A análise da longevidade como questão do campo da economia coloca em evidência os fatos surgidos a partir do alongamento da vida humana e favorece sua discussão sob o ponto de vista das práticas sociais e da agenda das políticas públicas voltadas ao envelhecimento populacional. Esse enfoque norteou o debate conduzido pelo Grupo Bradesco Seguros, no dia 27 de novembro, durante o VII Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, no Hotel Transamérica, em São Paulo. O tema “Economia da Longevidade” delineou um panorama das relações sociais, desde os dados sobre a população idosa até o exemplo do “bom viver” expresso em pessoas emblemáticas em suas áreas de atividade, aos 70 e aos 90 anos.
Atuou como mediador em discussões dessa edição do Fórum, o médico gerontologista Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brazil) e consultor do Grupo Bradesco Seguros - desde que foi palestrante em 2006, quando realizado o I Fórum da Longevidade, em iniciativa pioneira. O Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brazil) é parceiro do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), vinculado ao Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro. Além de presidir o ILC-Brazil, Kalache é consultor sênior sobre Envelhecimento Global da Academia de Medicina de Nova York (The New York Academy of Medicine) e foi diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Conferência internacional sobre o tema
“Desafios do Envelhecimento Populacional no Brasil e no Mundo” foi o tema do professor de Economia da Universidade de Harvard e demógrafo, David E. Bloom, em palestra organizada em três partes: elementos básicos do processo de envelhecimento, natureza das preocupações e o não determinismo demográfico. O Professor Bloom mostrou as mudanças das faixas etárias ilustradas pelos formatos das pirâmides de dados populacionais, em gráficos de diferentes décadas, que vão de 1950 até 2050. Na primeira década, a população jovem era maior e a quantidade de pessoas acima de 60 anos era muito menor. A cada década, a proporção muda e altera o desenho dos gráficos.
Segundo Bloom, tal panorama influencia, entre outras, as áreas da saúde, da previdência social, da educação dos profissionais de saúde e da assistência social. A amplitude do problema vem gerando visões alarmistas em alguns segmentos da sociedade que identificam relações de causa e efeito entre o quadro demográfico e a vida social. Porém, David Bloom afirma que não há determinismo demográfico, tendo em vista as formas de enfrentamento dos desafios: reflexos comportamentais, políticos e nas práticas dos negócios, com investimentos em setores estratégicos para o envelhecimento e iniciativas destinadas aos múltiplos interlocutores do campo da longevidade.
Um painel sobre o tema no Brasil
O palestrante Jorge Félix, jornalista e mestre em Economia pela PUC, com tese sobre o tema que dá nome ao Fórum, falou sobre a Economia da Longevidade. Para Félix, autor do livro "Viver muito" (Editora Leya), o envelhecimento da população é o “pano de fundo da crise econômica vivida hoje”, que requer políticas públicas específicas para atender a uma nova dinâmica populacional. Félix contrapôs a necessidade de profissionais qualificados para o cuidado dos idosos à meta não cumprida do Ministério da Saúde para 2011, de formar 65 mil cuidadores por meio do Programa Nacional de Formação de Cuidadores de Idosos. O Programa diplomou apenas 1.500 profissionais. Para cada desafio da Economia da Longevidade, Jorge Félix apresentou uma agenda, como, por exemplo, a cultura da aposentadoria cedo pode ser modificada pelo estímulo às empresas para manutenção do profissional por um tempo maior.
Especialista em consumo de varejo e bens de serviço e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Claudio Felisoni falou sobre “Consumo na Terceira Idade”, abordando cenário econômico e consumo; crescimento da população idosa; especificidade do consumo nessa população; e turismo para o idoso – “já que o Fórum trata de vitalidade e mais vida, obviamente isso se aplica ao lazer”. Ao discorrer sobre as transformações que impactaram a sociedade com o advento das novas tecnologias, Felisoni fez um paralelo entre o comércio tradicional e o “e-commerce” e afirmou que a internet é usada pelos idosos para compras e para interações. Entretanto, segundo Felisoni, a inclusão digital do idoso se restringe à classe A. Entre as características de consumo da Terceira Idade, o especialista destaca a preferência pelas viagens em grupos heterogêneos, com a percepção de que o idoso prefere o convívio intergeracional.
