O ponto de partida do debate sobre violência foi um esquete teatral sobre a convivência de uma família com o idoso que mora na mesma casa. Interpretada pelo grupo “Voz que Clama”, a dramatização “A Tigela de Madeira”, dirigida por Ednira Martins, colocou em cena as questões vivenciadas por quem sofre violência e por quem a pratica.
A presença maciça dos profissionais envolvidos com a suspeita de atos de violência contra a pessoa idosa ou com a denúncia desse tipo de crime mostra o interesse por esse assunto complexo, controverso e socialmente interdito. Com o auditório cheio, o seminário “Violência contra a pessoa idosa: buscando soluções” foi realizado no dia 5 de junho, no Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe) do Instituto Vital Brazil.
As situações do cotidiano dramatizadas pelo esquete abrangiam desde a visão acerca da redução da funcionalidade – geradora de críticas ao idoso – até a apropriação da renda desse idoso pelos membros da família – considerada como um retorno justo pelo cuidado prestado, que, nesse caso, era um cuidado sonegado. Estava presente na peça teatral todo o repertório de violência subliminar, de intolerância, discriminação, exploração financeira, alto custo das instituições de longa permanência, isolamento social, declínio da cognição, co-habitação, presença do idoso como um estorvo. O desfecho da história é positivo, baseado na conscientização da família surgida por meio da criança e de sua visão de mundo. Se os pais tratam o avô daquela forma, a menina propõe o mesmo para eles e então os desperta para suas atitudes.
Os palestrantes convidados para o seminário representavam setores de proteção ao idoso, como Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Idosa, Associação de Cuidadores das Pessoas Idosas, Promotoria do Idoso/Ministério Público, e organizações de pesquisa e políticas, como o Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR).
A partir da esquerda: Sandra Rabelo, Cristiane Branquinho, Elizabeth Labruna, Luis Philippe Barroso e Marcela Lobo de Castro.
Sobre o tema “Lidando com a Violência - O papel institucional”, Sandra Rabelo apresentou o Conselho Estadual de Defesa de Direitos da Pessoa Idosa (CEDEPI); Elizabeth Labruna e Luis Philippe Barroso, ambos da Equipe Saúde da Família do Centro Municipal de Saúde Albert Sabin, descreveram as medidas de enfretamento dessas questões em seu território na comunidade da Rocinha; e Marcela Lobo de Castro expôs as ações da Promotoria do Idoso/Ministério Público. A Dra. Cristiane Branquinho participou da mesa de debate.
Para discutir “A Promoção do Cuidado na Prevenção da Violência”, participaram Anna Lucia Alves - ACIERJ /Associação dos Cuidadores da Pessoa Idosa do RJ; Maria Aparecida Guimarães - APAZ /Associação de Parentes e Amigos de Pessoas com Alzheimer e Maria de Lourdes Braz, do centro-dia Casa de Santana.
A última exposição, “Buscando Soluções – as melhores práticas para a detecção de maus tratos contra a Pessoa Idosa”, de Louise Plouffe, coordenadora de pesquisa do Centro Internacional de Longevidade Brasil, trouxe para o contexto brasileiro a estratégia canadense usada para a detecção de violência contra idosos.
Mesa na parte da tarde, a partir da esquerda: Maria de Lourdes Braz, Louise Plouffe, Luiza Machado (coordenadora geral do Seminário), Anna Lucia Alves e Maria Aparecida Guimarães.
Louise Plouffe apresentou três instrumentos desenvolvidos pela Iniciativa Nacional para os Cuidados da Pessoa Idosa (NICE – National Initiative on the Care of the Elderly), destinados aos profissionais de saúde e das práticas sociais envolvidos com a detecção de violência ou a confirmação de suspeita. São esses profissionais das equipes da Atenção Primária e cuidadores de idosos – familiares ou contratados.
Para os médicos, o instrumento é o “Índice de suspeita de maus-tratos a idosos” (Elder Abuse Suspicion Index - EASI). Para Cuidadores de Idosos: “Rastreamento de maus-tratos do cuidador” (Caregiver Abuse Screen - CASE) e para as equipes, “Indicadores de maus-tratos” (Indicators of Abuse Screen - IOA). A inserção desses instrumentos no Brasil está sendo mediada pelo Centro Internacional de Longevidade Brasil, para sua adaptação ao contexto específico brasileiro e implementação.