do Instituto Vital Brazil.

terça-feira, 2 de julho de 2013

A moradia de pessoas idosas no mundo: quais são as práticas boas?

Os fatores relacionados ao lugar de moradia do idoso variam de acordo com o país pesquisado e com as condições culturais e socioeconômicas das pessoas idosas em cada país. A Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (International Longevity Centers Global Alliance) publicou o documento resultante do texto de discussão (discussion paper) sobre a moradia dos idosos em 10 países, coordenado por Monica Ferreira, co-presidenta da Aliança Global. O relatório é baseado em análises de políticas públicas e boas práticas pesquisadas por dez International Longevity Centers (ILCs); todos acessíveis no site da Aliança Global.
 
A produção de discussion papers é uma iniciativa sistemática dos ILCs, constituídos como Think Tanks – “órgãos pensantes” que promovem o debate e propõem o tipo de política necessária para a área de envelhecimento. A difusão dos achados pela Aliança Global em seu site (e-dialogue) visa garantir o debate e agregar contribuições a serem incorporadas ao documento.
 
O texto sobre moradia foi gerado por pesquisa realizada em seis países mais desenvolvidos e quatro países menos desenvolvidos e abrangeu dois tipos de moradia: (1) moradia geral que abrange domicílios comuns, próprios e alugados por pessoas idosas e (2) moradia especial em asilos, casas de repouso e outros.
 
Em todos os países, mais de 80 por cento da população idosa moram em domicílios comuns. No Brasil, a maioria dos idosos mora em domicílios comuns com membros da família. Em comparação a outros países, há uma parte menor de pessoas morando sozinhas e a maioria vive em casas, seguida de 9,2 por cento em apartamentos. Menos de um por cento dos idosos brasileiros vivem em instituições. Isso é em parte influenciado pela preferência dos idosos a permanecer nas suas casas, mas também pelo baixo número de instituições.
 
Um mercado crescente na área de adaptação de casas é um dos resultados da tendência de permanecer na própria casa. Enquanto alguns países relataram tecnologias de informática que previnem a perda da autonomia, outros falaram sobre a acessibilidade física, por exemplo, em termos de portas mais largas. O relatório ressalta ainda o largo potencial para o crescimento nessa área.
 
Outro achado mostra que, em todos os países, faltam opções de moradias especiais para idosos de baixa renda. Em muitos países essas moradias são um luxo e assim inacessível para a maioria dos idosos. Vale mencionar, talvez como uma exceção, que o Estado de São Paulo se comprometeu a construir sete por cento das casas de acordo com as regras do desenho universal e tem o Programa Vila Dignidade, instituído pelo Decreto n.o 54.285, de abril de 2009, para oferecer atendimento aos idosos de baixa renda.
 
O relatório conclui que não há uma solução perfeita para a moradia de idosos. As soluções variam de acordo com as necessidades culturais e socioeconômicas de pessoas idosas em cada país. Para entender melhor quais são as possíveis soluções em contextos diferentes, a Aliança Global convida ao compartilhamento de bons exemplos e experiências no desenvolvimento de soluções que garantam uma moradia fisicamente e financialmente acessível: http://blog.ilcuk.org.uk/2013/05/22/housing-for-older-people-globally-what-are-the-best-practices-an-ilc-global-alliance-e-dialogue/

Elaboração de Ina Voelcker em colaboração com Louise Plouffe e Silvia Costa