Protássio Lemos da Luz, médico cardiologista do Instituto do Coração (Incor), membro da Academia Brasileira de Ciências e diretor do Departamento de Cardiopneumologia da Faculdade de Medicina da USP, discutiu as dimensões da longevidade “Da prevenção ao tratamento: impacto econômico na saúde dos longevos”. O início de sua exposição provocou risos na plateia com a afirmação de que “velhice não é problema, especialmente para quem não chegou lá”. Protássio Lemos analisou a influência do avanço tecnológico nos processos diagnósticos atuais, não existentes anteriormente, que aceleram a identificação de doenças por meio de exames de imagem e de procedimentos não invasivos e diminuem a duração da hospitalização. Autor do livro “Nem só de ciência se faz a cura”, Protássio Lemos considera que há vantagens e desvantagens no uso das tecnologias em saúde, entre elas o excesso de diagnóstico – que resulta em intervenções desnecessárias -, e o suporte artificial da vida – que “faz com que seja mais difícil morrer nos dias de hoje”.
Mara Luquet, jornalista especializada em aposentadoria e planejamento financeiro, apresentou suas recomendações sobre “Como chegar aos 100 anos sem quebrar” e explicou ser uma jornalista financeira e não uma economista, em razão das coberturas que vem realizando sobre inflação, juros, crise da dívida externa brasileira e sobre o aumento da expectativa de vida. A reportagem sobre longevidade despertou sua atenção para o fato de que “viver muito custa caro” e para a importância da preparação de cada um para essa fase da vida. A jornalista expressou sua admiração por Alexandre Kalache, que foi pessoa chave em sua aprendizagem. Em especial, Mara Luquet ressaltou a importância do papel da mulher na economia familiar. Destacou, ainda, que, além de vivermos uma revolução da longevidade, estamos vivendo uma revolução da redução da taxa de juros, o que demanda o planejamento do futuro, da aposentadoria e “de quem vai cuidar de você!”.
Consolidação do painel
Em formato de Talk Show, o debate conduzido por Alexandre Kalache reuniu os especialistas Claudio Felisoni, Protássio Lemos e Mara Luquet, para articulação dos pontos de vista sobre o tema. Todas as contribuições confluíram para a relevância da qualidade de vida para a economia da longevidade, seja por meio das estratégias de consumo disponíveis para a terceira idade, das ferramentas tecnológicas que beneficiam a saúde ou dos recursos financeiros garantidores do cuidado na velhice. A fala dos especialistas ocupou toda a manhã do Fórum de Longevidade e a tarde foi reservada para a emoção.
Estrelas da longevidade
A atriz e cantora, Bibi Ferreira, de 90 anos, trouxe para o Fórum da Longevidade um pocket show do espetáculo intitulado “Bibi, Histórias e Canções”, juntamente com os músicos que sempre a acompanham. Bibi agradeceu o convite para participar do Fórum e disse que muita gente parece ser indiferente à longevidade, mas todos querem “chegar lá”. Sua apresentação impressionou pelo vigor de seu canto, de sua linda voz e da força com que conta as histórias associadas a cada música. Celebrou a saúde que tem e que é responsável pela sua capacidade de trabalhar.
Os participantes do Fórum foram invadidos pela emoção provocada pelo pout-pourri de músicas do repertório de Elizete Cardoso cantadas por Bibi. Depois, a história de sua vida com Paulo Pontes e sua interpretação de Gota D’Água. Então, Bibi contou que hesitou em cantar músicas de Edith Piaf logo após a peça, que era uma tragédia, para evitar continuar cantando a tristeza. Por essa razão, adiou o espetáculo sobre Piaf, realizado anos depois – e brindou o Fórum da Longevidade com suas canções. O encerramento ficou por conta de “Conversa de Botequim”, de Noel Rosa.
Jane Fonda
O depoimento de Jane Fonda sobre a longevidade misturou o caráter pessoal e a experiência embasada por experts. O relato de experiência se revestiu daquela sinceridade de quem não se esconde dos outros e oferece sua vida como um acontecimento que pode servir de referência para quem quer ouvi-la. Jane Fonda não poupou o interlocutor dos detalhes que poderiam ser tabu, como o suicídio de sua mãe. Esse episódio de sua vida foi motivo de sofrimento até que trouxe uma informação libertadora. O que Jane Fonda pareceu querer mostrar com isso é que devemos todos cultivar a perspectiva positiva da vida.
Jane rejeita essa organização da trajetória humana por entender que a aprendizagem ocorre ao longo da vida, com potencial para fortalecer a inteligência e a alma. Assim, ao invés de representar a vida em forma de “Arco”, constituído por uma curva ascendente, um auge e um declínio até a morte, Jane Fonda propõe que se veja a trajetória como uma “Escada”, que não é puramente biológica - como o Arco, mas uma imagem integradora das dimensões humanas em suas capacidades de “evolução e ascensão contínuas”.
Alexandre Kalache entrevista Jane Fonda
Uma longa troca de informações se desenvolveu na entrevista que colocou frente a frente duas pessoas dedicadas aos temas da longevidade de forma densa e apaixonada. Alexandre Kalache perguntou a Jane sobre a discriminação por idade, do inglês "Ageism", e a atriz fez questão de que a plateia entendesse o significado da palavra - sempre atenta às reações de público. Jane contou como a discriminação ocorre em seu país e que atribui a atitude ao medo de enfrentamento da morte. Ela expôs seu ponto de vista sobre a revolução da longevidade e os diversos setores em que impacta, acreditando que, em vista de sua profissão, tenha um papel cultural junto à sociedade. Entre muitos outros temas, aderiu à proposta de Kalache de criar um novo termo para o que hoje é conhecido como terceira idade: gerotolescência. Kalache vem discutindo a denominação para a fase de transição semelhante à adolescência no que diz respeito às mudanças vividas pelo ser humano, o gerotolescente.
Alexandre Kalache entrevista Jane Fonda
Continuidade do Fórum da Longevidade
No encerramento do evento, Lúcio Flávio de Oliveira, Diretor-Presidente da Bradesco Vida e Previdência, empresa integrante do Grupo Bradesco Seguros, agradeceu a presença dos convidados e reafirmou que “o objetivo do fórum é estimular ainda mais o debate em torno da longevidade, de modo que a sociedade possa se preparar melhor para esta nova realidade.”
Nesse momento, Bibi Ferreira voltou ao palco para declarar sua admiração a Jane Fonda, sob forte emoção, estendida a todos os presentes. Bibi teve o apoio de Alexandre Kalache que traduziu sua fala para Jane Fonda.
Repórteres, fotógrafos e participantes do Fórum se aproximaram do palco para acompanhar as homenagens finais às estrelas.
Lançamento de livro de Jane Fonda
Entre os compromissos de Jane Fonda no Brasil, depois do Fórum da Longevidade em São Paulo , o lançamento de seu livro no Rio de Janeiro foi bastante concorrido.
Intitulado “O melhor momento: aproveitando ao máximo toda a sua vida”, o livro registra impressões de Jane Fonda sobre a longevidade, de forma bem fundamentada e combinada a opiniões pessoais. Inquieta e curiosa sobre a vida, a autora realizou pesquisa sobre os temas que aborda, consultou especialistas e usou sua própria trajetória como subsídio. O mergulho fundo em seu passado reuniu muitos elementos que Jane Fonda fez questão de revelar, sem reservas.
Fotos de acervo do Centro Internacional de Longevidade.